quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
Escola particular na ASA Norte Expulsa aluna autista e é condenada a indenizar a família
A criança de 11 anos teve a matrícula cancelada, em
maio de 2014, por causar “insegurança no ambiente escolar”. A família entrou na
Justiça e venceu o processo por danos morais
A pedagogia
do amor é o slogan do Colégio Logosófico Gonzalez Pecotche, na 704 Norte. A
proposta, porém, não é simples quando retirada do papel. Em 23 de maio de 2014,
a escola cancelou a matrícula de um aluno de 11 anos, com Síndrome de Asperger,
condição psicológica do espectro autista. Alegou “reiteradas condutas
inadequadas por parte do autor” que geravam “insegurança no ambiente escolar”.
Depois da expulsão, no meio do ano letivo, os pais
do aluno Amir Bliacheris iniciaram um processo contra a instituição de ensino,
por danos morais. Na sexta-feira (4/12), o juíz Wagner Pessoa Vieira, da 5ª
Vara Cível de Brasília, decidiu a favor do estudante e sua família. Condenou a
escola, em primeira instância, a pagar R$ 20 mil em indenização. Ainda cabe
recurso.
A família Bliacheris mudou-se de Porto Alegre para
Brasília, em 2014, por causa do trabalho do pai de Amir, o servidor público
Marcos Bliacheris. Eles já haviam morado na capital federal, anos antes, e
conheciam o ensino do Colégio Logosófico. “O Amir já tinha estudado lá. A
experiência tinha sido muito boa. Resolvemos matriculá-lo, só que dessa vez foi
muito diferente”, relata mãe Brenda Bliacheris.
Amir, ao lado da mãe, com o pai e o irmão mais novo |
Amir não havia recebido diagnóstico de autismo
quando foi matriculado, mas já tinha depressão infantil e exigia atenção
especial. Teve desavenças cotidianas com colegas, como uma briga em um jogo de
futebol. Percebia-se que tinha sensibilidade ao barulho e não regia bem às brincadeiras
entre crianças.
A escola incluiu no processo que o Amir assustava
os colegas, pois era muito grande. Eu e meu marido também somos muito grandes.
Ele era um dos mais novos da sala. Agora ele tem culpa por ser autista e
grande?"
Brenda Bliacheris - mãe do Amir
Ele tem dificuldades de coordenação motora, mas
professores exigiam que a letra dele fosse bonita. O garoto tentava. Apagava
várias vezes a tarefa e refazia a escrita. Quando não conseguia o resultado
esperado, perdia o controle. Depois, era chamado na direção.
Os pais contrataram uma equipe multidisciplinar
para tratar o filho. Meses depois, terapeutas e psicólogos chegaram à conclusão
de que Amir tinha Síndrome de Asperger. “Nosso filho foi rotulado como violento
por conta de episódios isolados. Criaram um personagem intratável. Como se
fosse uma ameaça a ser eliminada. Nunca lidaram com ele como um caso de
inclusão. Nos oferecemos para pagar pelo acompanhamento de uma terapeuta,
dentro da escola, mas a direção negou, disse que isso afetaria o ambiente escolar”,
relata Brenda.
“Não havia nenhuma adaptação curricular para ele. A
escola queria que ele se adaptasse, não buscou auxilio e nem aceitou o auxilio
oferecido”, diz a mãe.
Além de expulsar a criança, o colégio enviou o nome
dele para todos outras instituições privadas do DF. Ele não foi aceito em
nenhuma outra rede de ensino"
Adriana Monteiro, advogada da família
Depois da expulsão, a família matriculou Amir em
uma escola pública, na 102 Norte. Não houve problemas. Ele recebeu inclusive
uma premiação como melhor aluno em história. “Os professores se esforçaram para
recebê-lo da melhor maneira. Ele conseguiu se inserir e conquistou bom
desempenho acadêmico. O que demostra que a negativa da escola anterior em
aceitá-lo foi determinante”, afirma o pai, Marcos.
Hoje, aos 13 anos, ele vive em Porto Alegre. A
família mudou-se de Brasília por não conseguir encontrar uma escola particular
que aceitasse o filho. Ele frequenta o colégio em horário reduzido, devido ao
trauma.
Foi um dano moral terrível para ele e para toda
família. Amir ainda está sofrendo. A expulsão é uma marca que vamos carregar
por muito tempo"
Brenda Bliacheris, mãe de Amir
No processo, a advogada Adriana Monteiro baseou-se
no Estatuto da Criança e do Adolescente, que determina que toda criança tem
direito à educação. Também usou trechos da legislação brasileira, de cartilhas
do Ministério da Educação e citou casos semelhantes.
Na sentença, o magistrado entendeu que “ficou
evidente que a instituição não promoveu as adequações necessárias à correta
adaptação e inclusão do autor, nem mesmo lhe ofereceu a oportunidade, em
conjunto com seus pais e psicólogos, de estabelecer uma orientação pedagógica
destinada a satisfazer suas necessidades educacionais, enquanto pessoa com
Síndrome de Asperger”. Constatou também que o desligamento abrupto da escola
causou “lesão aos atributos de personalidade” da criança.
A família hoje vive em Porto Alegre, onde encontrou escola adequada |
Os pais de Amir iniciaram o processo para servir de
inspiração para outras famílias. “É muito difícil lidar com essa situação.
Muitos pais culpam a criança pelo mau desempenho na escola, outros têm
vergonha. É preciso lutar por direitos até o fim, não pode deixar para lá, por
mais dolorido que seja. São esses passos de formiguinha que vão gerar uma
mudança de mentalidade”, diz Brenda.
O Metrópoles procurou a direção da escola, mas
recebeu a informação de que a equipe está de férias. Ninguém retornou as
ligações. A reportagem também procurou o advogado da instituição no processo,
que afirmou não poder se posicionar em nome do Colégio Logosófico Gonzalez
Pecotche.
Memória
Não é a primeira vez que uma família brasiliense
ganha o reconhecimento da Justiça contra uma escola. Em 2010, uma professora
mordeu aluno de 5 anos, na bochecha, em um colégio particular do Lago Norte.
Segundo ela, teria sido a forma encontrada para separar uma briga entre a
vítima e outra criança. A mãe da criança mordida iniciou ação na Justiça e
recebeu indenização de R$ 30 mil, em fevereiro de 2015. A professora foi
demitida após o escândalo e, em decisão judicial anterior, teve de prestar
serviço comunitário num asilo. Na época, a direção tentou responsabilizar a
criança, mas a culpa da escola ficou óbvia.
FONTE: LEILANE MENEZES
http://www.metropoles.com/vida-e-estilo/comportamento/escola- particular-na-asa-norte-expulsa-aluno-autista-e-e-condenada-a-indenizar-familia
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
“Eu não espero o dia de voltar a andar para ser feliz”
"O dia 21 de agosto de 1994 mudou para sempre
minha vida...
Com 26 anos, uma estrada sinuosa, um carro em alta
velocidade e uma curva malfeita deram outro rumo para minha história. Depois de
um fim de semana em Paraty, ao lado do meu namorado e de meu melhor amigo,
acordei em um hospital com a informação de que uma fratura nas vértebras havia
me tirado todos os movimentos do pescoço para baixo. Eu, que adorava esportes,
corria maratonas e não tinha medo de me aventurar em absolutamente nada, tive
de reaprender a tudo, inclusive a respirar. Quando consegui fazê-lo, sem a
ajuda de aparelhos, a sensação de liberdade foi muito grande.
Quando se perde o que até então é naturalmente
disponível, como a fala e a respiração, qualquer outra coisa parece ficar
fácil. Passei meses em hospitais para me recuperar. Primeiro em São Paulo,
depois nos Estados Unidos. Nessa época, minha família deixou tudo de lado para
buscar o melhor tratamento possível para mim. Meu irmão foi fundamental na
minha recuperação.
Ao contrário do que muita gente pode pensar, não
tive crises de revolta com Deus. Apenas uma coisa era possível me magoar em
toda essa reviravolta: o olhar triste de meu pai ao me ver na cadeira de rodas.
Só nessas horas eu pensava que aquela curva podia ter sido diferente.
Perder movimentos te obriga a encarar a vida de
outra forma. Fiquei mais paciente porque preciso do outro o tempo todo. Passei
a ser acompanhada 24 horas e auxiliada em todas as atividades do meu dia a dia.
Mesmo assim, nunca vi a paralisia como um obstáculo. Na verdade ela foi uma
grande propulsora de meus melhores feitos.
Ao voltar da minha reabilitação nos EUA, me deparei
com uma realidade dura que eu passei a assistir de muito perto. As pessoas com
deficiência não tinham reabilitação, transporte, saúde... Calçada decente para
sair de casa. Resolvi então fundar uma ONG, o Projeto Próximo Passo (PPP), em
1997 para apoiar atletas com deficiência e fomentar pesquisas para cura de
paralisias. Com o PPP eu conseguiria ajudar pessoas e resgatar uma de minhas
grandes paixões: o esporte.
Lembro-me, dentre grandes conquistas da ONG, que
conseguimos trazer o Dr. Semion Rochkind de Tel-Aviv, para uma integração com
médicos e pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo. O
intercâmbio rendeu uma linha de pesquisa no laboratório de neurodegeneração da
USP. Mais tarde, lutamos bravamente também pela liberação das pesquisas com
células-tronco embrionárias, hoje um instrumento de estudo e para a cura de
inúmeras doenças graves e degenerativas.
Nessa mesma época, minha mãe passou a insistir para
que eu me candidatasse a um cargo público para ampliar meu trabalho e assim
poder atingir mais pessoas - de forma concreta e direcionada. Foi assim que,
sem apoio e conhecimento político, candidatei-me a vereadora e obtive votos que
me garantiram a suplência.
Nesse ínterim, em 2005, fui convidada pelo então
prefeito José Serra para comandar a primeira Secretaria da Pessoa com
Deficiência do País. Não tínhamos orçamento na pasta, mas conseguimos impetrar
um olhar para a diversidade em todas as outras secretarias da Prefeitura. Eu
não tinha experiência alguma, mas tínhamos um time com muita vontade de
transformar. Em apenas dois anos de atuação, conseguimos ampliar o número de
ônibus adaptados na cidade, que de 300 passaram a ser 3 mil. Sem falar nos 400
quilômetros de calçadas reformadas; na criação do programa Inclusão Eficiente
em parceria com a Secretaria Municipal de Trabalho, que até hoje continua
empregando trabalhadores com deficiência, dentre outros projetos.
Dois anos depois, em 2007, fui eleita vereadora na
Câmara Municipal de São Paulo. Durante meu mandato consegui aprovar quatro
leis: a que cria a Central de Intérpretes de Libras e Guias-Intérpretes para
Surdocegos, a que torna Lei o Programa Municipal de Reabilitação da Pessoa com
Deficiência Física e Auditiva, o Plano Emergencial de Calçadas e o Programa
Censo Inclusão.
Nesse mesmo ano, a ONG Projeto Próximo Passo
expandiu e se transformou no Instituto Mara Gabrilli (IMG), com projetos
robustos, inclusive buscando as pessoas com deficiência nas grandes periferias
de São Paulo. Tempos depois, em 2010, com um pouquinho mais de experiência, mas
a mesma vontade de transformar, me tornei a primeira deputada tetraplégica do
Brasil, com a missão de legislar em nome dos mais de 45 milhões de brasileiros
com deficiência.
Hoje, cumprindo já o meu segundo mandato na Câmara,
olho para trás e vejo que a curva não podia ser diferente. Que tudo que minha
equipe e eu já conquistamos é muito maior que qualquer temor gerado por uma
paralisia. Eu dignifiquei a quebra do meu pescoço desde o dia que resolvi
trabalhar todos os dias para melhorar a minha vida, das pessoas e das cidades.
Tudo isso sem deixar de nenhum dia acreditar que eu
posso voltar a andar. E sem esperar isso acontecer para buscar movimentos e ser
feliz."
Mara Gabrilli para o Diversidade na Rua
(http://goo.gl/p0Uosb)
* Mara Cristina Gabrilli (nascida em São Paulo, 28
de setembro de 1967) é uma psicóloga, publicitária e política brasileira.
FONTE:
por Laura Marcon
NEGATIVA DE MATRÍCULA SOBRE ESSA CONDUTA ILEGAL
É recorrente a conduta ilegal e atentatória
praticada por escolas particulares do Brasil que têm recusado matrícula a
estudantes com deficiência. Essas instituições têm dificuldades em reconhecer
os benefícios da educação inclusiva e continuam presas a um conceito de
deficiência ligado à ideia de incapacidade. Com isso, reforçam a discriminação,
alegando inúmeros motivos sem fundamentos para não receber esses alunos. Muitas
vezes, os estabelecimentos privados de ensino sequer conhecem o educando e suas
potencialidades e imaginam, tão somente, as dificuldades que eles possam ter em
função da deficiência.
A
escola não deveria ser o local de negação de um direito fundamental. Ao
contrário, tem de ser a primeira instituição a dar o exemplo de inclusão,
acolhimento e confiança nas possibilidades de desenvolvimento das pessoas com
deficiência, por mais que os resquícios de um passado excludente e segregador
ainda estejam presentes no pensamento dos sujeitos.
Estabelecimentos particulares são prestadores
de um serviço público por meio de autorização do Estado e estão vinculados ao
regime jurídico-administrativo do país. O ensino é livre à iniciativa privada,
mas esta deve cumprir as normas gerais da educação nacional – como os atos normativos previstos na Constituição
Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), dentre outras legislações, bem como as
portarias de autoridades administrativas competentes (Ministério da Educação, Conselhos
e Secretarias de Educação). Os deveres são comuns a todos – logo, a obrigação
de matricular estudantes com deficiência não cabe somente às escolas públicas,
mas também às particulares.
Como justificativa para a conduta ilegal
de negação de matrícula, as escolas privadas afirmam que são regidas também
pela livre iniciativa, propriedade privada e livre concorrência. Esses
princípios, porém, não devem se sobrepor às normas e regras do sistema
educacional brasileiro. Por essa razão, não se admite que a rede particular não
cumpra as obrigações previstas pela Política Nacional de Educação Inclusiva.
Oferta de
atendimento educacional especializado
O texto constitucional, em seu artigo 208,
estabelece que o Estado deve conceder atendimento educacional especializado
(AEE) a alunos com deficiência, preferencialmente, na rede regular. Mas ainda
há muitos equívocos na compreensão desse serviço. Eugênia Augusta Gonzaga
Fávero, procuradora da República e procuradora regional dos direitos do cidadão
no estado de São Paulo, esclarece na obra Direitos das Pessoas com Deficiência:
Garantia de Igualdade na Diversidade:
“Atendimento
educacional especializado é complemento à escolarização ou educação escolar,
conforme definida no artigo 21 da LDB. Nos termos desse artigo, a educação
escolar compõe-se de: I – educação básica, formada pela educação infantil,
ensino fundamental e ensino médio; II – educação superior. A Educação Especial
é modalidade de ensino, tratada na LDB em capítulo não compreendido entre aqueles
que cuidam dos níveis de ensino. Como modalidade, o atendimento especializado
perpassa todos os níveis de ensino, mas não se confunde com eles. Se esse
atendimento especializado fosse exatamente o mesmo que escolarização, a
Constituição não teria inserido a sua garantia, além do acesso aos ensinos
infantil, fundamental e médio. Portanto, o atendimento educacional
especializado é complemento e refere-se ao que é necessariamente diferente do
ensino escolar, para melhor atender às especificidades dos alunos com
deficiência, abrangendo, principalmente, instrumentos necessários à eliminação
das barreiras que esses alunos têm para relacionar-se com o ambiente externo.
Exemplo: ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras), do braille, do uso de
recursos de informática, e outras ferramentas e linguagens.”
Assim, se o educando necessitar de
atendimento educacional especializado, a instituição de ensino deve procurar
parcerias ou implementar políticas para atendê-lo. Porém, a falta do AEE, um
serviço complementar à escolarização, jamais poderá impedí-lo de frequentar a
sala de aula comum.
Muitos estabelecimentos privados
alegam que não há como obrigá-los a oferecer o AEE quando não possuem estrutura
física adequada e profissionais habilitados. Nesse caso, fica evidenciado o
desconhecimento quanto ao ordenamento jurídico brasileiro, já que a inclusão de
pessoas com deficiência no sistema de ensino não se restringe ao âmbito da rede
pública. As escolas particulares devem ter acessibilidade arquitetônica,
disponibilizar atendimento educacional especializado e material pedagógico
acessível, entre outros serviços e recursos. É fundamental destacar que, aliás,
uma escola particular só pode ser autorizada a funcionar pelos Conselhos de
Educação quando atende às normas de acessibilidade.
Legislação
inclusiva
O Brasil é signatário de documentos
internacionais, como a Convenção de Guatemala de 1999, ratificada e promulgada
pelo decreto nº 3.956/2001, que proíbe qualquer diferenciação que implique na
exclusão ou restrição de acesso aos direitos fundamentais, e a Convenção das
Pessoas com Deficiência de 2006, que garante a esse público o direito de não
ser excluído do sistema educacional regular.
A legislação brasileira ainda tipificou
como crime a recusa, procrastinação, cancelamento, suspensão ou cessação da
inscrição de estudante em instituição de qualquer nível, etapa ou modalidade de
ensino, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que tem (art.
8º, Lei nº 7.853/89), sujeito a pena de um a quatro anos de reclusão e multa.
Negar a matrícula e a participação de qualquer aluno com deficiência é ferir
princípios arduamente conquistados e, sobretudo, destruir sonhos, negando
dignidade à pessoa humana.
A escola deve enfrentar os desafios das
diferenças para se tornar um local de cooperação, de acolhimento e de
desenvolvimento humano. Alguns educandos necessitam de serviços e recursos de
acessibilidade que atendam a suas necessidades educacionais específicas. Essas
singularidades, no entanto, não podem ser utilizadas como pretexto para se
negar matrícula ou confinar pessoas com deficiência em instituições que as
privem do convívio com os demais estudantes. Mesmo que existam locais com
profissionais especializados, isso não impede nem substitui o direito à
educação escolar comum.
Os estabelecimentos de ensino da iniciativa
privada que recusam a matrícula devem ser orientados a cumprir o que estabelece
a legislação brasileira e as normas internacionais. Em caso de negativa, o
Ministério Público e os Conselhos de Educação podem e devem ser órgãos
articuladores que garantam o direito à educação nas instituições regulares aos
alunos com deficiência. Além disso, os estabelecimentos particulares devem
compreender os princípios e fundamentos da educação inclusiva, reconhecer a
grandeza de uma escola aberta às diferenças e trabalhar em prol de uma educação
que promova valores humanos em oposição a expressões de rejeição a todo aquele
que se opõe ao padrão.
Rosângela
Machado é doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
e gerente de
Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação de
Florianópolis (SC).
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
SINCERICÍDIO
Outdoor em Curitiba - segunda-feira (30/11) Foto: Thais Kaniak/G1 |
O uso ilimitado das redes
sociais a meu ver está sugerindo a substituição do relacionamento humano,
pensei, depois que na madrugada do último dia do novembro molhado de Curitiba, recebi
na minha fanpage a postagem de um outdoor pedindo o “fim de privilégios para
deficientes”, assinado pelo “Movimento Pela Reforma de Direitos" – MRD.
Não me assustei, embora tenha
arregalado os olhos para encontrar no texto a razão da piada, já que a sigla do
movimento sugere mau cheiro e nada daquilo era risível. Deve ser coisa de algum composto orgânico
envelhecido, pensei. Um desses infelizes que gostam de boiar sobre tragédias.
A perplexidade, desrespeitosa e
discriminatória do MRD, de tão categórica, machucou moralmente, um universo
impossível de se medir de pessoas com deficiência, pais de autistas ou não,
redes sociais da própria prefeitura de Curitiba, professor de publicidade
amparado no Código de Ética do CONAR, entidades afins, autoridades,
instituições e até políticos que surfaram na onda repudiaram. Para eles ainda é
difícil crer que o eleitor já saiba saber votar.
O outdoor fez lembrar
determinismos genéticos recentes dos seus autores que tem menos chances de ser
felizes. Quem sabe a “criação especial” podia se encaixar como bullying
coletivo, com embasamento tão convincente que todos concordariam com a
pegadinha questionável do ponto de vista de autoridades que a autorizaram.
Curitiba ficou muito
entristecida quando descobriu que alguns dos seus gênios da publicidade, além
de especialistas em preconceitos infames, tiveram defesa em preciosos minutos
de TV em rede nacional e farta mídia impressa para justificar o erro cometido
pela pegadinha que o tal de MRD fez, pagos por nós curitibanos, que vistos
discutidos e relatados seus efeitos não passaram de um tiro no pé.
Muitos curitibanos estão saindo
de casa pela manha sem tomar café, e talvez não almoce porque seus ganhos se
esvaem nas passagens de ônibus que um dia já foram bons. Caminha por uma rua e
talvez não chegue à próxima esquina com as pernas inteiras pelo risco que corre
enfrentando as calçadas ruins.
Muitos curitibanos começam a
falar e possivelmente não consiga concluir o que pretende dizer por que não tem
porta-voz. Então, quando ouvimos que
essa campanha vai continuar... É para levar a sério?
Pais de pessoas com deficiência,
autistas ou não, antes de qualquer ato eles refletem, não fazem escolhas
intuitivas. Reavaliam decisões por mais simples que sejam para trocar de
caminho, pois já descobriram no fundo da alma que ninguém é o mesmo para
sempre.
Afirmo que a peça que pediu o
“fim de privilégios para os deficientes” foi lamentável. A Prefeitura vem
respondendo as críticas dizendo que quem criou a campanha foram os próprios
integrantes do Conselho da Pessoa com Deficiência.
Por isso, muitos recalques da
vida estão sendo levados para as redes. Mensagens subliminares, falar mal disso
ou daquilo nas redes sociais é péssimo, mesmo parecendo legal. O que a
Prefeitura conseguiu com essa campanha foi causar mal-estar e questionamento de
direitos das pessoas que mais necessitam dela.
Às vezes cometemos o
sincericídio que é aquilo que a gente revela, mas não deveria, a exemplo dessa
campanha que mais destruiu, e que por definição inconfessável ao invés de
agregar, os resultados são muito ruins politicamente, pois, se a intenção
inicial era chocar para depois apoiar os direitos dos deficientes, forneceu
mais munição para os adversários políticos.
Por aí se percebe também que
Curitiba independentemente das intensas chuvas dos últimos tempos, deriva há
muito tempo... Abdicou de ser exemplo para outras cidades.
Triste constatação de uma cidade
que até pouco tempo já foi SORRISO.
Nilton Salvador
rosandores@gmail.com
http://autismovivenciasautisticas.blogspot.com.br
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
FATO DO DIA
"A Conscientização Negativa que artigos e eventos promovem em relação à pessoa com deficiência, autistas ou não, pois isso nada traz de benefício e bem-estar para ninguém, porém, todos têm a ganhar quando se promove a CONSCIENTIZAÇÃO POSITIVA, com um novo olhar sobre as deficiências humanas.
Estou aqui para falar não dos velhos estereótipos e ideias pré-concebidas de protocolos, que não estão nem aí para com essas pessoas que são vistas pelas deficiências sociais e políticas como doentes, não tem sua voz ouvida, e respeitada, dificilmente.
Neste estágio da vida não quero ser cúmplice daqueles que fomentam as deficiências humanas em benefício de si mesmos."
“Trecho da minha moção apresentada na oficina sobre os eixos temáticos na IV Conferência Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência” em Curitiba.
O tema desse ano foi:# SOMOS FELIZES.
Eu saí de lá feliz.
TODAS as nossas proposições que fizemos sobre o AUTISMO, foram aprovadas na Plenária Final. Aguardemos agora o fator Tempo, o senhor da razão.
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
Moradores de Marataízes com autismo vão receber auxílio financeiro de R$ 4 mil.
É preciso
comprovar renda insuficiente para aquisição de medicamentos, alimentos para
nutrição adequada, laudo médico e ser residente no município há pelo menos 1
ano
A ajuda aos autistas em vulnerabilidade social é de até 4 mil reais por mês.
Foto:
Divulgação
Agora, em
Marataízes, moradores diagnosticados com Autismo e que vivam em situação de vulnerabilidade
social passam a receber ajuda municipal de R$ 4 mil mensal. O serviço está
sendo aplicado na cidade nesta semana a partir da aprovação da lei que cria o
programa de Assistência ao Cidadão Portador de Transtornos Globais do
Desenvolvimento (TGD).
Os
beneficiados deverão receber o auxílio para que possam fazer um tratamento
adequado e, assim, minimizar os sintomas dos transtornos globais do
desenvolvimento. O recurso poderá ser aplicado em uma série de ações, incluindo
alimentação, medicação, suplementação, até o desenvolvimento de procedimentos
mais complexos: psicoterapia, psicopedagogia, psicomotricidade, fisioterapia,
terapia fonoaudiologia, terapias diversas, musicoterapia, terapia 0020
(integração sensorial e auditiva AIT e intervenções nutricionais adequadas),
entre outros tratamentos.
Para que o
autista de Marataízes tenha direito ao repasse, o responsável precisa comprovar
na Secretaria de Saúde que possui renda insuficiente para aquisição de
medicamentos, alimentos para nutrição adequada de que necessita o tratamento,
apresentar laudo médico, conforme o caso, que comprove ser portador de autismo
e, obviamente, ser residente no município.
FONTE:
Lenilce Pontini
Redação Folha Vitória
terça-feira, 29 de setembro de 2015
Robin Hood está de volta aos palcos com o Instituto SER
Sucesso em 2014, o Instituto SER apresenta a
peça agora no
Theatro Municipal de Paulínia
Projeto que é um dos
únicos do país faz apresentação no Dia Internacional da Saúde Mental
Créditos: Samuel Lorezetti
O Instituto SER, clínica escola que
há mais de 27 anos atende crianças, jovens e adultos com deficiências através
de tratamento e escolarização, apresenta, nos dias 9 e 10 de Outubro, a peça
Robin Hood no Theatro Municipal de Paulínia.
O trabalho, que é sucesso absoluto de
público, já existe há oito anos e é um dos únicos do país. A atividade
artística inclusiva marca o Dia Internacional da Saúde Mental (10 de Outubro) e
envolve mais de 150 pessoas entre artistas profissionais, pais, professores e
educandos especiais que compõem 80% do elenco em cena. A Diretora do Instituto SER, Cláudia Dubard,
ressalta que é preciso oferecer a possibilidade de desenvolver as capacidades dessas
pessoas com música, dança, teatro e todas as artes em geral, que são
ferramentas de trabalho para prevenção e tratamento da saúde mental. “Nesta atividade oferecemos a chance de ver
as habilidades uns dos outros e assim compartilhar as capacidades e limitações.
É um processo de respeito”, completa.
Além de atuação, a atividade
envolve danças típicas do contexto de Robin Hood. As coreografias circulares exigem
organização e ritmo dos participantes. Segundo a bailarina e professora de
dança do Instituo SER, Leila Mansano, a dança proporciona aos educandos uma relação
mais próxima com outro e o conhecimento por si mesmos. “Eles evoluem muito a coordenação motora, sincronia e noção espacial”,
completa.
O espetáculo conta ainda com a
participação de um “coro”, formado por familiares e membros da comunidade em
geral. Durante a peça os educandos do Instituto apresentam um número com
instrumentos de percussão. “A arte
potencializa as capacidades que o ser humano tem de expressar seu instinto
musical. A gente consegue despertar e descobrir novas habilidades deles” relata
a musicista e preparadora vocal, Carolina Blumer.
Daniel Gonçalves Cardoso é educando
da cidade de Paulínia e já participou de outras montagens do Instituto. ”Quando a gente apresenta o espetáculo, as
pessoas querem também que ele vá para outros lugares”. Na peça ele faz
parte do bando de Robin Hood e está animado para se apresentar aos seus
conterrâneos. “Espero que o pessoal
goste!”, comenta.
A trilha sonora do espetáculo Robin
Hood ficará por da banda Taberna Folk, conhecida em todo país por tocar músicas no estilo celta. Segundo
os artistas, estar pela segunda vez nesta apresentação com o Instituto SER é
uma grande honra. “É muito importante poder
usar a nossa arte para ajudar de alguma forma o desenvolvimento desse
projeto”, afirma Ricardo Amaro, músico da banda.
O Instituto SER conta com o selo de
Empresa Amiga da Criança, pois é parceiro da Fundação Abrinq, organização sem
fins lucrativos que tem como missão promover a defesa dos direitos e o
exercício da cidadania de crianças e adolescentes.
Dia Internacional da Saúde Mental
O objetivo desta data é aumentar o
conhecimento público sobre as doenças que fazem parte deste grupo. Para a
diretora do Instituto SER, Cláudia Dubard, apresentar o espetáculo exatamente
no Dia Internacional da Saúde Mental, instituído em 1992, pela Federação
Mundial da Saúde Mental, é uma coroação ao trabalho aberto que tem sido feito
entre os educandos e a comunidade. “A
sociedade tem que ter recursos para o tratamento e educação das pessoas com
doenças mentais, para que elas possam mostrar todas as suas capacidades”,
finaliza.
Serviço: Robin Hood
Data: 9 e 10 de outubro (Dia 9
Apresentação para escolas e entidades. Dia 10 aberta ao público geral)
Horário: Dia 9 às 14h30 e Dia 10 às 19h30
Ingressos: Antecipados até 9 de outubro no
www.bilheteriarapida.com.br ou diretamente no Theatro
Informações: (19) 3272-2520
Sobre o Instituto SER
O Instituto SER é uma clínica
escola que promove o tratamento
e a escolarização de crianças, jovens e adultos deficientes. Fundada em 1989, a
organização oferece suporte e tratamento a pessoas com: autismo,
hiperatividade, transtornos de personalidade ou comportamento, transtornos de
humor, de aprendizagem, déficit de atenção, transtornos das habilidades
motoras, retardos mentais ou psicomotores, síndrome de Asperger e outros. Além
de proporcionar acesso a conteúdos norteados pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais, a clínica escola tem o objetivo promover a inclusão social por meio
do desenvolvimento de atividades como artes, oficinas de artesanato, estudos do
meio, teatro, aula de música, dança,
computação e esportes.
O Instituto SER realiza um trabalho
de estimulação para crianças de 0 a 4 anos e um trabalho educacional
direcionado a pessoas deficientes na faixa etária de 5 a 40 anos. O conteúdo
pedagógico abrange o ensino fundamental e o ensino médio, trabalhados em
parceria com o CEEJA (Centro Estadual de educação de Jovens e Adultos).
Psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas
ocupacionais, educadores físicos, fisioterapeutas e pedagogos buscam dia a dia
desenvolver habilidades de comunicação, socialização em apoio aos educandos na
inserção ao mercado de trabalho, na continuidade dos conteúdos pedagógicos e
adaptação à rotina social.
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Um passeio pela obra de Oliver Sacks
Revisitamos suas principais obras para mostrar
o que aprendemos com elas
Ainda criança, Oliver Sacks não sabia o que
responder quando lhe perguntavam o que seria quando crescesse. Às vezes, dizia
que viraria médico — o pai era clínico geral e a mãe, cirurgiã. Outras,
escritor — na adolescência, um de seus clássicos literários favoritos era o
calhamaço Ulysses, do irlandês James Joyce. Mal sabia que, no futuro, seria
respeitado justamente por aliar as duas profissões. Como médico, formou-se em
Oxford, na Inglaterra, mas, desde 1965, passou a trabalhar nos Estados Unidos.
Nos últimos anos, lecionava Neurologia e Psiquiatria na Universidade Columbia,
em Nova York. Como escritor, lançou 13 livros. O mais famoso deles, Tempo de
Despertar, foi adaptado para o cinema em 1990, com o ator Robin Williams
interpretando o papel do neurologista britânico.
Sacks recebia cerca de 10 mil cartas por ano. A
maioria trazia relatos de portadores de distúrbios neurológicos. Muitos desses
pacientes — que ele não via como coitados e, sim, como heróis — viraram
personagens de seus livros. Os casos eram os mais variados: iam de autismo e
daltonismo a surdez e enxaqueca. Em comum, o fato de que todos esses sujeitos,
sem exceção, se enredaram na difícil arte de se adaptar a condições adversas.
“Podemos aprender muito com os infortúnios dos meus pacientes. As descrições do
problema de um podem soar familiares para outros, que podem se sentir
confortados se as histórias transmitirem resiliência. Escrevo, em parte, para
dizer que nada é o fim do mundo”, disse Sacks.
Fizemos um passeio pela obra e trajetória do
médico-escritor, vítima de um câncer cerebral e morto no dia 30 de agosto deste
ano.
Alucinações (“A Mente Assombrada”, 2012) – Pelo
menos 10% da população já teve algum tipo de alucinação. É o que garante Oliver
Sacks em um de seus principais livros. As mais comuns são ouvir o próprio nome
ou o toque do celular. Se considerarmos aquela fase intermediária entre o sono
e a vigília, a porcentagem pode chegar perto de 100%. Mas há outros tipos:
pessoas cegas tendem a ter alucinações visuais e deficientes auditivos,
musicais. O próprio Sacks, depois de ficar cego do olho direito, passou a ter
alucinações geométricas. “Alucinações não são sinônimo de loucura”,
tranquiliza. “Em geral, são causadas pela superativação dos circuitos cerebrais
responsáveis pela percepção dos sentidos”, ensina.
Alzheimer e Parkinson (“A Mente Assombrada”, de
2012) – Oliver Sacks se dizia fascinado com o poder terapêutico da música. Não
importa se era Verdi, Mozart ou Beethoven. Certas vezes, um paciente que não
conseguia andar começava a dançar. Em outras, um sujeito que não sabia falar
desandava a cantar. Por isso Sacks aconselhava seus pacientes a ouvir muita
música. No caso dos portadores de Alzheimer, melodias que lhe sejam familiares,
capazes de despertar memórias. Em se tratando de pessoas com Parkinson, toda e
qualquer canção é bem-vinda. “O fluxo irregular do movimento dos parkinsonianos
pode melhorar muito com a música, embora ela não precise ser familiar ou
evocativa”, justifica.
Amusia (“Alucinações Musicais”, 2007) – Profundo
apreciador de música clássica, Oliver Sacks costumava dizer que o homem é o
único animal dotado de ritmo. Por esse motivo, interessou-se pelo estudo da
amusia — nome dado à incapacidade de distinguir sons, reconhecer melodias ou
cantar afinado. “Che Guevara foi um exemplo famoso de amúsico: viam-no dançando
mambo enquanto a orquestra tocava tango”, relata. Em 5% dos casos, a amusia é
congênita. Nos demais, é adquirida, provável resultado de lesões cerebrais. O
próprio Sacks relata, nos anos 1970, pelo menos dois episódios de amusia adquirida,
decorrentes de fortes crises de enxaqueca.
Autismo (“Um Antropólogo em Marte”, 1995) – Quando
assumiu a Ala 23 do hospital Bronx State, em Nova York, Sacks passou a cuidar
de pacientes autistas. Logo, procurou descobrir a área que mais lhes despertava
interesse. Para John e Michael, era a matemática. Para Nigel, a música. Para
Steve, a botânica. “Alguns autistas podem ter atrasos no desenvolvimento e
certa incapacidade de entender o código social, mas eram plenamente capazes e
talvez até superdotados em outros aspectos”, recorda. O título do livro, aliás,
foi baseado numa frase dita pela bióloga autista Temple Grandin, da
Universidade do Colorado: “A maior parte do tempo eu me sinto um antropólogo em
Marte”.
Cegueira (“O Olhar da Mente”, 2010) – Oliver Sacks
costumava usar o poeta inglês John Milton e o escritor argentino Jorge Luís
Borges como exemplos de pessoas que conseguiram, de alguma maneira, superar as
limitações trazidas pela deficiência visual. “Apesar do desespero inicial da
perda de visão, algumas pessoas encontram a plenitude de seu poder criativo do
outro lado da cegueira”, relata. No último capítulo do livro, Sacks descreve
casos de cegos que encaravam a deficiência não como uma maldição, mas como
benção. Graças à famosa plasticidade do cérebro, eles desenvolveram tanto os
demais sentidos que, de tão independentes que estavam, abriram mão do uso da
bengala e do cão-guia.
Daltonismo (“A Ilha dos Daltônicos”, 1997) – Um dos
casos mais tocantes acompanhados por Sacks foi o de Jonathan, um pintor de 65
anos que, um dia, sofre um acidente de carro e fica totalmente daltônico. No
dia seguinte, ao acordar, ele descobre que tudo ao seu redor perdera a cor. E o
sentido também. Por inspiração do neurologista, Jonathan reaprende a encontrar
beleza no preto, no branco e no cinza — as únicas cores que seu cérebro
conseguia registrar — e decide adaptar-se à nova realidade. “Os daltônicos
constroem mundos com o que têm. Eles são o centro de seu próprio mundo e não se
sentem deficientes. Nos termos deles, são normais”, valoriza Sacks.
Enxaqueca (“Enxaqueca”, de 1970) – Não foi por
acaso que o primeiro livro escrito por Oliver Sacks tenha sido protagonizado
pela enxaqueca. Desde pequeno, ele sofria alterações visuais decorrentes de
fortes crises. Por alguns minutos, perdia a noção de cor, movimento ou
profundidade. Para a maioria das pessoas, enxaqueca não passa de uma dor de
cabeça intensa. Para Sacks, é mais do que isso. “É quase uma enciclopédia
inteira de neurologia”, diz. Na maioria dos casos, pode sinalizar algo mais
grave, que precisa ser investigado pelo médico. E mais: nem sempre é a dor em
si o principal sintoma do transtorno. É preciso ficar atento a náuseas, acessos
de vômito e desconforto abdominal, por exemplo.
Esquizofrenia (“A Mente Assombrada”, 2012) – Oliver
Sacks era o caçula de quatro irmãos. Quando completou 13 anos, um deles,
Michael, começou a apresentar “delírios e surtos psicóticos explosivos”. Foi
diagnosticado como esquizofrênico. Em sua biografia, Sacks relata que, desde os
primeiros anos de vida, Michael sempre foi diferente: encontrava dificuldade em
estabelecer contato, não tinha amigos e parecia viver num mundo próprio. Por
diversas vezes, teve que ser levado às pressas para o hospital. Sacks sentia
vergonha por não ter sido um irmão mais companheiro e afetuoso. “Nunca estive
ali quando ele tanto precisava”, lamenta. Michael Sacks morreu em 2006, aos 78
anos.
Letargia encefálica (“Tempo de Despertar”, 1973) –
Seu livro mais famoso relata sua experiência com portadores de encefalite
letárgica. De origem misteriosa, pode transformar os doentes, em casos
extremos, em “belas adormecidas”. A partir da administração de L-Dopa, um
remédio usado no tratamento do Parkinson, Sacks conseguiu retirá-los do estado
catatônico em que viviam desde o fim da Primeira Guerra Mundial e devolver a
eles suas capacidades intelectuais. A cura não foi definitiva — em um período
de três anos, voltaram à letargia original —, mas a experiência demonstrou que
a humanização da prática médica e a caça constante por novas abordagens
terapêuticas são cruciais no restabelecimento de um doente.
Melanoma (“O Olhar da Mente”, 2010) – Em dezembro
de 2005, Oliver Sacks foi diagnosticado com um raro melanoma ocular, tipo de
tumor que o deixou cego do olho direito. Na ocasião, chegou a criar um “Diário
do Melanoma”, onde deixava claro seu medo de o câncer se espalhar, e a fazer um
“pacto” com a doença: “Leve o olho, se for o caso, mas deixe o resto de mim em
paz”. Sacks tinha medo de ficar cego. Mas seu medo de morrer era ainda maior.
Nove anos depois, o temor tornou-se realidade. Apesar de removido com cirurgia
e combatido com radioterapia, o tumor se espalhou. “Em casos raros, ele se
torna uma metástase. Estou entre os 2% dos desafortunados”, lamentou.
Prosopagnosia (“O Homem que Confundiu sua Mulher
com um Chapéu”, 1985) – Os cientistas deram o nome de prosopagnosia à
dificuldade crônica que alguns indivíduos têm de reconhecer rostos. O próprio
Sacks era “cego para feições”. Certa vez, chegou a pedir desculpas ao próprio
reflexo depois de esbarrar em um espelho. Desde então, passou a prestar atenção
a características específicas dos outros, como modo de vestir, jeito de andar
ou tom de voz. Mesmo assim, quando organizava festas, distribuía crachás aos
convidados. “Boa parte do que chamam de timidez, desatenção ou inépcia social
não passa de consequência da minha dificuldade de reconhecer feições",
confessou.
Síndrome de Tourette (“Um Antropólogo em Marte”,
1995) – “Sempre me interessei por condições extremas, que desafiam a humanidade
das pessoas e, de certa forma, as forçam a criar uma vida com uma base pouco
comum”. Essa foi uma das razões que levou Sacks a estudar a Síndrome de
Tourette, nome dado a um distúrbio neuropsiquiátrico que leva as pessoas a
fazer movimentos repetitivos e involuntários. “Talvez eu tenha ajudado a
apresentar a síndrome ao público e isso tenha gerado uma espécie de empatia”,
acredita. Mais do que isso, Sacks descobriu que a música, especialmente o rock
e o jazz, pode ter efeito terapêutico sobre os tiques dos portadores de
Tourette.
Surdez (“Vendo Vozes”, 1989) – Quando esboçou o
interesse de escrever um livro sobre o tema, Sacks ouviu das pessoas: “Não há
nada de interessante na surdez, há?”. Por esse motivo, costumava repetir que
“somos notavelmente ignorantes a respeito dela”. Para escrever “Vendo Vozes”,
visitou instituições voltadas para estudantes surdos, como a Universidade
Gallaudet, em Washington. Lá, foi interpelado por um dos alunos: “Por que você
não se vê como um deficiente nos sinais?”. Depois dessa, Sacks até tentou, mas
não conseguiu aprender a linguagem dos sinais. “Infelizmente, nunca fui capaz
de formular mais do que algumas poucas palavras e expressões”, assumiu.
FONTE:
http://mdemulher.abril.com.br/saude/saude-e-vital/um-passeio-pela-obra-de-oliver-sacks
Escrito por André Bernardo (colaborador) Editado por Diogo Sponchiato
domingo, 30 de agosto de 2015
Morre aos 82 anos o neurologista e escritor Oliver Sacks
Em artigo publicado em fevereiro no "The New
York Times", Sacks anunciou que sofria de um câncer em fase de metástase.
O professor e escritor Oliver Sacks(Getty Images/VEJA) |
O neurologista e escritor britânico Oliver Sacks
morreu neste domingo em sua casa de Nova York, aos 82 anos. O escritor ficou
famoso com livros como O homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu e Tempo
de Despertar. Ele usava seus casos clínicos, pacientes e as doenças que tratava
para refletir sobre a consciência e a condição humana.
Sacks morreu devido ao câncer que enfrentava há
nove anos. Em comovente artigo publicado em fevereiro no The New York Times,
Sacks anunciou que um melanoma em seu olho tinha se espalhado para o fígado e
que estava em fase terminal. Em sua despedida dos leitores, escreveu: "Há
um mês, me encontrava bem de saúde, francamente bem. Aos meus 81 anos, seguia
nadando um quilômetro e meio todos os dias. Mas minha sorte tinha um limite:
pouco depois, soube que tenho metástases múltiplas no fígado".
"Há nove anos descobri no olho um tumor pouco
frequente, um melanoma ocular. Apesar da radiação e do tratamento de laser que
me submeti para eliminá-lo terem me deixado cego desse olho, é muito raro que
esse tipo de tumor se reproduza. Pois bem, pertenço aos infelizes 2%",
revelou Sacks. "Devo decidir como viver os meses que me restam. Tenho que
vivê-los da maneira mais rica, intensa e produtiva que eu possa. Devo dar
prioridade ao meu trabalho, a meus amigos e a mim mesmo. Vou deixar de ver o
jornal da televisão todas as noites. Vou deixar de prestar atenção na política
e nos debates sobre aquecimento global. Não é indiferença, mas sim
distanciamento", acrescentou na carta aos leitores.
Sacks descreveu sua vida como um
"privilégio" e "uma aventura". Ao concluir a carta de
despedida publicada pelo jornal nova-iorquino, disse que não podia fingir que
não tinha medo, mas afirmou que "o sentimento que predomina é a
gratidão".
Em obituário publicado no mesmo The New York Times,
Sacks é descrito como "um ardente humanista, fosse escrevendo sobre seus
pacientes, sobre sua paixão por química ou sobre o poder da música".
"Ele saltava entre os assuntos, colocando luz na maravilhosa e estranha
interconectividade da vida - as conexões entre ciência e arte, fisiologia e
psicologia, a beleza e a economia do mundo natural e a magia da imaginação
humana."
No mês passado, chegou ao Brasil sua autobiografia
Sempre em Movimento, que revela outros obstáculos superados por Sacks. Judeu e
homossexual na Inglaterra em meados da Segunda Guerra Mundial, enfrentou o
preconceito dos pais, conviveu com os surtos de esquizofrenia do irmão Michael
e viveu desilusões amorosas que o levaram às drogas. Seu primeiro sucesso veio
em 1973, Tempo de Despertar, livro que virou peça teatral, documentário e
inspirou o filme homônimo estrelado por Robert De Niro e Robin Williams,
indicado a três estatuetas no Oscar.
(Da Redação de VEJA)
sábado, 22 de agosto de 2015
Portador de autismo consegue direito à internação em instituição particular
Diante da inexistência de atendimento em entidade
pública, um portador de autismo obteve na Justiça Federal o direito de
internação em uma instituição particular, pelo tempo que for necessário, até
que seja criada uma unidade apta para sua internação no âmbito da Rede de
Atenção Psicossocial – RAPS, por ente próprio ou conveniado.
A decisão (sentença), do juiz Carlos Alberto
Antônio Júnior, da 1ª Vara Federal de São José dos Campos/SP, determina ainda
que a União Federal, o Estado de São Paulo e o Município custeiem os gastos com
a internação na instituição escolhida por sua mãe, cuidadora e representante do
paciente.
Segundo a sentença, a doença que acomete o autor da
ação é tratada no âmbito das políticas públicas de saúde sob o signo dos
Transtornos do Espectro do Autista (TEA). O portador de TEA, de acordo com o
disposto no artigo 1º, § 2º da Lei nº 12.764/2012, é considerado deficiente
para todos os fins e, por isso, recebe proteção pelo Decreto n.º 6.949/2009.
“É assente o direito subjetivo do autor ao recebimento
das prestações de saúde, como não poderia deixar de sê-lo, sob pena de violação
constitucional. Mas é na Lei n.º 12.764/2012 que se encontram as normas que
garantem ao autor todas as formas de tratamento de saúde”, afirma o juiz na
decisão.
Na ação foi alegado que o paciente possui alto grau
de agressividade e que a mãe cuidadora não possui condições, inclusive
financeiras, de tratar do filho. “Salta aos olhos o direito do autor à
internação, constatado em sua terapêutica. Por outro lado, a Rede de Atenção
Psicossocial – RAPS do município local, ao contrário do que sustenta o Estado
de São Paulo, não tem a estrutura necessária para o tratamento”, ressalta o
magistrado.
Na opinião de Carlos Alberto, “compete ao SUS
promover a internação do autor para cuidados prolongados, [...] não podendo a
realização deste direito ficar sob discricionariedade administrativa, sob
alegação de inexistência de local adequado para realizá-lo. Na falta de local
público para a realização do tratamento adequado, compete ao Poder Público
socorrer-se da rede privada”.
Para operacionalização contratual, a entidade onde
deverá ser internado o autor deverá ser contratada e custeada pelo município de
São José dos Campos, à custa de repasse orçamentário federal e estadual, não podendo
a falta de repasse orçamentário prejudicar o autor, assegurando-se ao município
o direito de regresso em ação própria contra os demais entes caso não haja
solução consensual nos comitês intergestores.
“É notório que o autor e sua mãe estão sendo impedidos
de uma participação social digna em razão da falta de atendimento a uma doença
cuja lei atribui ao Estado, sob a égide da Constituição, a responsabilidade
pela terapêutica. A demora na resolução da questão tolhe a cidadania dos
envolvidos”, entende o juiz.
Uma vez que no futuro haja ente público ou
conveniado pelo SUS para atendimento das necessidades do paciente, fica
autorizada a transferência para referida instituição, desde que ouvida e
autorizada por equipe médica multidisciplinar. Em caso de descumprimento da
decisão, foi fixada multa diária de R$ 500,00 a ser revertida em favor do
autor. Decisão é da 1ª Vara Federal de São José dos Campos (SP).
Processo: 0006363-90.2009.403.6103
Fonte: Da redação (Justiça em Foco), com Tribunal
Regional Federal da 3ª Região.
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
Novo símbolo da Acessibilidade
No meio de um circulo preto, sobre fundo branco,
uma figura de palitinhos de braços e pernas abertas ate o limite do circulo,
com cara, mãos e pés representados por bolinhas azuis.
O novo símbolo da acessibilidade foi desenhado pela
Unidade de Desenho Gráfico do Departamento de Informação Pública das Nações
Unidas, em Nova York, a pedido da Divisão de Reuniões e Publicações do
Departamento de Assembleia Geral e Gestão de Conferências das Nações Unidas, e
será daqui em diante referido como o “logotipo acessibilidade”.
O alcance global deste logotipo é transmitido por
um círculo, com a figura simétrica conectado para representar uma harmonia
entre os seres humanos em sociedade. Esta figura humana universal com os braços
abertos simboliza inclusão para as pessoas de todos os níveis, em todos os
lugares.
O logotipo de acessibilidade foi criado para uso em
produtos de informação pública impressos e eletrônicos para aumentar a
conscientização sobre as questões relacionadas à deficiência, e pode ser usado
para simbolizar produtos, lugares e tudo o que é ‘amigável às pessoas com
deficiência’ ou acessível.
O logotipo de acessibilidade foi criado para
representar a acessibilidade para pessoas com deficiência. Isso inclui a
acessibilidade à informação, serviços, tecnologias de comunicação, bem como o
acesso físico. O logotipo simboliza a esperança e a igualdade de acesso para
todos. Ele foi revisto e selecionados pelos Grupos Focais sobre Acessibilidade,
trabalhando com a Força-Tarefa Internacional sobre acessibilidade no
Secretariado das Nações Unidas. O grupo é composto por organizações da
sociedade civil eminentes, incluindo as organizações das pessoas com
deficiência, tais como pessoas com mobilidade reduzida Internacional do Povo, o
Disability Alliance International, Rehabilitation International, Leonard
Cheshire Internacional e Human Rights Watch, entre outros.
O logotipo de acessibilidade é neutro e imparcial.
A utilização do logotipo não implica o endosso pela Organização das Nações
Unidas ou do Secretariado das Nações Unidas.
Fonte:
http://www.un.org/webaccessibility/logo.shtml
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Longe da Ritalina: alternativas no tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção
Na contracorrente da medicalização no combate à
hiperatividade e ao déficit de atenção, as terapias orientais conquistam
seguidores levando em conta a complexidade do indivíduo
O yoga possibilita uma melhora em relação à
concentração; Além dos exercícios respiratórios, os asanas (posturas) vão sendo
trabalhados a partir de uma história.
Foto: Ricardo Fernandes/Arquivo DP/D.A |
O yoga possibilita uma melhora em relação à
concentração; Além dos exercícios respiratórios, os asanas (posturas) vão sendo
trabalhados a partir de uma história
Foto: Ricardo Fernandes/Arquivo DP/D.A Press
Distração, desatenção, agitação, impulsividade,
esquecimento, desorganização. Características do transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou comuns às crianças? O processo de
medicamentização das reações humanas, como tristeza, medo, insônia, chegou
também à infância? A cada dia, aumenta o volume de diagnósticos e prescrições
de drogas como alternativa para o controle de alterações orgânicas relacionadas
ao funcionamento cerebral e do comportamento.
No best seller Saving normal, ainda inédito no
Brasil, Allen Frances, um dos psiquiatras mais influentes do mundo, faz uma
séria e urgente crítica à medicalização generalizada e a mais nova edição do
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais-5 (DSM-5), a “bíblia da
psiquiatria” que dirigiu durante anos. O médico adverte: a principal referência
acadêmica da especialidade ampliou enormemente o número de transtornos
patológicos e está convertendo milhões de pessoas normais em "pacientes
mentais".
Em entrevista ao jornal El País, o psiquiatra
confessa a incapacidade de reverter a ideia, construída pelos laboratórios, de
que o transtorno psiquiátrico é algo muito comum e de fácil solução. “Não há
evidência em longo prazo de que a medicação contribua para melhorar os
resultados escolares. Em curto prazo, pode acalmar a criança, inclusive
ajudá-la a se concentrar melhor em suas tarefas. Mas em longo prazo, esses
benefícios não foram demonstrados”, afirma. Frances diz, inclusive, que está
conduzindo um experimento em grande escala com crianças medicadas, porque ainda
não se sabe que efeitos adversos esses fármacos podem ter com o passar do
tempo.
"Assim como não nos ocorre receitar
testosterona a uma criança para que renda mais no futebol, tampouco faz sentido
tentar melhorar o rendimento escolar com fármacos", declara. A receita de
Allen Frances é simples: a sociedade precisa aceitar as diferenças entre as
crianças, elas não cabem em um molde de normalidade cada vez mais estreito.
"É muito fácil fazer um diagnóstico errôneo, mas muito difícil reverter os
danos que isso causa. Tanto no social como pelos efeitos adversos que o
tratamento pode ter".
Concordando com o psiquiatra norte-americano, vem
ganhando voz no mundo uma corrente crítica às terapias medicamentosas. "O
próximo passo é conscientizar as pessoas de que remédio demais faz mal para a
saúde", defende Frances, para quem caberia ao Ministério da Saúde difundir
esta prática. Para profissionais como ele, o tratamento de patologias como TDAH
devem ser observadas em sua complexidade e singularidade, já que podem ser
causadas por fatores biológicos e sociais, com componentes ambientais, e, por
isso mesmo, receber tratamentos alternativos capazes de ajudar na busca por
mais serenidade, foco, concentração. Não por acaso, as terapias holísticas
orientais vêm sendo “redescobertas” .
Desequilíbrio entre o yin e o yang
"Na medicina oriental, tratamos do todo,
olhamos para a pessoa com uma lente grande angular... A mente do médico alopata
é muito pequena", afirma o acupunturista Gustavo Sá Carneiro.
Foto: Juliana Leitão/Arquivo DP/D.A.Press
Formado em medicina pela Universidade de Pernambuco
(UPE), membro da Associação Brasileira de Acupuntura e com cursos na Associação
Francesa e na Academia de Medicina Tradicional Chinesa, em Pequim, o homeopata
e acupunturista Gustavo Sá Carneiro não tem dúvidas de que é possível sim,
tratar o TDHA sem oferecer a Ritalina ou Conserta (drogas derivadas da
anfetamina que têm o Metilfenidato como principio ativo). "A medicina
ocidental é imediatista, não vê o indivíduo como um todo, mas em partes. É um
erro incrível. Na medicina oriental, tratamos do todo, olhamos para a pessoa
com uma lente grande angular, uma 'olho-de-peixe'. A mente do médico alopata é
muito pequena, muito autorreferente", queixa-se, apontando como
alternativa a homeossiniatria, que integra dois sistemas terapêuticos
complementares: a acupuntura e a homeopatia.
"Essas pessoas têm alterações de pulso
correspondentes a determinados órgãos, o baço e o fígado, que levam a nutrição
ao córtex cerebral. Falta sangue no córtex. Há um desequilíbrio entre o yin, que
é a nutrição, e o yang, que é a distribuição, a manutenção da circulação do
sangue. As células neurais recebem pouca nutrição, causando distração. As
pessoas não se concentram direito. O tratamento para suprir essa deficiência
atua nos pontos de tonificação do fígado e do baço e mantém esse nível
estável", simplifica. Um hábito adotado pelo próprio médico também pode
fazer parte da solução. Ele não usa celular ou computador. Alega que as ondas
emitidas podem afetar o equilíbrio energético do corpo e o cansaço na visão,
devido à grande exposição à luz. Para o médico, os olhos são a janela do fígado
e a visão desgastada traz reflexos diretos ao órgão.
Segundo Sá Carneiro, o diagnóstico e o tratamento
devem ser feitos a partir dos cinco anos de idade, quando o pulso da criança
estabelece uma identidade, algo mais consciente. A anamnese avalia o indivíduo
desde a vida uterina. "É preciso saber como a criança nasceu, acompanhar
seu histórico, saber se a mãe foi saudável no período da gravidez, se sofreu uma
queda ou teve infecções graves, estresse grande, depressão. O filho geralmente
traz essa resposta. Ainda no útero, a criança pode passar por uma deficiência
de serotonina", acrescenta, adiantando que o pulso da mãe também pode ser
verificado "porque tem uma memória", explica.
A partir do diagnóstico, é estabelecida a terapia.
"O tratamento é para a pessoa, não para a doença. É preciso verificar
quais são as insuficiências, os excessos de cada órgão e fazer esse equilíbrio.
É preciso prestar atenção à criança. O diagnóstico vai se consolidando durante
o processo e esse movimento atrai novas medicações, todas exatas e muito
pessoais. Acaba uma ação e começa outra, porque durante o tratamento, o pulso
muda", explica. Para o especialista, o próprio corpo vai se organizando
naturalmente e a pessoa descobre ela mesma um equilíbrio espontâneo. Segundo
ele, o efeito é surtido nos sistemas neurais que fazem um outro tipo de
aprendizagem, começando a sentir essas alterações a partir dos novos estímulos.
A alimentação também pode ter um papel fundamental
nesse processo: quanto menos açúcar, melhor; crustáceos nunca, devendo ser
evitados também carne de porco ou derivados, coco e chocolate. "O açúcar é
muito quente, sobrecarrega o fígado, órgão mais quente do corpo, causa a
hiperatividade do fígado e a criança fica completamente plena de calor, não
dorme, fica desatenta. Gordura e fritura alteram o fígado e a vesícula",
contraindica Sá Carneiro.
Os alimentos indicados são frutas, verduras,
cereais, reservas de nutrição. Frutas, preferencialmente as cítricas. Os
cereais ideais são arroz integral, grão-de-bico, lentilha e ervilha. Entre as
carnes, as de boi, galinha (cozida e depois assada para acabar com os aditivos,
antibióticos e hormônios) e peixe (de preferência de mar e escamas). O médico
sugere ainda experimentar alimentos amargos como rabanete e escarola e explica:
"O amargo agrupa e o açúcar amolece, embota os pensamentos".
Consciência do corpo pelo yoga
O yoga possibilita uma melhora em relação à
concentração; Além dos exercícios respiratórios, os asanas (posturas) vão sendo
trabalhados a partir de uma história.
Foto: Ricardo Fernandes/Arquivo DP/D.A Press
O yoga possibilita uma melhora em relação à
concentração; Além dos exercícios respiratórios, os asanas (posturas) vão sendo
trabalhados a partir de uma história.
Foto: Ricardo Fernandes/Arquivo DP/D.A Press
Para as crianças a partir dos seis anos, ele
orienta ainda o Yoga, como fez com os próprios filhos em busca de
tranquilidade, concentração. No Recife, algumas clínicas e escolas oferecem a
prática para o público infantil. Encantada pelos benefícios do Yoga em sua
vida, a pedagoga, coordenadora pedagógica e psicomotricista relacional Tércia Pereira
resolveu levar as aulas para dentro da escola. "Temos crianças com vários
diagnósticos e é fato que o Yoga possibilita uma melhora em relação à
concentração. Os exercícios respiratórios são uma grande oportunidade de parar,
acalmar. Temos crianças autistas, com Síndrome de Down, sendo beneficiadas
sim", garante a profissional do Colégio Apoio, zona norte do Recife.
As aulas, de meia hora, acontecem duas vezes por
semana para alunos do segundo ciclo, a partir dos seis anos de idade. Os
asanas, posturas que têm nomes de animais, plantas e elementos da natureza como
montanha, lua, vão sendo trabalhados a partir de uma história. "As
crianças vão se envolvendo e entrando nessa dinâmica e você vê de fato a
evolução, um progresso muito interessante. A aceitação é muito forte. Eles se
atraem de uma forma linda, diferente do adulto. Começamos com um trabalho
respiratório, com a vibração do mantra do universo, entrando nessa
sintonia", atesta, enfatizando que é possível lançar mão de outras
alternativas para acalmar essa inquietação.
Entusiasmada, Tércia reflete que a prática atende a
uma necessidade da criança de hoje: "Eles estão querendo essa parada. A
gente está vivendo um mundo acelerado, mas que tira da criança o movimento
corporal que é dela, desde a vida uterina. Elas são levadas à informatização
muito cedo. Os jogos trazem essa coisa estressante. A maioria vive em
apartamentos, tem uma demanda do corpo limitada, num espaço bem reduzido de
possibilidades”. O Yoga, diz ela, traz de fato essa retomada de consciência de
ter o momento para parar. Nas aulas, os alunos têm espaço para sentir a
respiração, cada parte do corpo, numa proposta de meditação dosada com
dinâmicas lúdicas e utilizando uma linguagem.
Na casa da administradora Mônica Remígio Rodrigues,
o resultado foi percebido com clareza. Seus dois filhos, Mariana, de oito anos
e Mário, de seis, mudaram o comportamento após as aulas. "Ele é agitado em
tudo, inclusive no aprendizado. Não para o corpo, é super, hiperativo. Tem um
raciocínio muito rápido. Hoje, quando se estressa, senta na posição de Yoga e
começa a respirar. Já ela é mais calma, também adora a prática e ensina também
em casa", conta a mãe, que percebe os efeitos positivos nos dois tipos de
personalidade.
O papel da família, aliás, também é apontado por
Tércia como fundamental em todo o processo. "É preciso que os pais brinquem
com os filhos, extravasem essa energia que gera ansiedade. Mas, muitas vezes é
apenas cobrado que as crianças fiquem quietas. As pessoas não têm tempo para
nada, mas passam horas na frente do computador. Uma simples caminhada melhora
intestino, a ansiedade, o sono. O comportamento da família mudando, vai trazer
essa mudança também", enfatiza.
Aos mestres, cabem ainda alguns questionamentos
para que essa mudança não precise passar pela medicação, mas também por uma
pedagogia adequada e não tão focada na valorização do desempenho, na
produtividade, nas exigências de competências multitarefas. "Trabalho em
educação há 30 anos e é preocupante demais. Vamos ver o que é de fato
indisciplina. Eles estão descobrindo as coisas. Claro que temos que educá-los,
mas o papel do professor é muito importante dentro dessa perspectiva",
alerta.
FONTE:
Patrícia Fonseca - Diário de Pernambuco
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2015/08/03/interna_vidaurbana,589877/alternativas-as-drogas-no-tratamento-do-tdah.shtml
No Recife, a prática do yoga infantil é oferecida em alguns
estúdios. Confira:
Clínica
Movida Rua Samuel de Farias, 197, Casa Forte, Recife
Telefone:
(81) 3267.5793
Sádhana
Núcleo Cultural de Yoga
Rua das
Graças, 178, Graças, Recife
Telefones:
(81) 3077 3707
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