quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O que é e não é um rosto

    Neurocientistas explicam como o cérebro decide o que é real
Padrões no mundo, como esta formação rochosa em Ebihens, França,
por vezes podem ser parecidos com rostos humanos (Erwan Mirabeau/MIT) 
   
Objetos parecidos com rostos estão em todo o lado. Desde a face de Jesus numa tortilha ao perfil de Elvis numa batata frita, os nossos cérebros são capazes de detectar imagens que se parecem com rostos. No entanto, o cérebro humano normal quase nunca é enganado em pensar que tais objetos são realmente rostos humanos.

      Um novo estudo de investigadores do *MIT revela a atividade cerebral subjacente à nossa capacidade de fazer essa distinção. No lado esquerdo do cérebro, o fusiforme gyrus (uma área há muito tempo associada ao reconhecimento de faces humanas) cuidadosamente calcula o quanto uma imagem é parecida com uma cara. O fusiforme gyrus direito surge depois para usar essas informações e tomar uma decisão rápida, categórica se o objeto é, na verdade, um rosto.     Esta distribuição do trabalho é um dos primeiros exemplos conhecidos dos lados esquerdo e direito do cérebro a assumirem papéis diferentes em tarefas de processamento visual de alto nível.

     Muitos estudos anteriores mostraram que os neurónios no gyrus fusiforme, localizado na parte inferior do cérebro, reagem preferencialmente às faces. A equipa de cientistas decidiu então investigar como essa região do cérebro decide o que é e não é uma cara, especialmente em casos onde um objeto muito se assemelha a um rosto.
       Padrões de atividade diferentes

     Para realizar a investigação, os cientistas criaram um contínuo de imagens que incluíam umas que nada se pareciam com caras e outras que eram verdadeiras faces.
Os lados esquerdo e direito do cérebro assumem
papéis diferentes no processamento visual   
        Em seguida, a equipe usou ressonância magnética funcional (fMRI) para digitalizar os cérebros dos participantes à medida que categorizavam as imagens. Inesperadamente, os neurocientistas encontraram padrões de atividade diferentes em cada lado do cérebro: do lado direito, os padrões de ativação dentro gyrus fusiforme permaneceram bastante consistentes para todas as imagens do rosto humano verdadeiro, mas mudou drasticamente para todas as imagens que não o eram, independentemente do quanto se assemelhavam a uma cara. Isto sugere que o lado direito do cérebro está envolvido em fazer a declaração categórica se uma imagem é ou não um rosto.
     Entretanto, na região análoga do lado esquerdo do cérebro, os padrões de atividade mudaram gradualmente à medida que as imagens se tornavam mais parecidas com caras, e não havia nenhuma divisão clara entre faces verdadeiras e falsas. A partir daí, os investigadores concluíram que o lado esquerdo do cérebro divide as imagens em escalas de quão semelhantes são com rostos, mas sem as atribuir a uma categoria ou outra.
          
Relações temporais entre dois hemisférios

     A chave para a investigação foi a tecnologia de análise de imagens que permitiu que os cientistas pudessem examinar padrões de atividade em toda a gyrus fusiforme.

     Os cientistas descobriram que o lado esquerdo faz primeiro o seu trabalho e, em seguida, passa informações para o lado direito. No entanto, esperam obter provas mais sólidas de relações temporais entre os dois hemisférios com estudos utilizando eletroencefalografia (EEG) ou magnetoencephalography (MEG), duas tecnologias que oferecem uma visão muito mais precisa sobre o calendário da atividade cerebral.

     Os investigadores do MIT também esperam descobrir como e quando os lados direito e esquerdos do gyrus fusiforme desenvolvem estas funções independentes através do estudo de crianças cegas que têm a visão restaurada numa idade jovem.
                                                                                                                                                                                  *MIT
                                                                                         Massachusetts Institute of Technology

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Autismo pode ser apenas sintoma de uma síndrome mais grave


     Dificuldades na fala e na interação social têm várias origens diferentes. 

       Para especialistas, termo “doenças do espectro autista” é mais abrangente.

         Dificuldades para aprender a falar, problemas de interação social e movimentos repetitivos sem nenhum motivo aparente são os sintomas mais conhecidos do autismo. Mas essa condição não é uma doença por si só, pode ter várias origens diferentes, e pode ser apenas o indício de uma síndrome mais complexa.
     Além disso, há vários graus diferentes do problema, e por isso os especialistas preferem o termo “doenças do espectro autista”. “Inclui desde a forma clássica, a criança isolada que não comunica e não fala, mas tem as formas mais leves”, explicou Maria Rita dos Passos Bueno, que pesquisa a genética do autismo no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
Maria Rita dos Passos Bueno durante palestra em São Carlos (SP). 
     A síndrome de Asperger é uma dessas formas mais leves, uma das doenças menos graves do espectro. As crianças aprendem a falar na idade normal, mas têm problemas para se integrar à sociedade. Porém, mesmo dentro do grupo dos que têm essa mesma doença, há diferentes níveis de isolamento.
     “Existem alguns que conseguem romper essa dificuldade e se adaptam, e tem outros em que não têm o que se fazer, não se adaptam nunca”, relatou a pesquisadora.
     Bueno cita também algumas doenças complexas que têm o autismo como mais uma das consequências causadas. A síndrome de Rett provoca, além do autismo, dificuldades motoras que podem até levar à necessidade da cadeira de rodas.
     Já a síndrome do X frágil pode provocar autismo, mas tem como característica mais grave o retardo mental. Além disso, traz alterações no tamanho dos testículos, das orelhas e mudança no formato do rosto, que fica mais alongado.
     “Essas crianças têm um monte de outras coisas além de autismo, o autismo é como se fosse um sintoma de um quadro mais complexo”, conclui a cientista.
       Autismo clássico
     No entanto, há também muitos casos de autismo que não vêm acompanhados dessas outras doenças. Nesses casos, o autismo é o problema em si a ser tratado. “É como se não tivesse sinal clínico suficiente para você dizer que é uma síndrome. Esses pacientes entram no bolo das doenças do espectro autista”, diz Bueno.
     “Nesse caso, o maior problema é o problema de comportamento que a criança tem, e não tem nada alterado: cara normal, tamanho normal, tudo normal, é uma criança normal, exceto no comportamento”, acrescenta.
     Estudo genéticos já levaram os cientistas a encontrar pelo menos cem mutações genéticas diferentes que podem provocar o comportamento autista. Além disso, pode haver casos em que duas ou mais mutações se somam. Por tudo isso, é difícil identificar e combater o problema.
      Tratamento
    “É fato que o autismo, quanto antes identificado e tratado, melhor o prognóstico e melhor a inserção social. Agora, é claro que isso não significa que todos os casos terão um ótimo prognóstico mesmo tratados em idade bem prematura”, explica a psicóloga Cíntia Guilhardi, doutora pela USP, que trabalha com crianças autistas no Grupo Gradual.
     A idade ideal para o início do tratamento, segundo a especialista, é antes dos três anos de idade. “Quanto antes a gente trata, menos comportamentos do espectro estão instalados no repertório da criança e mais chances de ampliar a variedade de comportamentos dela”, completa.
     O tratamento dessas crianças é feito não só com psicólogas nas clínicas, mas também com o uso de medicamentos.




Reportagem e foto  do G1 por

Tadeu Menicone, 

em São Carlos




segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Deficientes - Deficiências - Mário Quintana


domingo, 8 de janeiro de 2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Uma ou duas coisas sobre gêmeos

O olhar intenso é o mesmo. Assim como a cor do cabelo. Mas um deles é tímido e o outro adora conhecer gente nova. O esforço para saber por que gêmeos idênticos são diferentes – apesar de terem o mesmo DNA – pode ser útil para todos nós.

As chinesas Gillian Shaw e Lily Leod foram adotadas ainda bebês por dois casais do Canadá
- um caso raro de gêmeos criados separados. Mas as famílias sempre se veem
      Todo verão, no primeiro fim de semana de agosto, milhares de gêmeos afluem a Twinsburg (“Vila dos Gêmeos”), no estado de Ohio, um vilarejo a sudeste de Cleveland assim batizado por dois gêmeos idênticos quase dois séculos atrás. Eles vão chegando em pares para a Festa dos Gêmeos, uma maratona que se estende por três dias, com piqueniques, espetáculos e concursos de semelhança, e que se tornou uma das maiores reuniões de gêmeos em todo o mundo.
“Saímos da mesma forma”, diz Don Wolf, à direita, a respeito de seu irmão,
Dave, explicando como convivem há 18 anos na cabine de um caminhão.
“Ele é mais bagunceiro”, conta Don. “Mas gostamos das mesmas músicas e temos o mesmo senso de humor.”
 
      Dave e Don Wolf, de Fenton, no estado de Michigan, frequentam o festival há anos. Como a maioria dos participantes, eles adoram ficar juntos. Na verdade, nos últimos 18 anos, os irmãos de 53 anos, ambos motoristas de caminhão, percorreram juntos 5 milhões de quilômetros, transportando as mais diversas cargas pelos Estados Unidos. Enquanto um deles assume a direção do Freightliner a diesel, o outro aproveita para tirar uma soneca no beliche da cabine. Ambos costumam ouvir no rádio as mesmas estações de country gospel, defendem idênticas opiniões republicanas ultraconservadoras e, na estrada, se alimentam com uma dieta de linguiça, maçã e queijo cheddar. Nos períodos de folga, saem juntos para caçar e pescar. Esse modo de vida acabou se mostrando conveniente a ambos.“Deve ser coisa de gêmeos”, comenta Don.
      Em uma das tardes da festa em Twinsburg, os irmãos param diante de uma barraca de pesquisa montada pelo FBI, a Universidade de Notre Dame e a Universidade da Virgínia Ocidental. No interior da tenda branca, técnicos estão fotografando pares de gêmeos, recolhendo suas impressões digitais e escaneando a íris de seus olhos a fim de comprovar se os programas digitais mais avançados de reconhecimento facial conseguem distingui-los. “Embora os univitelinos pareçam iguais, um sistema de imageamento digital consegue detectar diferenças ínfimas em sardas, poros ou curvatura das sobrancelhas”, diz o pesquisador Patrick Flynn. Por enquanto, todavia, até mesmo os mais avançados sistemas podem se equivocar devido a alterações na iluminação, em expressões faciais e outras complicações no reconhecimento facial de gêmeos ou de outros.
      Os barbudos irmãos Wolf são um caso especialmente difícil. E isso parece-lhes divertido. “Depois que fizeram a foto”, conta Dave, “perguntei a um deles o que aconteceria se eu cometesse um crime e depois fosse para casa raspar a barba – conseguiriam provar que era eu? O cara me olhou de esguelha e disse: ‘Talvez não, mas isso não é motivo para sair por aí cometendo crimes’.”
        Inato ou adquirido?
        Flynn e seus colegas não são os únicos cientistas ali presentes. Com aval dos promotores do evento, vários outros se instalaram em um estacionamento próximo ao local da festa. Em uma barraca vizinha à do FBI, pesquisadores solicitam aos gêmeos que provem de pequenos cálices com bebidas alcoólicas a fim de constatar se reagem do mesmo modo ao gosto. Ao lado, médicos de Cleveland entrevistam irmãs gêmeas sobre questões de saúde feminina. No lado oposto do estacionamento, um dermatologista da multinacional Procter Gamble faz perguntas a um par de gêmeos sobre problemas de pele.
      Para esses cientistas, e pesquisadores biomédicos de todo o mundo, os gêmeos oferecem uma valiosa oportunidade de se distinguir a influência dos genes e do ambiente – ou seja, do inato e do adquirido. Como os gêmeos idênticos, ou univitelinos, se originam de um único óvulo fertilizado que se divide em dois, na prática eles possuem o mesmo código genético. Qualquer diferença entre eles – como um dos dois ter a pele com aparência mais jovem, por exemplo – deve ser explicada por fatores ambientais, como o fato de ter passado menos tempo ao sol.
      Por outro lado, ao comparar as experiências dos gêmeos idênticos com as dos gêmeos fraternos, ou bivitelinos, que se originam de óvulos distintos e partilham em média metade do DNA, os pesquisadores têm a possibilidade de determinar em que medida os genes afetam diretamente a nossa vida. Se, no que se refere a uma disfunção orgânica, os gêmeos idênticos são mais similares entre si que os fraternos, então, eles concluem, a vulnerabilidade à doença deve estar baseada, pelo menos em parte, na hereditariedade.
      Essa vertente de pesquisa – o estudo das diferenças entre univitelinos para se identificar a influência do ambiente e a comparação entre univitelinos e bivitelinos para se avaliar o papel da herança genética – foi crucial para o entendimento da interação dos fatores inatos com os adquiridos na determinação de personalidade, comportamento e propensão a doenças.
PARA SABER MAIS, LEIA A PARTIR DO 
item 2 no roda-pé da matéria com direção ao 
link abaixo descrito

 por Peter Miller

Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL

sábado, 31 de dezembro de 2011

A educação inclusiva uma utopia?

No Brasil o discurso sobre inclusão de pessoas com deficiência quer seja na escola, trabalho, lazer, espaços sociais tem sido ainda uma utopia. As mudanças de fato estão sendo forjadas por grupos de pais mais organizados, educadores, alguns líderes políticos, entidades, ONGs e os meios de comunicação.  Está caminhando a passos curtos, mas caminhando em alguns locais, regiões.
A preocupação reside ainda, somente com os resultados quantitativos como, por exemplo, quantos alunos com deficiência estão matriculados nas escolas do Brasil, do que com os resultados qualitativos das relações com aprendizagem e conhecimento, que seria importante saber, por exemplo, de que maneira estes alunos estão matriculados, como estão sendo atendidas as necessidades singulares destes alunos, como estão aprendendo, se relacionando, se estão felizes e realizados. Do ponto de vista dos professores, as perguntas recairiam, estão sendo capacitados e aprendendo de fato, mudaram suas atitudes, o currículo e avaliação da escola foram modificados e o plano político pedagógico, há cooperação entre a saúde e educação para atender os casos de alunos com autismo, dentre outros que precisam de atendimento clínico especializado, e viriam muitas outras indagações, sem falar das questões da família que vamos ponderar mais abaixo.
Perguntas estas que não calam, mas ficam veladas a espera de atitudes mais eficientes e humanizadoras. Muitas ações de políticas públicas do governo federal estão sendo efetivadas e apoiadas no âmbito estadual e municipal. Contudo, as escolas estaduais por serem maiores em demanda de alunos sendo que na mesma proporção acontece com o numero de seus professores que precisam ter formação para compreenderem a educação inclusiva, são as que apresentam as maiores dificuldades em relação às escolas municipais e particulares. O Ministério da Educação tem em seu bojo uma proposta de vanguarda, mas as dificuldades são de ordem pragmática, ou seja, políticas públicas mais eficientes, investimentos em formação e materiais pedagógicos (tecnologias assistidas), trabalho e investimento para mudança cultural de atitudes ainda preconceituosas e falta de informação para a população geral.
A Educação Inclusiva não se restringe a educação, mas uma forma social de relacionar-se com o ser humano. É um processo árduo, desafiador mudar a cultura do ser humano!
O que observamos é que cada um faz uma parte que nem sempre forma um todo convergente, um emaranhado entre leis, projetos, iniciativas, verbas, metodologias que por muitas vezes se desencontram da concepção humanística, tornam-se apenas uma retórica universitária ou um projeto político fugaz.
A educação inclusiva é um direito humano, é uma educação de qualidade e precisa ter um bom senso social. Uma escola inclusiva é aquela que encoraja todas as crianças a aprenderem juntas, colaborando e cooperando mutuamente. Uma escola que discorde da prática de separar as crianças em capazes e incapazes. Uma escola que concorde que todas as crianças são capazes e que cada criança é capaz a seu modo. Uma escola que admite que cada criança aprende de um jeito só dela e, por isso, tem o direito de aprender do jeito dela. Uma escola que ensina o que as crianças querem e precisam aprender em função da situação de vida de cada criança. Uma escola que faça das crianças felizes!
Mas ainda as escolas estão focadas para que as crianças passem no vestibular, sejam competitivas, individualistas que é bem diferente de ser independente e autônoma.
Partimos do pressuposto de que entendemos a Educação Inclusiva como sendo um conceito muito mais amplo do que o de inserção do aluno com deficiência nas escolas regulares, como é resumidamente pensado, mas com uma visão mais expansiva do caminho a ser percorrido por este sujeito, desde a hora do seu nascimento, com uma acolhida planejada e articulada entre os profissionais das diversas áreas. Parto do princípio de uma inclusão programada e gradativa, responsável passo a passo dentro de um referencial ético. Tanto para quem está sendo incluído podendo ser “a criança, jovem, adulto, a família”, todos estão saindo de um modelo de exclusão, todos estavam ou estão em alguma medida institucionalizada quer seja em escolas especiais, classes especiais ou qualquer outra forma de exclusão social marginal.
O trabalho em conjunto com a família é fundamental não existe inclusão se a família não fizer parte do processo, muitas vezes só trocamos o aluno de lugar a os pais continuam reagindo da mesma forma, não há apoio, não há compreensão, apenas a necessidade de resultados. A família também precisa ser incluída, desde a sensibilização aos professores e capacitação continuada, enfim todos deverão fazer parte do processo.
Numa outra perspectiva, constatamos uma inegável mudança de postura, de concepções e atitudes por parte de educadores, pesquisadores, de agentes sociais, formadores de opinião e do público em geral. Estas mudanças se traduzem na incorporação das diferenças como atributos naturais da humanidade, no reconhecimento e na afirmação de direitos, na abertura para inovações no campo teórico-prático e na assimilação de valores, princípios e metas a serem alcançadas.
Também precisamos de medidas que visem assegurar os direitos conquistados, cada vez mais à melhoria da qualidade da educação, e investimentos em uma ampla formação dos educadores, a remoção de barreiras físicas e atitudinais, a previsão e provisão de recursos materiais e humanos entre outras possibilidades. Nesta dimensão se potencializa um movimento de transformação da realidade para se conseguir reverter o percurso de exclusão de crianças, jovens e adultos com ou sem deficiência no sistema educacional.
Alguns dos trabalhos mais recentes realizados por Edgar Morin (2002) para a Unesco tentam responder a interrogações que nos esperam a cada dia quando entramos na sala de aula: o que a escola tem para ensinar?
Ensinar as cegueiras do conhecimento: dar a oportunidade de aprender sobre a ilusão e os “erros da mente”; ensinar os princípios do conhecimento pertinente: ensinar a interpretar o contexto e a resolver problemas; ensinar a condição humana: ensinando que o ser humano é ao mesmo tempo físico biológico, psíquico, cultural, social e histórico, ensinar a identidade terrena e a história da terra: para que se compreenda desde idades tenras que o destino do homem está intimamente ligado ao destino da terra e da natureza.
Enfim acredito, aposto na utopia da escola inclusiva. Posso dizer que sofro de “utopismo”, que consiste na ideia de idealizar não apenas um lugar, mas uma vida, um futuro, ou qualquer outro tipo de coisa, numa visão fantasiosa, sonhadora e normalmente contrária ao mundo real.
O “utopismo” é um modo absurdamente otimista de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem. E se os sonhos podem ser transformados em realidade, então vamos lá, mãos a obra!

Drª Marina S. Rodrigues Almeida
Psicóloga, Psicopedagoga e Consultora de Educação Inclusiva
Publicado em UOL - 22.11.2011
Foto UOL

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

De olho em 2012: Biodesign

Nesta época, as revistas científicas, jornais e meios de comunicação procuram sempre fazer retrospectivas dos assuntos mais interessantes do ano que passou.
      Outros veículos aproveitam para prever áreas que podem ter um impacto maior no ano que vem. Enfim, para fugir um pouco desse paradigma, decidi escrever algo diferente. Procurei unir as duas coisas, passado e futuro, juntando ciência e arte em conceitos que acredito que venham fazer parte do nosso dia a dia em breve. Veja se você concorda.
      Decidi focar no biodesign. O conceito de design biológico não é novo, mas sinto que no Brasil poucos profissionais da ciência estão familiarizados com essa ideia. Acredito que nosso país tem um potencial enorme para explorar esse tipo de interface entre arte e ciência.
      O biodesign não usa apenas plásticos, vidros e madeira como matéria-prima, mas sim coisas vivas, como organismos e células. As implicações dos projetos vão além da equação forma-função ou do conceito de modernidade, conforto e progresso que prevê o design clássico.
      O biodesign transcende essa tradição e provoca curiosidade, uma ótima forma de difusão científica.  Em geral, os profissionais, na maioria biólogos, incorporam seres vivos em seus projetos, procurando usufruir dos ciclos biológicos de cada espécie. Obviamente, como acontece em diversas disciplinas, algumas ideias são boas e podem ser aplicadas na prática – outras nem tanto.
      Um bom exemplo de aplicação prática é o trabalho de Susana Soares (foto acima), que treinou abelhas a reconhecer sinais químicos expelidos na nossa expiração. Ela conseguiu combinar o extraordinário poder olfativo das abelhas, capazes de detectar concentrações ínfimas de hormônios e toxinas, com o reflexo pavloviano.
      O resultado são abelhas que servem como ferramentas de diagnóstico para doenças do coração e testes de gravidez, por exemplo. E basta um assopro. A ferramenta está sendo aplicada em estudos sobre a malária, na tentativa de descobrir por que algumas pessoas são mais atraentes que outras aos mosquitos.

      Outro exemplo vem do trabalho de Revital Cohen, redirecionando cães de corrida aposentados para ajudar pessoas com dificuldades de respiração ou problema renais (foto ao lado).
      Esse sistema híbrido funciona de forma holística e simbiótica e independe de eletricidade. Projetos como esse fazem pensar em milhares de outras situações em que poderíamos usar o próprio desperdício humano para gerar algo produtivo. Estimo que cerca de dois bilhões de pessoas no mundo gastem pelo menos 1 minuto por dia jogando paciência ou cultivando seu FarmVille. Esse tempo poderia ser aproveitado para alguma coisa mais proveitoso.
      No caso dos micro-organismos, ressalto o trabalho de Alexandra Ginsberg, que se aproveita da engenharia genética e da biologia sintética para criar bactérias que fabriquem pigmentos. Esses seres redesenhados, inofensivos ao homem, estão sendo amplificados para produzir material para impressoras e outros tipos de tintas.
      Outro projeto dela, intitulado Estética Sintética, incorpora bactérias re-engenheiradas como ferramentas de diagnóstico. O sistema, batizado de E. chromi, funciona da seguinte forma: o paciente ingere um líquido (como um milk-shake probiótico) contendo bactérias que reagem com enzimas e outros agentes químicos, mudando de cor.

      As diferentes colorações representam nutrientes presentes no organismo e podem ser visualizados nas fezes. Basta uma olhadinha após um “número dois” para saber se está tudo em ordem.
Obviamente que Alexandra também pensou numa forma de calibrar as cores, montando um “escatálogo” com modelos que simulam diversos tipos de fezes, como na foto ao lado.
      A aplicação desse sistema para indivíduos debilitados por alguma condição é o próximo passo. Recentemente, descobri como é difícil para os pais de uma criança autista (e provavelmente para pacientes com outros problemas) manter a higiene bucal do filho. O sistema E. chromi poderia ser aplicado em autistas, por exemplo, como marcador da qualidade das bactérias presentes na dentição. As saudáveis ficariam coloridas, e as demais, pretas (foto abaixo). Isso poderia servir como um guia durante a escovação.

      Com os avanços da genômica e da engenharia de tecidos, acredito que o biodesign será imprescindível no futuro. De olho nesse mercado, algumas universidades americanas e europeias já criaram cursos de graduação especializados nessa abordagem.
      Os profissionais ainda são encarados de forma suspeita pela academia tradicional, mas penso que seja uma questão de tempo para que a situação se inverta. Sabendo da capacidade e da criatividade dos cientistas/artistas brasileiros, proponho a fundação da Escola Brasileira de Interação Ciência-Design, com disciplinas abrangendo biologia molecular, células-tronco, história da arte, propaganda e marketing, e por aí vai.
      Viajei?

 Alysson Muotri

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Autismo na França: bem-vindo à terra dos horrores

    Em março, fizemos ecos ao sofrimento por que passam as pessoas com autismo e suas famílias na França.                    
    Nos últimos meses, continuamos a coletar informações e entrar em contato com vários ativistas pelos direitos das pessoas com autismo naquele País e as informações (em primeira mão) que nos têm fornecido é tão grande que decidimos fazer este relatório sobre a situação atual, gravíssima, a que o país mantém as pessoas com autismo e suas famílias. Queríamos ter feito uma lista dos direitos das pessoas autistas que são violados na França mas, já que são quase todos, resolvemos pular essa parte.

Educação

    Na França, uma criança diagnosticada com autismo praticamente não tem o direito à educação. Apenas 20% das crianças com autismo conseguem acesso à educação. E estes 20% "afortunados", na maioria, coincidem com as crianças diagnosticadas com Autismo de Alto Funcionamento e Síndrome de Asperger.  De qualquer forma, esse acesso à escolaridade regular não é de 100%. Este problema também se aplica a crianças com outros problemas, como déficit de atenção e hiperatividade, disfasia etc ...
     Os afortunados 
Espera-se que esses 20% de crianças "afortunadas" vão à aula com seu AVS (Assistante de Vie Scolaire - auxiliar de vida escolar) ou EVS (Employée de Vie Scolaire - empregado de vida escolar) e, caso se comportem bem, podem continuar a frequentar uma escola regular (Caso contrário, serão expulsos do centro). Mas, claro, para que a criança conheça seu AVS ou EVS será necessária uma espécie de alinhamento cósmico e planetário. Que seja concedido esse apoio pessoal à criança é uma questão de pura sorte e não um direito. O outro problema é que uma grande percentagem desses trabalhadores não têm formação e muda a cada ano. Se tiver sorte e ganhar a loteria do assistente especializado, você nunca saberá o que vai acontecer no ano seguinte. "Há tantas situações particulares como há crianças: levaria anos para fazer uma lista de casos ilógicos e escandalosos. Novamente, tudo tem a ver mais com sorte que com direito" é a informação que nos mandam da França, a respeito desta questão.
    Temos também a figura do SESSAD - Service d’Education Spéciale et de Soins A Domicile (Serviço de Educação Especial e Assistência a Domicílio"), (ou seja, profissionais QUE intervêm no meio "normal" para dar ajuda e aconselhamento aos professores e cuidadores de crianças). Tal como acontece com AVS e EVS tudo diz respeito a onde você vive... e sorte. Cada SESSAD pode usar um modelo diferente e assim nos deparamos com muitos tipos diferentes de apoio ou assistência apresentados como SESSAD. Mais uma vez, entramos neste tipo de roleta russa da sorte. O problema de jogar roleta russa é que a bala te acerte.
    Na fronteira do bem e do mal: Quando a criança atingir sete anos, se a equipe docente achar que não tem o ritmo certo, irá enviá-la a uma escola especial ou a uma sala de educação especial dependentes de um destes centros, goste a família ou não. E se a família se opuser, a criança ficará em casa. Isso se aplica não apenas ao autismo, mas a outros tipos de deficiência.
    
Educação Especial


Torturando um menino com Packing

    Pressupõe-se que os “Instituts Medico Educatifs” (Institutos médico-educativo), ou IME, sejam Centros de Educação Especial do país do conhaque. Mais uma vez, devemos colocar nas mãos do destino, dos alinhamentos planetários e do horóscopo chinês, já que, com os IMEs se passa algo parecido com os SESSAD. Em alguns casos, os IMEs são regidos por sistemas de psicanálise, "packing", "pataugeoire" (colocam a criança em um maiô, em uma pequena piscina inflável, e dois "terapeutas" observam seu comportamento na água: se toca as partes íntimas ou não, como evolui, seus gestos, suas expressões, e tiram conclusões a partir dessas observações) e uma série de atrocidades próprias do início do século passado, por isso, se nos for indicado um desses IMEs, é melhor para a criança ficar em casa. Podemos também darmos de cara com IMEs tentando implementar outras estratégias educativas. No entanto, as relações aluno/terapeuta geralmente giram em torno de 12 para 1, sem contar a melhor ou pior qualificação da equipe de intervenção terapêutica. Os IMEs realmente tornaram-se um lugar comum de detenção de crianças, mas com passe livre a noite.
  O outro problema é que, se um IME faz um bom trabalho, rapidamente satura; as famílias inclusive migram para outras regiões para ter acesso a esses raros lugares.
    O "Hôpitaux de Jour" (Hospital Dia) é algo como uma casa de horrores. Um centro ligado à área de psiquiatria do hospital onde se maltratam diariamente os casos mais graves. Por sua vez, estes centros têm por bem não dar quase nenhuma informação sobre que tipo de intervenção fazem com as crianças.      Tampouco nada parece ciência certa nem se tem feito estudos sérios sobre o tipo de intervenção e seus resultados. Como há pouca supervisão local (ou nenhuma) pelo Ministério da Saúde (embora haja Agências Regionais de Saúde: ARS) em relação às melhores práticas, as equipes desses centros fazem o que querem, desde que não ponham a criança em perigo, e não há queixas legais das famílias (a verdade é que com pouca informação é difícil fazer uma reclamação bem documentada). Outro aspecto "inacreditável" desses centros é que muitos deles seguem o caminho da psicanálise e estão determinados a "estudar" a família inteira para provar que a culpa é deles, principalmente da mãe!
   
 Profissionais qualificados

    Frente a este panorama incrível, o número de profissionais treinados e qualificados é muito baixo. Ao mesmo tempo, há pouco apoio financeiro à formação especializada nesta área. Praticamente todo o apoio financeiro do governo vai para os centros que acabamos de mostrar. Profissionais de qualidade, que não vivem em 1905 como o resto de seus "colegas", trabalham em centros privados, sendo por isso muito caros e além do alcance da grande maioria da população.

    Este tipo de centros, onde podemos encontrar sistemas de intervenção reconhecidos em todo o mundo (ABA, TEACHH, PECS, ...), só obtêm 10% dos fundos para o autismo, com o que o desenvolvimento de planos modernos e eficientes de intervenção para o autismo torna-se impossível.
    A Família
    Por trás desta imagem tão desoladora, há dezenas de milhares de famílias a sofrer todos os dias esta situação terrível. Essas famílias enfrentam muitos problemas com os quais devem lutar todos os dias, encontrando na maioria das vezes uma "Linha Maginot", uma barreira social e burocrática.
    E que saídas existem? Atualmente as famílias francesas encontram situações tão absurdas que escapam de qualquer lógica, posto que torna mais difícil até mesmo poder enfrentar a situação.
    Por um lado, ficam cara a cara com a infelicidade de não ganhar a "loteria" a que nos temos referido nesta reportagem; por outro lado, devem enfrentar diagnósticos mais que duvidosos e um modelo de intervenção mais próximo do "Doutor Mengele" que dos verdadeiros modelos de intervenção. Muitas famílias optam por ter um dos pais abandonando os trabalho a fim de cuidar de seu filho de uma forma humana. Ao mesmo tempo, têm que chegar a o nível de conhecimento e preparo necessário no menor tempo, sem acesso aos recursos e sem muitas condições econômicas, para tornar-se terapeutas de seus filhos. Não esquecendo que enfrentam a rejeição social, o esquecimento burocrático e a perda de direitos.
Talvez, se você tiver uma família afortunada com muita sorte, a "Maison des Personnes  Handicapées" (MDPH) de sua região (há mais de 80) será pró-ativa e poderá apoiá-lo, desde que seja inteligente o suficiente para contornar o labirinto legal e burocrático que existe antes de conseguir subsídios e benefícios econômicos. Se conseguir, poderá ter dinheiro suficiente para ajudar a custear algumas intervenções. Dependendo de onde morar e de quão hábil seja, poderá obter o suficiente, ou nada. Então, se você não tem recursos financeiros suficientes, você não poderá dar as oportunidades que a criança merece e isso, como é claro e normal, aumentará (ainda mais) a tensão no seio da família. Esse sentimento de impotência e perda de esperança corroi o espírito mais firme.
    Ação Direta: Dada esta terrível situação, as famílias estão se organizando e começando a organizar todo o tipo de protesto e ações contra essa situação que prejudica diretamente os direitos, liberdade e dignidade de milhares de cidadãos franceses. Nessa luta pela dignidade, o respeito, os direitos e a igualdade devem ter todo o apoio da comunidade internacional. Pois mesmo na França há uma democracia real.
    Alguns nomes
    Talvez hoje a técnica de packing seja a tortura mais famosa dos "especialistas" franceses. E ainda se permitem dar cursos de formação e realizar estudos, tudo pago com dinheiro público, evidentemente. Se você não sabe o que é o packing, assista a este vídeo, onde vai ver um jovem embrulhado em lençóis molhados e muito frios, como se fosse uma múmia, deixando apenas o rosto descoberto. Supõe-se que este castigo físico e agressão emocional seja uma terapia?
    Mais informações sobre os centros que estão realizar um "estudo" de "packing" no site de Autisme Infantile, assim poderão evitar que estes centros torturem algum ente querido.
    Outro dos "brilhantes" pontos dos psicanalistas franceses é seguir culpando a mãe pelo autismo de seu filho. 
     Abordamos essa questão sobre a teoria de Bruno Bettelheim e as mães no artigo: ¿Madres Nevera? o ¿la frialdad de un hombre? Bruno Bettelheim.
    
Campanha Um Crocodilo para Genevieve Loison


    E continuando na mesma linha não percam tempo com a Sra. Geneviève Loison, que afirma que as mães são nada menos do que um crocodilo! Apesar de sua aparência de "Vovozinha" os danos que esta senhora produziu e continua a produzir a todas as pessoas que têm a infelicidade de passar por suas mãos não tem tamanho. Assim, famílias francesas começaram uma campanha contra a Sra. Geneviève Loison, sob o slogan "Um Crocodilo para Genevieve". 
    Pode-se ver mais informações no mural do Facebook de Autisme Infantile.
    Este é um breve resumo da situação atual. Realmente o problema é sério o suficiente para se dedicar muito mais espaço, mas a intenção foi abordar uma realidade concreta. Certamente não é uma situação feliz para ninguém, embora dar visibilidade a estes é parte da responsabilidade dos meios de comunicação. Isto é o que está acontecendo e isto é o que contamos.

Matéria publicada  simultaneamente no:
http://cronicaautista.blogspot.com
Postado por Argemiro Garcia
20.12.2011 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Todo dia é Natal

Para ampliar a visualização, clique na imagem.
  Olá Gente Amada

    As figuras que você verá nesta cartão natalino, são frequentadores aqui da casa onde vivemos.
    Os ovos, são de sabiás, do condomínio de ninho de passarinhos que tem na frente da casa suportados por uma hera gigante e um pé de mamão que nunca produziu um fruto, pois não suporta o inverno curitibano.
    No condomínio de passarinhos tem rolinhas como sentinelas na calha de chuva, como se estivessem guardando o nascimento dos parceiros  sabiás, caminheiros, canarinhos terra, pardais, sanhaços, bem-te-vis, tico-ticos (de vez em quando aparece algum, ainda)  e outros menos votados que não sabemos o nome.
    Tem a perereca e o sapo Zeca que encontraram aqui um canto para se esconder da predação na ecologia.
    Tem a foto do granizo que volta e meia desfolha árvores, fura os telhados com sua força arrasadora, causa transtornos, mas nada de grave que não se conserte, e como representante das geadas de inverno nos faça desistir do bem estar da renovação da natureza.
    Tem a florzinha que não sabemos o nome, mas parece-nos a Excelsa Mãe orando pela Renovação.
  "Que neste Natal haja paz em nossos corações e que a comemoração natalina seja um bom motivo para reflexão sobre tolerância e aceitação de todas as diferenças."
     Nossa família assina e abraça a todos amorosamente.
    Na Luz e na Paz
    Nilton Salvador  


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Nosso cérebro toca sua própria música


 Seria possível colocar nosso cérebro no ritmo mais próximo ao de um Mozart ou Einstein?
[Imagem: Mehta/Kumar]


Rádio cerebral

Cientistas já haviam demonstrado que o cérebro possui "estações de rádio", transmitindo em várias frequências.
Isso alterou completamente a visão que se tinha até então da chamada atividade neural, que era vista como uma sequência homogênea de pulsos elétricos.
Agora, pesquisadores da Universidade da Califórnia (EUA) mostraram como essas estações de rádio cerebrais criam ritmos adequados para o aprendizado.
A descoberta, que, juntamente com a anterior, desafia o conhecimento que se tinha dos mecanismos de funcionamento do cérebro e do aprendizado, poderá levar a novas terapias para ajudar a tratar problemas de aprendizado e memória.

Sinapses

Hoje considera-se que o cérebro aprende através do reforço de suas sinapses, a conexão entre os neurônios - quanto mais fortes são as sinapses, maior é o aprendizado.
A alteração na força de uma sinapse - chamada plasticidade sináptica - ocorre através das chamadas sequências de disparo, séries de sinais neurais que ocorrem em várias frequências e em temporizações diferentes.
Contudo, em seus experimentos, os cientistas vinham usando apenas a frequência desses disparos, mostrando que muitos disparos reforçam a sinapse.
E eles usam muitos disparos mesmo, centenas deles, quando o cérebro em condições reais não usa mais do que 10, e a uma velocidade de 50 disparos por segundo, quando os experimentos usavam uma frequência irreal de 100 disparos por segundo.
Os cientistas não faziam isso porque eram "sem noção", mas porque não havia tecnologia disponível para fazer melhor.
A pesquisa mostrou que os neurônios e as sinapses não são meros fios elétricos carregando uma corrente - eles precisam de ritmo. [Imagem: UCLA]

A pesquisa mostrou que os neurônios e as sinapses não são
meros fios elétricos carregando uma corrente - eles precisam de ritmo.

[Imagem: UCLA]
Antena no cérebro

Agora, Mayank Mehta e seu colega Arvind Kumar criaram essa tecnologia, partindo de novos modelos matemáticos que otimizaram a captura das medições e das gerações dos impulsos.
A propósito, Kumar é um dos autores de uma nova teoria sobre a linguagem do cérebro.
Contrariamente ao que se havia concluído antes, Mehta e Kumar demonstraram que aumentar a frequência dos estímulos não é a melhor forma para aumentar a força das sinapses e otimizar a plasticidade sináptica.
Quando se supera o ritmo natural do cérebro, o aumento da frequência na verdade diminui a intensidade das sinapses.
Esta descoberta de que a sinapse tem uma frequência ótima para o aprendizado levou os cientistas a compararem as frequências das sinapses com base em sua localização no neurônio - o neurônio lembra as raízes de uma árvore, com sinapses nas pontas de cada um dos chamados dendritos.
E os resultados mostraram que, quanto mais distante a sinapse está do centro do neurônio, mais alta é sua frequência ótima.
"Incrivelmente, quando se trata do aprendizado, o neurônio se comporta como uma gigantesca antena, com as diferentes pontas dos dendritos ajustadas para diferentes frequências," conta Mehta.

Música do cérebro

Veio então a descoberta mais surpreendente e "melódica" dessa rádio cerebral.
Para um aprendizado ótimo, as diversas frequências das diversas sinapses precisam atingir um ritmo preciso, com temporizações perfeitamente ajustadas, como em uma música.
Mesmo com a frequência ótima, se o neurônio perde o ritmo, o aprendizado é prejudicado.
E o cérebro não gosta de tocar sempre a mesma música. Tão logo uma sinapse "aprende" - registra sua intensidade mais forte - sua frequência ótima muda.
Em outras palavras, seu cérebro toca em uma frequência diferente, mais baixa, depois que aprende - o nível ótimo de disparos dos neurônios tem uma redução na frequência de cerca de 20%.
Embora essa pesquisa não tenha tido esse objetivo, os resultados levantam a possibilidade do desenvolvimento de medicamentos para "re-sintonizar" os ritmos do cérebro.
Esse processo de redução na frequência, segundos os pesquisadores, pode ter importantes implicações para o tratamento de desordens relacionadas à memória, como as desordens pós-traumáticas.
Ou, quem sabe, encontrando o ritmo correto, os seres com cérebros normais possamos nos transformar em algo mais próximos de cérebros mais "ritmados" - Mozart ou Einstein seriam objetivos razoáveis.

Moisés de Freitas
Diário da Saúde