A novela continua ... O AUTISMO...(do blog)...
Os tratamentos
de câncer, lúpus e até mesmo a fertilização in vitro apresentaram erros ao
serem retratados na novela Amor à Vida.
Desde maio de
2013, alguns dos assuntos que mais têm caído na boca dos brasileiros são
doenças. Tudo por causa da novela Amor à Vida, escrita por Walcyr Carrasco e
exibida na Rede Globo no horário das 21h. A trama se passa em grande parte do
tempo dentro de um hospital em São Paulo, o San Magno, e grande parte dos
personagens são médicos, enfermeiros ou mesmo executivos dessa instituição.
E com tantas
cenas passadas dentro do ambiente hospitalar, diversas questões de saúde foram
citadas, como lúpus, câncer, AIDS, cegueira, adoção de dietas não saudáveis,
entre outros... Porém, muitas vezes em nome do enredo, algumas informações a
respeito de doenças acabam não retratando fielmente a realidade, ou passando
uma impressão errônea. Por isso, separamos alguns deslizes e até mesmo erros
médicos mostrados na novela.
O lúpus da Paulinha
A personagem
Paulinha (Klara Castanho) foi diagnosticada com lúpus, doença autoimune que
ataca pele, as articulações, os rins, o cérebro e outros órgãos, normalmente a
doença é caracterizada por manchas na pele e dores e edemas nas articulações.
Quando ela foi diagnosticada, o quadro estava descontrolado e ela logo teve que
fazer um transplante de fígado. Porém, de acordo com a reumatologista Ieda
Laurindo, do Hospital das Clínicas, um transplante não seria necessário.
"O lúpus acomete o fígado com certa frequência (cerca de 20 a 50% dos
casos), mas de forma subclínica, ou seja, aparecem alterações nos exames do
fígado, apenas nas enzimas que ele produz, mas o paciente não apresenta
sintomas", explica a especialista. "Não há na literatura médica casos
de transplante de fígado devido ao lúpus, apenas um caso de uma criança, que
tinha também uma hepatite autoimune associada, o que justifica o
procedimento", conclui a reumatologista.
Linda (Bruna
Linzmeyer) e Rafael (Rainer Cadete) - Créditos: Globo/Divulgação
O autismo da Linda
A personagem
Linda (Bruna Linzmeyer) tem sido importante para mostrar na novela como o
autista pode ter possibilidades como qualquer outra pessoa. O problema é que a
novela não levou em consideração que existem graus de autismo, e a personagem
não parece se encaixar em muitos deles. "Ao que parece, o grau de
habilidade de lidar com situações e linguagem da personagem muda conforme as
cenas: em algumas ela parece ter um desenvolvimento muito atrasado, em outras
parece mais avançado e, depois ela volta a ficar como antes. Não é assim que um
autista se desenvolve", avalia a psicóloga Ana Arantes, mestre em Educação
Especial e doutora em Comportamento e Cognição.
Pelo histórico
da personagem, que nunca foi à escola e também foi educada rigidamente pela
mãe, sem oportunidades de se desenvolver, seria muito difícil ela de repente se
desenvolver e progredir. "Poderia-se dizer que Linda, partindo de um
estágio de autismo moderado-grave, rapidamente queimou etapas chegando ao final
da novela como autista leve, algo que é ilusório", comenta a psiquiatra
Evelyn Vinocur, pós-graduada em pediatria e especialista em psiquiatria
clínica.
No geral, é
importante que o autista seja diagnosticado o mais cedo possível, para que com
o tratamento adequado ele seja estimulado de forma correta, de acordo com o
grau de seu quadro, e possa ser inserido na sociedade. "O cuidado é
multidisciplinar, e envolve desde psicólogos e psiquiatras até fonoaudiólogos,
terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas", considera a psicóloga Ana. Com
isso, o autista pode frequentar a escola, aprender coisas novas e conviver com
outras pessoas.
Outra questão
que a novela polemizou foi a questão de relacionamentos para autistas, já que
Linda está vivendo uma história de amor com o advogado Rafael (Rainer Cadete).
Quem tem grau leve de autismo pode sim lidar bem com a sexualidade e romance.
Porém não é possível determinar o grau de Linda, tudo indica que ela tenha um
grau severo de autismo, e isso inviabilizaria qualquer chance de um romance
acontecer.
Fertilização in vitro de Niko, Eron e Amarilys
Amarilys (Danielle Winits), Eron (Marcelo Antony) e Niko (Thiago Fragoso) - Créditos: Globo/Divulgação |
O casal gay
Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcelo Anthony), sonhava em ter um filho. Eles
decidiram fazer uma fertilização in vitro, mas alguém precisava gestar a
criança. Niko então chamou sua amiga de infância Amarilys (Danielle Winits)
para ser a barriga solidária. O problema é que as leis para esse tipo
procedimento são muito rígidas. "O útero de substituição ou 'barriga
solidária' é autorizado para parentes de até quarto grau, e em situações que
não há tal parente, é obrigatória uma autorização ao Conselho Regional de
Medicina (CRM)", expõe o ginecologista e obstetra Alfonso Massaguer,
especialista em reprodução humana. De acordo com a resolução CFM Nº 2013/2013,
podem gestar a criança apenas a mãe, irmãs, tias, avós ou primas de um dos
membros do casal. E, ao que parece, não houve nenhuma espera de notificação ao
CRM antes de Amarilys receber o primeiro óvulo.
Outro erro
grave feito na novela foi o uso dos óvulos de Amarilys, mas isso realmente foi
feito ilegalmente pela personagem, em parceria com o médico. "É
estabelecido que se usem óvulos de uma doadora anônima, para não haver brigas
sobre a maternidade ao fim do processo", ensina Massaguer. O que realmente
aconteceu na novela, já que Amarilys quis alegar que o filho era dela.
Linfoma de Hodgkin da Nicole
Thales (Ricardo Tozzi) está de saída. Vinícius pergunta como Nicole (Marina Ruy Barbosa) está se sentindo - Créditos: Globo/Divulgação |
Logo no inicio
da trama, a personagem Nicole (Marina Ruy Barbosa) começou a apresentar manchas
na pele e a se tratar com um oncologista. A aposta dos telespectadores foi de
que ela tivesse um câncer de pele, mas ela foi diagnosticada com linfoma de
Hodgkin, tumor que se localiza nos glânglios linfáticos, como os presentes no
pescoço. É raro, mas o problema pode sim se manifestar na pele. "Mas para
atingir a pele com manchas, teria que ser um fase bem avançada do tumor",
pondera o oncologista clínico Vladimir Cordeiro de Lima, do AC Camargo Cancer
Center. Na vida real, antes de chegar nessa fase o paciente já teria mostrado
outros sinais clássicos da doença que iriam inclusive permitir o diagnóstico
precoce. "O normal é o paciente apresentar sintomas mais comuns como o
inchaço do glânglios linfático em 70% dos casos, e pode ter também perda de
peso, sudorese excessiva, febre persistente, fadiga, entre outros
sintomas", explica o oncologista.
Mas a parte
mais grave foi o prognóstico do médico de que Nicole teria pouco mais do que
seis meses de vida, passando uma ideia errônea sobre as chances de cura desse
tipo de câncer. O linfoma de Hodgkin é considerado um dos tipos mais curáveis
de câncer, principalmente se for diagnosticado e tratado a tempo. Diferentemente
de outros tipos de câncer, a doença de Hodgkin muitas vezes pode ser curada
mesmo em estágios mais avançados. "O linfoma de hodgkin tem agressividade
intermediária, pois se desenvolve rapidamente, mas seu prognóstico na maioria
dos casos é favorável: a taxa de cura é muito alta", considera o
especialista. Porém, não foi isso que ocorreu com a personagem, já que ela
faleceu em decorrência do tumor algum tempo depois do diagnóstico.
Tratamento de choque aplicado em Paloma
Paloma (Paolla Oliveira) apática. César (Antonio Fagundes) se aproxima com a diretora - Créditos: Globo/Divulgação |
Em meio às
reviravoltas do enredo, a personagem Paloma (Paolla Oliveira) foi internada
pelo próprio irmão Félix (Matheus Solano) em uma clínica psiquiátrica
considerada mais radical. Ela foi falsamente diagnosticada, e a médica
responsável pela instituição lhe receitou tratamento com choques elétricos,
extremamente dolorosos (a cena foi marcada pelos gritos da personagem). De
acordo com o psiquiatra Hewdy Lobo, diretor do Vida Mental, isso não retrata a
realidade desse tipo de tratamento, chamado de eletroconvulsoterapia.
"Quando possui indicação para ser realizado, esse procedimento ocorre em
centro cirúrgico com a presença tanto do médico anestesista quanto do médico psiquiatra,
que realiza a eletroconvulsoterapia", explica o especialista.
Normalmente
ela é usada em pacientes que não podem usar medicamentos, como idosos em
depressão grave, gestantes com problemas psíquicos, pacientes com psicoses...
Também pode ser uma indicação quando a medicação não está trazendo resultados,
e o paciente tem risco de suicídio, agressão ou desnutrição. "Jamais esta
é uma conduta punitiva e sim médica, quando não há possibilidade de uso de
medicações", ressalta. "Além disso, uma instituição de saúde que
aplica choques elétricos aliados a doses de medicamentos cavalares da forma que
foi aplicado à personagem certamente está indo contra a conduta médica adequada
e atuando de forma criminosa", destaca o psiquiatra Hewdy Lobo. Na novela,
nem a clínica nem os médicos receberam qualquer tipo de penalidade por atuar da
forma que foi mostrado.
Câncer de mama da Silvia
Silvia (Carol Castro) espera tensa. Noriko (Camila Chiba) ali. Créditos: Globo/Divulgação |
A personagem
Silvia (Carol Castro) foi diagnosticada com um câncer de mama, e encaminhada
diretamente para uma mastectomia, ou seja, a retirada completa da mama. Até aí,
um procedimento normal, dado que essa avaliação sempre depende do tamanho da
mama e do tumor. Porém, após a cirurgia, nenhum outro tratamento foi feito.
"Na maioria dos casos é preciso fazer um ou mais desses três tratamentos:
quimioterapia, radioterapia ou hormonioterapia", explica o oncologista
clínico Vladimir Cordeiro de Lima, do AC Camargo Cancer Center. De acordo com o
médico, algumas pacientes podem não precisar de nenhum desses tratamentos, mas
é muito raro. Porém, na trama não foi mostrado se a personagem foi analisada
quanto a isso.
O diabetes do César
César (Antônio Fagundes) e Aline (Vanessa Giácomo) - Créditos: Globo/Divulgação |
O personagem
César (Antônio Fagundes) ficou cego por algum tipo de intoxicação, e ao fazer
um check-up para descobrirem a causa, foi diagnosticado um aumento na sua
glicemia. Logo, ele foi diagnosticado com diabetes tipo 2, apesar de a causa
não ter ficado exatamente clara. Por várias, foi debatido por alguns capítulos
pelo personagem Lutero (Ary Fontoura) e a Paloma, respectivamente cirurgião e
pediatra, o envio de um médico para aplicar insulina no paciente. Por fim, o
médico foi enviado, mas acabou administrando um medicamento por injeção.
A novela
começou tendo um deslize inicial, logo corrigido, pois a primeira opção para o
tratamento do diabetes tipo 2 não é a insulina. Para contextualizar melhor,
existem dois tipos de diabetes: o tipo 1 ocorre porque o pâncreas não produz
insulina, por isso é necessário repor o hormônio, e o mais comum é que a pessoa
desenvolva o problema até os 20 anos. "Já na maior parte dos diabéticos
tipo 2 há apenas uma resistência a ação da insulina. Por isso, geralmente o
tratamento do diabetes tipo 2 é iniciado com antidiabéticos orais",
descreve a endocrinologista Denise Ludovico, da ADJ Diabetes Brasil. Além
disso, nesse processo nenhum endocrinologista foi consultado.
Parto da Luana (esposa do Bruno)
Gabriela Duarte (Luana). Bruno (Malvino Salvador) e Glauce (Leona Cavalli) - Crédito: Globo/Divulgação |
Dessa vez, o
deslize foi justificado pelo enredo. No primeiro capítulo Luana (Gabriela
Duarte), morreu no parto, em decorrência de eclampsia - quando ocorrem
convulsões antes ou durante o parto, precedidas por sintomas como hipertensão
arterial, durante a gravidez. A gestante já havia sido diagnosticada com a
hipertensão ao longo da gravidez, mas sua obstetra Glauce (Leona Cavalli), não
tinha consigo um cardiologista na equipe. "É importante uma equipe de
retaguarda, pois se alguma complicação ocorrer, é importante termos uma UTI e
equipe médica completa para atender esta gestante. Isto vale para qualquer
mulher em pré-natal de alto risco", considera o ginecologista e obstetra
Alfonso Massaguer, especialista em reprodução humana. Porém, a intenção da
médica era justamente que Luana morresse no parto, pois ela estava apaixonada
pelo marido da grávida, Bruno (Malvino Salvador). O segredo foi revelado ao
longo da novela.
FONTE:
Por:
Nathalie Ayres