quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Viagens com autistas… Conheça Sam e James e sua história de 6 meses pela África




Conheça a história de Sam e sua superação em sua viagem com seu pai de 6 meses pelo continente africano, todos os pais de autistas colocam uma grande barreira para viajar com seus filhos as vezes essas viagens pode ser um grande aprendizado e a superação para seu “anjo azul”, veja mais desta história abaixo:
ESSE AUSTRALIANO ACREDITAVA QUE VIAJAR PODERIA TRAZER BENEFÍCIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO SEU FILHO AUTISTA E APOSTOU EM UMA AVENTURA DE 6 MESES PELA ÁFRICA. 
Eu mais do que ninguém acredito muito no poder de aprendizado e transformação de uma longa viagem e quando tomei conhecimento da história deles fiquei encantada em compartilhar. É uma história linda, que mostra o potencial e os benefícios de viver essa experiência para qualquer pessoa. 
James é médico de família em Sydnei, na Austrália, e em 2015 decidiu realizar uma aventura pela África com o seu filho autista, Sam de 14 anos, visitando 10 países ao longo de 6 meses. Foram dois anos de preparação. A viagem foi projetada para expor propositadamente Sam à imprevisibilidade e incerteza, a fim de melhorar as habilidades de comunicação, sociais e de vida de Sam. A experiência foi compartilhada através do blog Sam and James Life, e eu pedi ao James que compartilhasse com a ViraVolta um pouco dessa aventura.
ViraVolta, Volta ao Mundo, Viagem pelo Mundo, Viagem Longo Prazo, Mochileiros, 6 meses pela África, filho autista
 “James, eu acho que Sam apresenta um quadro de autismo”, disse o pediatra, bem direto. 
Era 2004, e meu filho Sam tinha quase três anos de idade.
Como muitos pais, minha esposa Benison e eu atravessamos o trauma de lidar com um diagnóstico de autismo em nosso filho, e sofremos a dura rotina de uma intervenção precoce intensiva. As habilidades de comunicação e sociais de Sam melhoraram com anos de trabalho duro; trabalho mais difícil ainda para o Sam.
Benison, que é escritora médico, foi abordada para co-escrever um livro para pais que lidam com um novo diagnóstico de autismo. Um guia, podemos dizer. “The Australian Autism Handbook” viria a se tornar a bíblia best-seller sobre o autismo para famílias australianas na mesma situação. Eu era um médico de família e minha prática logo passou a ser mais focada no autismo.
Quando Sam chegou na adolescência, ele foi transferido de uma escola primária de necessidades especiais para uma escola mainstream, então Benison e eu começamos a nos perguntar se havia algo mais que poderíamos fazer para tentar melhorar as habilidades de Sam e maximizar a sua independência. Nós dois estávamos familiarizados com as últimas pesquisas e pensando sobre o autismo e, em especial, autismo na adolescência.
A adolescência foi emergindo como uma nova fronteira para explorar em neurobiologia. É um momento de grandes mudanças físicas, e o cérebro é parte disso. O crescimento neuronal aumenta, mas ao mesmo tempo faz uma “seleção”, onde os nervos menos utilizados, conexões e caminhos são eliminados. A adolescência tem sido descrita como uma “segunda infância”.
ViraVolta, Volta ao Mundo, Viagem pelo Mundo, Viagem Longo Prazo, Mochileiros, 6 meses pela África, filho autista
O autismo recebe um enorme foco e atenção nos primeiros anos da infância, porém, quando o cérebro é inerentemente mais “plástico” e, portanto, capaz de ser remodelado, essa é também uma ótima oportunidade para melhorar os resultados. Agora, uma forte base de evidências apoia esta teoria. Então, por que não a adolescência?
Combinando o que sabíamos sobre pesquisas do autismo, e sobre a adolescência e neurobiologia, fazia muito sentido para mim e Benison aproveitar esta oportunidade. Uma exposição prolongada e intensa à incerteza e à imprevisibilidade em um ambiente dinâmico durante o pico da adolescência, onde o único objetivo seria de melhorar as habilidades de Sam e, consequentemente, reduzir a sua deficiência para o resto de sua vida.
Bem, essa era a teoria. O experimento? Uma viagem de seis meses pela África tentando maximizar imprevisibilidade. Sam e eu viajamos sem muito conforto e de forma não planejada por dez países: África do Sul, Lesoto, Namíbia, Botswana, Zimbabwe, Zâmbia, Malawi, Uganda, Quênia e Tanzânia.
Demorou um pouco para Sam perceber o quão difícil isso seria para ele, mas a ficha acabou caindo. Depois de alguns dias ele começou a ficar agitado, pedindo constantemente para ir para casa, e, pela primeira vez ele ficou fisicamente agressivo comigo. Logo ficou evidente que este seria um trabalho duro para nós dois.
O idioma, sotaques, as barreiras culturais… Houve uma infindável variedade de desafios, de decisões a serem tomadas e de novidades a serem tratadas. A gente se deslocava pulando na caçamba de caminhões de trigo, pegando ônibus locais transbordando de passageiros, bagagens e até galinhas, ou até mesmo de canoa para cruzar um rio.
ViraVolta, Volta ao Mundo, Viagem pelo Mundo, Viagem Longo Prazo, Mochileiros, 6 meses pela África, filho autista

ViraVolta, Volta ao Mundo, Viagem pelo Mundo, Viagem Longo Prazo, Mochileiros, 6 meses pela África, filho autista
Sam teve de lidar com a realidade de conhecer pessoas novas o tempo todo. Ele nunca teve que falar tanto em sua vida, muito menos com pessoas desconhecidas de lugares que ele nunca tinha ouvido falar antes. E logo a experiência começou a mostrar o seu potencial. A intensa ansiedade e angústia evidente no início da viagem começou a diminuir e a base de competências de Sam começou a crescer. Ele estava lidando melhor com as multidões, as tentativas de conversa, o caos e a incerteza.
Como o nosso roteiro começou pelo Sul da África seguindo em direção à parte central leste, logo a nossa viagem se tornou mais áspera, os locais menos desenvolvidos, mais isolados e os desafios maiores. Os países do início da viagem, África do Sul, Namíbia e Botswana, eram relativamente mais civilizados em comparação com os seguintes; Zimbabwe, Zâmbia, Malawi e Uganda.
ViraVolta, Volta ao Mundo, Viagem pelo Mundo, Viagem Longo Prazo, Mochileiros, 6 meses pela África, filho autista
Nós acabamos visitando lugares que eu nunca tinha ouvido falar ou planejado ir. Três tentativas mal sucedidas de entrar em Moçambique nos deixou presos em uma fronteira por dois dias, o que nos fez pegar carona em uma ambulância decrépita em direção à cidade onde voaríamos para Uganda, um país que nunca planejei visitar em minha vida. A África definitivamente garantiu muitas incertezas.
Sam voou em um helicóptero sobre o Victoria Falls, se aventurou em motos através de cidades populosas, fez rafting descendo o rio Nilo, passeou de canoa através das zonas húmidas do Okavango Delta e ficou preso no meio de uma grande migração, com uma manada de gnus correndo em torno do nosso veículo antes de enfrentar o ataque de crocodilos no Rio Mara.
Houve encontros próximos com elefantes, hipopótamos, rinocerontes, guepardos, leopardos, crocodilos e leões é claro. Uma vez um hipopótamo pisou sob a nossa cabana e um mês mais tarde um leão descansou do sol sob o nosso carro. Os olhos de Sam estavam arregalados.
ViraVolta, Volta ao Mundo, Viagem pelo Mundo, Viagem Longo Prazo, Mochileiros, 6 meses pela África, filho autista
Ele teve muitas lições e experiências culturais e sociais. Pela primeira vez em sua vida, ele viu a pobreza, aparente nos mendigos nas ruas e em vastas favelas ao redor das cidades. Ele testemunhou em primeira mão a corrupção policial, o suborno exigido para atravessar fronteiras e mais para o fim da viagem um assalto. Além das aulas de história incluindo Mandela e o apartheid, a corrupção e a violência dos regimes de Mugabe e Idi Amin, e as terríveis consequências do tráfico de escravos e da colonização.
Enquanto meu filho foi se tornando mais mundano, eu estava me tornando mais exausto.
Nós chegamos em direção à linha de chegada. Equipamentos quebrados, pertences perdidos e corações cheios de saudades de casa. Sam tinha mudado. O que parecia impossível no início se tornou banal. Fazer refeições, decidir que caminho seguir, conversar com um estranho. Sam não reclamava mais. Não era só por que ele sabia que chegaria logo em casa, mas ele também entendia que ele tinha aprendido a lidar com aquelas situações; e através da um grande desafio.
Volta, Volta ao Mundo, Viagem pelo Mundo, Viagem Longo Prazo, Mochileiros, 6 meses pela África, filho autista
Finalmente voltamos para casa. Nós caímos nos braços acolhedores de Benison. A melhoria da linguagem de Sam e suas habilidades sociais logo se tornaram evidentes para os outros. Olhares de espanto e sorrisos surgiram quando ele conseguiu fazer um pedido sozinho no restaurante, foi até lojas para comprar café, e demonstrava a auto-confiança e a iniciativa que antes ele não tinha. Mas a melhoria foi muito além das habilidade apenas, ele agora tinha mais consciência dele mesmo. Quando perguntado o que ele se tornou com a viagem, ele responde: “Eu fui um menino e voltei uma pessoa.”
ViraVolta, Volta ao Mundo, Viagem pelo Mundo, Viagem Longo Prazo, Mochileiros, 6 meses pela África, filho autista
=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=


ViraVolta, Volta ao Mundo, Viagem pelo Mundo, Viagem Longo Prazo, Mochileiros, 6 meses pela África, filho autista


SAM & JAMES BEST
Sam, aged 14 and autistic, and his doctor father James, set off for 6 months of rough travel through 10 countries in Africa over 6 months. The plan? Improve Sam’s life skills through exposure to unpredictability. Conheça mais: Sam and James Life.


FONTE:
Projeto Vira Volta
http://autistasembarreiras.com/viagens-e-autismo-conheca-sam-e-james-e-sua-historia-de-6-meses-pela-africa/

O ConAutismo. Congresso Nacional e On-line


O Segundo Congresso Nacional Online de Autismo, é um Evento que acontecerá de 14 a 20 março de 2016. Serão palestras com Médicos, Pesquisadores, Fonoaudiólogos, Psicólogos, Pedagogos, Terapeuta Ocupacional, Pais e Familiares, Organizações e Associações.
O Congresso será Totalmente Online e GRATUITO durante toda a semana de exibição, onde serão disponibilizadas várias palestras em horários pré determinados, abordando vários assuntos de grande relevância para todos os Interessados com Grandes Especialistas e Pesquisadores.
Para ter acesso a Área do Congresso você deve fazer a sua inscrição colocando seu e-mail no campo INSCRIÇÃO, assim que você se inscrever na página do Congresso, receberá um link de confirmação no seu e-mail colocado na Inscrição, fazemos isto para ter certeza da autenticidade do e-mail, assim que fizer a confirmação no link mandado no seu e-mail seu acesso será ativado no Congresso. É muito importante este e-mail ser visto regularmente, pois mandaremos várias informações acerca do evento.Olhe também no Spam pois dependendo de alguns servidores estes e-mail podem ser encaminhados para lá.
Nos dias do Congresso será mandado um link diário para acesso a Área do Evento no seu e-mail (olhe também o spam). Nossas salas virtuais comportam no máximo 2.000 pessoas em cada palestra, assim teremos várias salas, que estarão expondo a mesma palestra em cada horário. Por este motivo é importante organizar-se e acessar o link na hora marcada, ou com certa antecedência. Além de mandarmos o link no seu e-mail disponibilizaremos o Link na Comunidade no Facebook bem como no nosso site.
A programação de palestras estará disponível brevemente.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Cidade fluminense vira "meca" no tratamento de autismo no Brasil


Berenice Piana, microempresária e ativista da causa do autismo, com o pequeno Fabiano e sua família, na Clínica-Escola de Itaboraí
Berenice Piana, microempresária e ativista da causa do autismo, 
com o pequeno Fabiano e sua família, 
na Clínica-Escola de Itaboraí
Nem São Paulo, nem Rio de Janeiro, nem tampouco uma outra grande cidade do país. O principal núcleo de conscientização, tratamento e inclusão de pessoas com autismo no Brasil é uma cidade fluminense de pouco mais de 200 mil habitantes. Itaboraí é berço da Clínica-Escola do Autista, um projeto público pioneiro que visa, sobretudo, a integração de crianças e adolescentes autistas ao ensino regular, por meio de um tratamento multidisciplinar oferecido por alguns dos profissionais mais gabaritados da área no país.
A implementação do projeto na cidade cumpre, na prática, determinações previstas na Lei 12.764, de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista em todo o país. Sancionada a partir de um projeto popular, via Legislação Participativa, a lei ganhou o nome de uma das maiores ativistas da causa no Brasil, Berenice Piana, responsável, também, pela idealização da Clínica-Escola no município fluminense.
A batalha de Berenice Piana
Berenice Piana é mãe de uma pessoa com autismo, Daylan, hoje com 21 anos. Seu ativismo iniciou-se no momento em que teve o diagnóstico de seu filho e percebeu a inexistência de políticas e conhecimento sobre o assunto no país. O que sobrava, segundo ela, era o preconceito. "Eu entendi que a luta por políticas públicas tinha que começar, porque ninguém falava de autismo em lugar nenhum", afirma.

A nova lei fez com que o autista, enfim, fosse reconhecido como uma pessoa com deficiência. "O autista vivia num limbo, não era nem uma pessoa neurotípica e também não era uma pessoa com deficiência. Não tinha nenhum direito e todas as obrigações".
Berenice Piana, idealizadora da Clínica-Escola de Itaboraí,
 e seu filho autista, Daylan
Vencida a primeira batalha, chegava a hora de tirar a lei do papel - era a vez de construir a Clínica- Escola. Em janeiro de 2013, menos de um mês depois de a lei ter sido sancionada, Berenice Piana tratou da criação da escola com o prefeito de Itaboraí Helil Cardozo (PMDB) recém-empossado no cargo. A escola foi inaugurada um ano depois.
Hoje, vão para a cidade pacientes e também comitivas de diversos municípios à procura de instruções de como desenvolver programas semelhantes. "Aqui virou uma 'meca do autismo'. Toda semana tem visita de fora, de Estados diferentes, porque querem implementar nas suas cidades", diz Berenice, apontando exemplos como Santos (SP), São Gonçalo (RJ) e Campo Grande (MS), como locais que pretendem implantar clínicas-escolas públicas. Em Itaboraí, uma nova Clínica-Escola está em obras, em uma parceria da Prefeitura com a iniciativa privada. Totalmente gratuita, também.
A Clínica-Escola do Autista de Itaboraí
A Clínica-Escola do Autista de Itaboraí é a única instituição pública do país --clínicas-escolas particulares chegam a custar até R$ 12 mil por mês --que oferece um tratamento multidisciplinar, contando com neurologistas, neuropediatras, nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas. O diagnóstico precoce e orientação aos familiares são outros trunfos do projeto. O foco principal, no entanto, é a inclusão das crianças e adolescentes no ensino regular.
Uma vez na Clínica-Escola, o autista recebe o tratamento para o possibilitar a frequentar, também, o ensino regular. E os professores da rede municipal, que irão acompanhá-los no dia a dia escolar também recebem um treinamento específico para tal propósito na Clínica-Escola. Caso não tenha condições de ser integrado ao ensino regular, o aluno continua estudando exclusivamente na Clínica-Escola.
"Dos 119 autistas sendo tratados aqui no momento, apenas 13 frequentam exclusivamente a Clínica-Escola, porque os outros já estão na inclusão", conta Berenice. "Então eles passam pela Clínica-Escola, são avaliados. Se ele já está na inclusão, ele continua na inclusão. E nós chamamos o mediador, o acompanhante especializado, e trazemos na Clínica-Escola para preparar esse mediador, esse acompanhante, porque às vezes ele chega lá e não sabe nada de autismo."
Coordenador terapêutico da Clínica-Escola, Eugênio Cunha diz que a tarefa deles é dar autonomia, habilidades sociais, e ao mesmo tempo trabalhar a questão pedagógica, de alfabetização, letramento, para que depois eles tenham condições de ingressar em uma escola regular. Ele ressalta a importância da parceria da Clínica-Escola com a rede pública de ensino para que a política de conscientização, tratamento e inclusão do autista seja bem-sucedida na cidade.
Seis línguas, quatro graduações: uma professora autista na Clínica-Escola
A coordenadora pedagógica da 
Clínica-Escola do Autista de Itaboraí, 
Gisele Nascimento
Vale lembrar que crianças autistas têm dificuldade de interação social e de comunicação, incluindo a parte de contato visual. E têm uma rotina de comportamentos repetitivos. Isso a diferencia bastante de uma criança que é 'só na dela'. Essa criança tímida se relaciona, responde quando é chamada, atende a solicitações, mantém uma conversação, mantém um contato social com o olhar, com a procura. Enfim, gosta desse contato tátil que algumas crianças autistas têm certa dificuldade de estabelecer.
Se o trabalho de formação dos terapeutas fica a cargo de Cunha, a formação dos professores que atuam na Clínica-Escola é feita por uma profissional que também é autista. Gisele Nascimento tem Síndrome de Asperger, transtorno compreendido dentro do espectro autista que caracteriza-se por uma inteligência acima da média, uma superdotação: ela aprendeu a ler sozinha, fala seis línguas (português, espanhol, alemão, francês, inglês e italiano, além de Libras) e tem graduação em psicologia, pedagogia, sociologia e biologia.
Hoje com 33 anos, Gisele começou a trabalhar com educação somente aos 20 anos, atuando, desde então, com educação especial. Ocupando o cargo de coordenadora pedagógica da Clínica-Escola, ela enche a boca para falar do projeto bem-sucedido implantado em Itaboraí. "É clínica e é escola. A parte escolar, ela é perfeita. E a parte que a gente chama de terapêutica também é muito boa. E fora que é pública, eles não pagam nada. E fora, custa cerca de 10 a 12 mil reais".
Gisele ainda vê muita "sabotagem", nas palavras dela, aos autistas:
-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-
"Nós autistas nascemos para aprender, só que somos sabotados pela sociedade. E isso precisa mudar. Eu falo isso de escolas, de governantes e principalmente de médicos. Autismo não é doença, é deficiência. Então quando isso diminuir ou, se Deus quiser, parar de uma vez, a gente não vai ter tanta mãe desesperada, 
vindo para cá"       Gisele Nascimento
-=--=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
De Juiz de Fora para Itaboraí
Fabiano Zeferino e Mirian Seixas, que foram de Juiz de Fora (MG)
 para Itaboraí, para tratar o filho autista Fabiano
A família de Minas Gerais que se mudou para Itaboraí é a do comerciante Fabiano Zeferino, que largou o emprego e foi "de mala e cuia" para a cidade fluminense com o intuito de conseguir o tratamento para seu filho.
Depois de buscar, em vão, um diagnóstico de autismo para seu filho Fabiano, Zeferino viu na televisão uma entrevista de Berenice Piana falando sobre a Clínica-Escola e não teve dúvida, pegou um ônibus com destino à cidade fluminense e conseguiu marcar uma consulta.
"Tomei a iniciativa, vim correndo para cá [Itaboraí], porque nós já estávamos desesperados, sem saber o que fazer", afirma. Quando voltou com o filho, enfim teve diagnosticado Fabiano com autismo. Como a Clínica-Escola, sendo um órgão da prefeitura, só pode aceitar residentes na cidade, Zeferino optou por deixar o emprego que tinha em Juiz de Fora, no comércio de eletrônicos, e decidiu ir morar em Itaboraí, ainda que, por ora, esteja desempregado. Tudo pela saúde do filho.
Sensibilizados com a história da família, os coordenadores da Clínica-Escola concederam a vaga ao garoto de três anos. E em pouco mais de três meses a melhora é sensível, diz. "Estou muito satisfeito, muito feliz. Ele está bem melhor. Está calmo. Ele já senta. Está comendo sozinho. Antes, não. A gente tinha que ficar andando a casa toda atrás dele para dar a comida a ele. Já está até fazendo xixi no vaso, que ele não fazia. Melhorou muito."
A importância da alimentação no tratamento do autismo
Chamou a atenção de Zeferino como uma pequena mudança na alimentação fez diferença no comportamento da criança. "Eles cortaram o leite e o glúten e o resultado foi que dentro de duas ou três semanas ele melhorou muito. Acho que uma boa alimentação é um dos fatores mais importantes no tratamento."
Dr. Mauro Lins, diretor médico da Clínica-Escola do Autismo de Itaboraí
Diretor médico da Clínica-Escola do Autista, Dr. Mauro Lins endossa a avaliação de Zeferino. "Cada vez mais está se estudando a relação entre o que se chama de microbioma, que é a população de micro-organismos que vive no nosso intestino, com nossa saúde geral e nosso comportamento. Então dietas isentas de caseína, que é a proteína do leite, e glúten, que é a proteína de trigo e de alguns outros cereais, melhoram, de fato, o comportamento de crianças autistas, porque estas substâncias estariam provocando reações inflamatórias no intestino", explica. "Esta correlação entre este equilíbrio intestinal e nosso comportamento, nosso humor, nosso funcionamento mental, isto está cada vez mais nítido."

FONTE:

http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2016/02/05/cidade-fluminense-vira-meca-no-tratamento-de-autismo-no-brasil.htm
 André Carvalho
Do UOL, em São Paulo 
Fotos: Sandro Giron/Prefeitura de Itaboraí

sábado, 9 de janeiro de 2016

Quando o banal é um desafio até para quem é extraordinário

Em Portugal, conta Isabel Cottinelli Telmo (Federação Portuguesa de Autismo), poucos autistas conseguem viver com autonomia na sociedade. Encontrar trabalho é raridade até para quem tem talentos excecionais
"Manuel" tem um talento muito acima da média para a informática. É também autista. As suas capacidades valeram-lhe um emprego numa biblioteca municipal. As suas limitações, nomeadamente ao nível dos relacionamentos sociais, tornaram a sua presença naquele local de trabalho num foco de tensão. "Encarregaram-no de fazer as fichas [das obras literárias no catálogo]. O problema é que ele fazia 20 enquanto as restantes funcionárias faziam cinco. E ainda reclamava com as colegas, chamando-as de mandrionas".

O nome é fictício mas o caso, verdadeiro, é relatado ao DN por Isabel Cottinelli Telmo, fundadora e presidente da Federação Portuguesa de Autismo, e serve de exemplo das dificuldades que as pessoas com autismo - mesmo as que apresentam competências extraordinárias - enfrentam para se integrarem na sociedade.
"É difícil a parte da interação social. Temos tentado promover a empregabilidade. Na federação criámos uma plataforma para tentar procurar ofertas de emprego, mas as pessoas [empregadores] não estão muito viradas para isso", reconhece. "Há mesmo alguns casos de pessoas que têm cursos superiores e não arranjam emprego. Ou os que arranjam estão muito abaixo das suas capacidades". Por exemplo, conta há dois irmãos gémeos, "um licenciado em Economia e o outro em Matemática", que trabalham respetivamente "numa bomba de gasolina e a tirar fotocópias num hospital". E estes são os casos extraordinários, "uma ínfima percentagem no universo de pessoas com espetro do autismo".
A capacidade de observar
A personagem de "Raymond", que valeu a Dustin Hoffman o Óscar de melhor Ator no filme "Encontro de Irmãos", de 1988, fixou no imaginário coletivo uma associação entre as doenças do espetro do autismo e capacidades geniais, como um talento inato para o cálculo matemático ou para o desenho. A realidade, diz, é bem distinta, por mais que o ator norte-americano tenha "captado de forma extraordinária" muitos aspetos comportamentais, após passar onze meses a estudar essas pessoas."No fundo, combinaram no filme todas as capacidades possíveis numa só personagem, o que nunca acontece", explica.
No universo do autismo, explica, "os mais competentes têm o que se define como autismo de alto nível, de alta capacidade funcional", que se resume a ser capaz de desenvolver algumas competências comuns à generalidade da população, como "falar em grupo".
Este grupo era habitualmente situado na definição de síndrome de Asperger, por oposição aos "casos kannerianos", mais complexos.As definições - ambas já fora das classificações atuais - fazem referência ao norte-americano Leo Kanner e ao austríaco Hans Asperger que, em 1944 , em dois trabalhos separados, coincidiram nas primeiras descrições de casos desta condição.
Mas existem de facto algumas competências específicas associadas ao autismo. Como a capacidade de observar e de processar o que se vê. "Tenho um filho autista, que tem hoje 51 anos. Não é um autista de alto desempenho mas, quando era criança, olhava para os pássaros que iam no ar e dizia: "São seis". Ele não contava, via", descreve.
Alguns exemplos extraordinários desta capacidade, como uma rapariga chamada Nadia e um homem, hoje com 40 anos, chamado Stephen Wilshire (ver fotolegenda) são ainda hoje objeto de estudo e de debate. E os estímulos visuais fazem parte do trabalho quotidiano com todos os autistas: "No caso do autismo, a perceção visual é muito boa. Usa-se nas metodologias de ensino. Mesmo nos menos competentes são as imagens que muitas vezes ajudam a desenvolver outras capacidades."
Aproveitar as características
Centenas de jovens com distúrbios do autismo frequentam as escolas públicas portuguesas. David Rodrigues, presidente da Pró-Inclusão - Associação nacional de Docentes da Educação Especial - explica que, neste grupo de estudantes, a diversidade de situações obriga a "pensar na melhor forma de aproveitar as características das pessoas". E os casos de "capacidades extraordinárias", com "pessoas que conseguem pensar num aspeto percetivo, de resolução do problema, que é diferente das outras pessoas", não são necessariamente mais simples.
O talento que desapareceu e o talento que não parou de crescer
O caso é objeto de análise quer de psicólogos e psiquiatras quer por especialistas das Belas-Artes mas nunca foi revelado mais do que o seu primeiro nome: Nadia. Aos três anos e meio já desenhava animais e pessoas de forma realista . Aos cinco desenhou este Okapi (imagem de cima), um animal do Norte de África. Aos nove desenhou um cavalo cujo realismo foi comparado com Leonardo da Vinci, mas não sabia usar garfo e faca à mesa. À medida que foi crescendo e adquirindo outras capacidades, como a fala, o talento desapareceu. Aos 20 desenhava...como uma criança de cinco anos. Stephen Wilshire (imagem de baixo) , hoje com 40 anos, também é autista de alto rendimento. Mas as suas capacidades nunca pararam de evoluir. Aos cinco anos desenhava de memória, com rigor, edifícios que tinha visto no percurso de autocarro até ao centro para autistas, em Londres. Hoje tem uma pós-graduação em Belas -Artes e é um pintor requisitado no mundo inteiro. Aprendeu a falar aos nove anos. A sua primeira palavra foi: "Papel."

Ao serviço do exército israelita
Alguns países estão a encontrar formas de aproveitar as capacidades excecionais dos autistas. Na última edição da revista norte-americana The Atlantic, é contada a história da Unidade 9900 da "Divisão de Informação Digital" do exército israelita, para a qual são recrutados autistas que, graças às suas capacidades invulgares, analisam em tempo real imagens de satélite de alta resolução, em busca de movimentações suspeitas. As autoridades israelitas garantem que estes homens e mulheres - atualmente na casa das dezenas - já salvaram "muitas vidas".

FONTE:
Diário de Notícias

http://www.dn.pt/sociedade/interior/autismo-quando-o-banal-e-um-desafio-ate-para-quem-e-extraordinario-4970910.html

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Estatuto da Pessoa com Deficiência entra em vigor com garantia de mais direitos

No Instituto Municipal Helena Antipoff, professoras aprendem o braille para promover a inclusão de crianças com deficiência na rede pública de ensino.
 Tomaz Silva/Agência Brasil

Entrou em vigor no sábado (2) o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que traz regras e orientações para a promoção dos direitos e liberdades dos deficientes com o objetivo de garantir a essas pessoas inclusão social e cidadania. A nova legislação, chamada de Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, garante condições de acesso a educação e saúde e estabelece punições para atitudes discriminatórias contra essa parcela da população.
Hoje no Brasil existem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. A lei foi sancionada pelo governo federal em julho e passa a valer somente agora, 180 dias após sua publicação no Diário Oficial da União.
Menos abusos
Um dos avanços trazidos pela lei foi a proibição da cobrança de valores adicionais em matrículas e mensalidades de instituições de ensino privadas. O fim da chamada taxa extra, cobrada apenas de alunos com deficiência, era uma demanda de entidades que lutam pelos direitos das pessoas com deficiência.
Quem impedir ou dificultar o ingresso da pessoa com deficiência em planos privados de saúde está sujeito a pena de dois a cinco anos de detenção, além de multa. A mesma punição se aplica a quem negar emprego, recusar assistência médico-hospitalar ou outros direitos a alguém, em razão de sua deficiência.
Veto
Um trecho que foi vetado pela presidenta Dilma Rousseff na época de sua sanção, porém, gerou críticas. O projeto de lei aprovado pelos parlamentares obrigava empresas com menos de 100 funcionários a contratarem pelo menos uma pessoa com deficiência. Atualmente, a obrigação vale apenas para as empresas com 100 trabalhadores ou mais. O veto foi considerado pela deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), relatora da proposta na Câmara, uma “perda irreparável”.
Cotas
De acordo com o estatuto, as empresas de exploração de serviço de táxi deverão reservar 10% das vagas para condutores com deficiência. Legislações anteriores já previam a reserva de 2% das vagas dos estacionamentos públicos para pessoas com deficiência, mas a nova lei garante que haja no mínimo uma vaga em estacionamentos menores. Os locais devem estar devidamente sinalizados e os veículos deverão conter a credencial de beneficiário fornecida pelos órgãos de trânsito.
A legislação exige também que 10% dos dormitórios de hotéis e pousadas sejam acessíveis e que, ao menos uma unidade acessível, seja garantida.
Mais direitos
Outra novidade da lei é a possibilidade de o trabalhador com deficiência recorrer ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço quando receber prescrição de órtese ou prótese para promover sua acessibilidade.
Ao poder público cabe assegurar sistema educacional inclusivo, ofertar recursos de acessibilidade e garantir pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, de acordo com a lei. Para escolas inclusivas, o Estado deve oferecer educação bilíngue, em Libras como primeira língua e português como segunda.
FONTE:
Da Agência Brasil
Por Paulo Victor Chagas
Edição por Denise Griesinger

http://www.inclusive.org.br/?p=28736

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Estatuto do Deficiente

Descrição da imagem para cego ver: 
Arte com fundo azul e os dizeres em rosa "a Lei Brasileira de Inclusão está em vigor" Ao lado um tracejado vertical e os dizeres "conheça seus direitos e cobre o que é seu!". 
Logo abaixo uma linha horizontal com ícones em rosa representando serviços públicos.

O Tempo, o Vento e o Autismo

É diferente ser mãe de uma criança autista?
Era por volta das duas da tarde quando comecei a escutar fogos retardatários. Provavelmente alguém tentava gastar sua munição de luz e som remanescente da meia noite. Minha filha mais nova dormia tranquila no cercadinho, enquanto Gabriela e eu brincávamos de cozinhar (o que é uma grande vitória, afinal significa o início do aprender a brincar). Talvez essa seja uma parte engraçada de brincar: cozinhar com brinquedos é sempre divertido, enquanto cozinhar de verdade muitas vezes é uma tarefa que muitos gostariam de riscar de sua agenda.
 A janela está aberta para arejar e, de repente, o vento bate em meu rosto, fazendo-me lembrar do tempo. Não o tempo do sol e da chuva, mas o tempo que corre no relógio, na vida. O tempo, que assim como o vento, é sentido sem ser visto, tem o poder de trazer e levar, pode se apresentar como tamanha força que machuca, enquanto em outros momentos sequer sentimos sua presença. Que magia incrível têm o tempo e o vento.
Com a chegada de um ano, o tempo passa a ser um tópico a ser pensado. A sensação é do término de uma jornada e início de outra, como se começássemos a contar as horas em um novo relógio. O passado se torna verdadeiramente passado e o que passa a contar é o presente e o futuro. As pessoas se enchem de perspectiva, promessas, vontades. Vestem-se de uma armadura de garra e juram a si mesmas mudar o que não lhes agrada. Ano Novo é antes de tudo brindar a chegada de um recomeço.
Pelo menos foi assim que durante muito tempo vi o Ano Novo. Só que desde a notícia de que minha filha tinha autismo, isso também mudou. Não que eu veja o Ano Novo com menos alegria; pelo contrário, é uma data que eu adoro. Mas, com a descoberta do autismo, sensações novas sobre o tempo surgiram.
Eu traçava metas para o ano seguinte, sabendo que as rédeas da vida estavam em minhas mãos. Emagrecer? Era só eu comer menos e fazer mais exercícios. Trabalhar mais? Era só colocar o relógio para acordar mais cedo. Arranjar um namorado? Não que isso dependesse só de mim, mas certo é que ninguém segura uma mulher obstinada a ter um relacionamento. Então, de certa forma, tudo que eu quisesse ter na minha vida ou tirar dela baseava-se nas escolhas que eu fizesse. A sensação de traçar metas para um novo ano era, portanto, um sentimento de controle sobre o meu tempo.
Com o diagnóstico de autismo de minha pequena, a coisa mais importante de minha vida passou a ser lutar para que Gabriela vivenciasse todo seu potencial, que conseguisse tratar os sintomas do autismo. Ocorre que isso não é algo que dependa de mim e não é uma meta que eu possa traçar para o novo ano que chega. Seria um tanto quanto sem sentido comer sete uvas, pular sete ondas, e depois proclamar “esse ano vamos derrotar os sintomas de autismo de minha filha”.  Embora lutar para dar os tratamentos apropriados seja necessário todos os dias, não há meta sobre o autismo de minha filha que possa ser feita em 2016.
Aceitar o autismo não se confunde em não guerrear contra seus sintomas, buscando sempre uma evolução da qualidade de desenvolvimento global do indivíduo.  Ocorre que tal luta deve ser doce, respeitando o tempo e as peculiaridades da criança. Não pode ser medida em dia, meses ou anos. Dessa forma, no que se trata do tratamento de minha pequena, 1º de janeiro de 2016 é apenas o dia depois de 31 de dezembro de 2015. A presença constante do autismo em nossas vidas parece, por vezes, dar a impressão de continuidade, como se um dia sequenciasse o outro sem fins ou recomeços.
Se pararmos para pensar é bem isso que a vida é: um dia após o outro, independente de que ano estamos. O calendário é apenas uma criação humana e, portanto, o recomeço de uma vida nova por causa de um ano novo apenas existe em nossos corações. A realidade é apenas que nós estamos seguindo, vivendo e dando sequência. A noção de recomeço por um novo ano parece ser uma válvula de escape, que parece ser apagada a partir do momento que lidamos com o diagnóstico de autismo.
Talvez quem olhe de fora essa perspectiva ache difícil a vida de pais e mães de autistas e sua incapacidade de verdadeiramente se importar com a elaboração de metas para um ano que chega. Ocorre que na verdade é justamente na alteração de perspectiva de tempo que mora o segredo: lutar pela saúde e desenvolvimento do filho exige o aprender a renascer não com o finalizar de um ano, mas sim diariamente – e não há uma felicidade peculiar em perceber que todo dia é uma página em branco.
E renascer todos os dias é, em seu conceito, nascer de novo, e por consequência ser criança de novo. Assim, renascer todos os dias por um filho autista é enfrentar com ele os desafios da vida; é essencialmente aprender a florescer novamente a pureza, a energia, a persistência, a luz de quando ainda éramos muito jovens para admirar e acreditar em fadas e anjos azuis.  

É como já dizia Érico Veríssimo (escritor de O Tempo e o Vento): “A vida começa todos os dias”
Feliz 2016! Feliz dia! Feliz vida!
FONTE:
Hanna Baptista
Diário de um Autista
http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/diario-de-autista/o-tempo-o-vento-e-o-autismo/

CRISES, PERDAS E SAÍDAS

Estamos em uma época de crise social, política e econômica, de discussões intermináveis e de uma espécie de cisão que começou a aparecer com a campanha eleitoral do ano passado.
Sim: crises de fato azem parte de qualquer país, em qualquer região do mundo ou em qualquer tempo. Mas o triste é ver como alguns dos nossos cidadãos enxergam “a saída”: uma espécie de divisão do Brasil em regiões, pautando-se pela divisão entre pobres versus ricos, nordeste versus sudeste (como se não houvesse outra região no país), sul versus “o resto”.
Essa guerra civil tácita, esse sentimento de embate de acordo com as inclinações políticas ou posições sociais, dificilmente nos fará algum bem enquanto povo. Estava pensando nisso dia desses quando me deparei, em uma busca aleatória, com a literatura de Cordel.
Tudo bem que a herdamos dos portugueses, mas foi com base nesse estilo tão singular que o Nordeste conseguiu contar as suas próprias histórias e se consolidar como povo. Cordel é pura arte nascida do improvável.
É beleza bucólica, meio triste, meio esperançosa, completamente incrível.
E completamente Brasil – assim como o realismo, o concretismo e outras tantas linhas que nasceram pelos quatro cantos do país.
E por que essa mistura de assuntos?
Ora… porque, se conseguimos construir tantas coisas maravilhosas juntos, como é possível que alguém realmente acredite que o segredo do sucesso está em separar os estados e regiões em outros países?
Qual bem faria ao Sudeste perder o Cordel como expressão nacional? E para o Nordeste? O que ganharia essa região ao perder Machado de Assis? O sul ficaria realmente melhor sem Graciliano Ramos? E o centro-oeste sem Mário Quintana?
Todos esses nomes vão além de seus estados – eles são brasileiros inteiros, forjados a partir das referências nacionais de todas as partes. Seria triste perdermos isso.

Editorial Clube de Autores

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Lições que eu aprendi com meu filho AUTISTA!

Este texto é uma reflexão natalina. Um aprendizado.
Quanto mais leio para meus filhos sobre o “menino” Jesus e toda sua sabedoria, mais a identifico dentro da minha própria casa.
Não apenas os discípulos, mas todos que o conheciam, chamavam o menino Jesus de mestre.
Mestre não é um titulo que alguém pode atribuir a si mesmo. O mestre nasce da capacidade do interlocutor de reconhecer a sabedoria quando entra em contato com ela.
O mestre, para existir, por mais sábio que seja, depende da humildade daqueles ao seu redor de se reconhecerem numa posição de inferioridade, de aprendiz.
(E é assim que me sinto. Humilde e extremamente feliz de dividir meu dia a dia com uma criança que ilumina e engrandece todos ao seu redor)
Todos ja me viram falar publicamente que me sinto abençoado e extremamente feliz por ter sido escolhido por Deus para ser pai de uma criança autista, ou como eu prefiro dizer, o guardião de um anjo. O meu Romeo.
Sempre que faço algum post, aparecem centenas de pais comentando e dividindo o mesmo sentimento de gratidão. Como se fosse um clube que, quem não faz parte, secretamente agradece e não consegue nem começar a entender pq aquelas pessoas são tão gratas por fazerem parte dele.
Afinal, como que, na pratica, meu filho me faz tanto bem? Como uma criança que, aparentemente, tem dificuldades consegue me ensinar?
Como falei acima, parte da minha capacidade de identificar a sabedoria e transforma-la num aprendizado.
Vou contar o que aconteceu este Natal e qual foi a lição que ele nos deu.
Como de costume, pelo fim de Novembro, minha esposa, Suzana, e eu juntamos os tres para fazer a carta do Papai Noel.
– “Eu quero infinitos Legos!”, disse o Stefano.
– “Calma que ja tenho minha lista separada em imagens no ipad”, disse Doninha, lembrando da quantidade razoavelmente grande de presentes que ja tinha separado entre borrachas da Hello Kitty e um tenis da Nike, alem de varias coisas de menina de marcas que ela gosta.
Resumindo? Duas listas extensas e extremamente comuns para crianças que convivem num mundo tecnológico, repleto de marcas, com demandas que eu considero ridículas de consumismo. Propagandas em todo lugar, aquela maldita sensação, que eu odeio, causada na escola que é necessário ter pra existir. Sensação que lutamos muito contra em casa enchendo as crianças de auto confiança, dando “centro” pra elas saberem que o que interessa na vida não são as coisas que o dinheiro compra, mas que, por motivos óbvios, sempre cerca qualquer criança hoje em dia. Ainda mais na época do Natal!!
Até que chegamos no Romeo e indagamos o que ele gostaria de ganhar do Papai Noel.
“Uma escova de dentes azul”.
E agora chegamos no ponto crucial desse texto.
Se você da risada com essa resposta e pensa que o menino autista realmente esta fechado no seu mundo e não conecta com a realidade, que é filho de um artista de tv, que poderia pedir qualquer coisa no mundo que ganharia e, burro, pediu só uma escova de dentes azul, esse texto não vai fazer sentido algum pra você. Pode parar por aqui. Você não consegue identificar um ensinamento quando se depara com um.
Suzana e eu, instantaneamente ficamos emocionados com aquela resposta. Ao meio de tanto consumismo, numa época que virou símbolo de consumismo, nosso mestre, sem saber, sem ter a consciência externa do que estava fazendo, afinal sua sabedoria é nata, é orgânica e instintiva, colocou nossos pés no chão, nos remontando com os verdadeiros valores do Natal.
O que realmente vale nessa vida? Essas coisas materiais vão com o tempo, quebram, ficam velhas e obsoletas tornando-se um lembrete vivo e constante de dinheiro que jogamos pela janela adquirindo valores que não interessam.
Não serei hipócrita e dizer que não é saudável comprar brinquedos e presentes. Não é isso. Sou totalmente a favor de usar o ato da compra material como recompensa e até como educação, inclusive de valores morais, mas fato é que existe um grande exagero nas proporções que o consumismo tomou hoje em dia, como mencionei explicando os pedidos dos meus outros filhos.
Ainda perguntamos pra ele se não queria mais nada, um bichinho de pelúcia que ele adora, um ipad novo que, para quem não sabe, é uma das ferramentas mais poderosas de comunicação dos autistas com o mundo exterior, mas ele foi categórico: “uma escova de dentes azul. É isso que eu quero ganhar do Papai Noel”.
Até que finalmente chegou o dia do Natal. Fizemos a comemoração da véspera, deixamos os cookies feitos em família na varanda para o bom velhinho e todos foram dormir muito ansiosos com a visita do Papai Noel na madrugada.
Não preciso dizer que 5:00 am ja ouvi Tefo rasgando papel de presente! rs.
Levantamos para acompanhar e viver com eles todo esse momento magico que tem data de validade, pois a crença real no Papai Noel não é eterna e, hoje em dia, acaba cada vez mais cedo. E enquanto Tefo e Doninha pareciam dois demônios da tasmânia envoltos em presentes e embrulhos, abrindo mais um e mais um e mais um, Romeo assistia de longe com um certo grau de tensão no ar.
“O Papai Noel trouxe minha escova de dentes azul?” ele perguntava sentindo o que eu identifiquei como medo de frustração! Uma real incerteza se ganharia aquele único e tão valioso presente. Lembrem que isso foi na manhã do dia 25, quase 2 meses depois do dia que escreveram as cartas e essa ainda era sua única vontade, seu único desejo de Natal.
Conduzi Romeo até arvore e o deixei identificar o presente com seu nome!
Fico emocionado ao lembrar, mas ele abriu o embrulho com uma expectativa tão grande, uma ingenuidade e um doutorado em desapego que, quando o ultimo pedaço de papel revelou sua escova de dentes azul, ele foi tomado de emoção!! Abaixou a cabeça num alivio e se atrapalhou de tão forte que essa emoção veio.
Sim, ele chorou.
Chorou de alegria, inundado pela mais pura e bela emoção! Eu e Suzana choramos juntos.
Tão pouco…um presente tão simples…e ai me deu o estalo. Mestre!
Entendi que era algo muito maior do que uma simples escova de dentes. Ali, naquela emoção, naquela pureza, naquela humildade e, acima de tudo, naquele desapego, tive a maior lição de Natal da minha vida.
Obrigado Mestre, por mais uma. Te amo.



 Marcos Mion escreveu um texto em seu Facebook revelando detalhes da convivência com seu filho Romeo (9), que é autista.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Documento enviado à Comissão específica sobre o acompanhamento escolar e o direcionamento das escolas de Belo Horizonte

À
Dra Ana Lucia de Oliveira
DD Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da
OAB/MG - Ordem dos Advogados do Brasil/MG
 Sra  Presidente ,
Representando das 2.600 (duas mil e seiscentas) famílias participantes do “Fórum de Inclusão Escolar Brasil”,. residentes em Minas Gerais, vimos através desse instrumento solicitar orientações  dessa Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, em relação à Lei 13.146, de 06 de julho de 2015, em seu  Capítulo V – da Educação, especificamente em seu inciso XVII " oferta de profissionais de apoio escolar;".
Segundo especificação no corpo da Lei acima citada e em Nota Técnica 19/2010 – MEC/SEESP/GAB, de 08 de setembro de 2010, cujo assunto é: "Profissionais de apoio para alunos com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento matriculados nas escolas comuns da rede pública de ensino", caberia a tal cargo as seguintes funções:
"Dentre os serviços da educação especial que os sistemas de ensino devem prover estão os profissionais de apoio, tais como aqueles necessários para promoção da acessibilidade e para atendimento a necessidades específicas dos estudantes no âmbito da acessibilidade às comunicações e da atenção aos cuidados pessoais de alimentação, higiene e locomoção. Na organização e oferta desses serviços devem ser considerados os seguintes aspectos:
•  Os profissionais de apoio às atividades de locomoção, higiene, alimentação, prestam auxílio individualizado aos estudantes que não realizam essas atividades com independência. Esse apoio ocorr e conforme as especificidades apresentadas pelo estudante, relacionadas à sua condição de funcionalidade e não à condição de deficiência.
 •  A demanda de um profissional de apoio se justifica quando a necessidade específica do estudante público alvo da educação especial não for atendida no contexto geral dos cuidados disponibilizados aos demais estudantes.
 •  Em caso de educando que requer um profissional “acompanhante” em razão de histórico segregado, cabe à escola favorecer o desenvolvimento dos processos pessoais e sociais para a autonomia, avaliando juntamente com a família a possibilidade gradativa de retirar esse profissional.
•  Não é atribuição do profissional de apoio desenvolver atividades educacionais diferenciadas, ao aluno público alvo da educação especial, e nem responsabilizar-se pelo ensino deste aluno.
 •  O profissional de apoio deve atuar de forma articulada com os professores do aluno público alvo da educação especial, da sala de aula comum, da sala de recursos multifuncionais, entre outros profissionais no contexto da escola.
 •  Os demais profissionais de apoio que atuam no âmbito geral da escola, como auxiliar na educação infantil, nas atividades de pátio, na segurança, na alimentação, entre outras atividades, devem ser orientados quanto à observação para colaborar com relação no atendimento às necessidades educacionais específicas dos estudantes."
 “Até então, em várias escolas particulares de Minas Gerais vários alunos com deficiência COGNITIVA são acompanhados por profissionais intitulados ou “profissionais de apoio pedagógico” que além de funções de apoio às atividades de locomoção, higiene, alimentação relacionadas à condição de funcionalidade", como consta na Lei 13.146/2015 e Nota Técnica 19/2010 acima mencionada, realizam atividades de apoio pedagógico individualizado, introduzindo materiais alternativos, aplicando m&eacute ;todos e técnicas especializadas dentro de sala de aula, acompanhando o aluno em todo o período que este estiver presente na escola a fim de possibilitar a aprendizagem efetiva do conteúdo pedagógico dos mesmos, geralmente financiadas pelas famílias. Vale lembrar que nas escolas particulares não existem salas de Recursos ou multifuncionais equipadas e com profissionais especializados para o ensino especial, como ocorre nas escolas públicas.
 Fato é que as famílias que mantinham esse " profissionais de apoio pedagógico" em escolas particulares de Minas Gerais, ao revalidarem as matrículas de seus filhos com deficiência nas escolas particulares para o ano de 2016, já estão sendo avisadas pelas instituições escolares que não poderão manter esses " profissionais de apoio pedagógico" junto aos seus filhos em sala de aula para o próximo ano, devido à publicação da Lei 13.146/2015, que delega às instituições escolares a oferta de " profissionais de apoio".
Devido a esse fato, fomos procurados por várias famílias que se sentiram prejudicadas, uma vez que sem o apoio desses "profissionais de apoio pedagógico" para os seus filhos com deficiência cognitiva, não há garantia de aprendizagem efetiva do conteúdo pedagógico, o que há muito tempo já vem ocorrendo na vida escolar desses alunos. Ou seja, a inclusão escolar  dos alunos com deficiência cognitiva já é uma realidade e retirar o "profissional de apoio pedagógico" das mesmas, será retroceder e abrir mão de uma conquista alcançada com muita luta, tempo e dedicação de todos.
Portanto, comparecemos à presença de V.sa, a fim solicitar orientações e esclarecimentos em relação a tal situação, vez que já estamos em época de rematrícula dos alunos para o próximo ano de 2016, e necessitamos definir tal situação urgentemente.
Certos de contar com a compreensão e apoio dessa Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, a fim de garantir o direito a aprendizagem de nossas crianças e adolescentes com deficiência cognitiva, aguardamos um parecer de V.sa, o mais rápido possível.
Atenciosamente,
 Dr Walter Camargos
Coordenador do Fórum de Inclusão
 Cristina Silveira
Fórum de Inclusão Escolar
Denise Martins
AMA


Conselho recomenda redução de remédios a crianças com déficit de atenção

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) publicou resolução, nesta sexta-feira, 18, em que recomenda o fim da prescrição excessiva de medicamentos para crianças e adolescentes que enfrentam problemas de aprendizagem, comportamento ou disciplina.        
A decisão se deu após a análise de pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que apontou aumento, no Brasil, de 775% no consumo de metilfenidato (Ritalina), entre 2003 e 2012. O documento estabelece que os jovens tenham o direito de acesso a outras alternativas, que não o uso de medicamento.
O alerta é de que a indicação do metilfenidato pode ser o caminho “mais fácil”, mas nem sempre o que está em questão é um problema de saúde. “É preciso ter a análise de uma equipe multidisciplinar para de fato ter um diagnóstico preciso de que não se trata de um problema social, cultural, de adaptação ou integração”, afirma o presidente do Conanda, Rodrigo Torres.
Há também uma preocupação com o fato de, com a banalização do remédio, pessoas saudáveis buscarem se automedicar para, simplesmente, aumentarem o rendimento em alguma tarefa intelectual, como a produtividade no trabalho ou o tempo de estudos para um concurso.
O metilfenidato é utilizado no tratamento de crianças e adolescentes com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O Instituto de Medicina Social da Uerj mostra que o País só “perde” para os Estados Unidos, sendo o segundo mercado mundial no consumo do fármaco – só em 2010, foram 2 milhões de caixas vendidas. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2013 esse número aumentou para 2,6 milhões.

Fontes: Uol - gestaodelogisticahospitalar.blogspot.com.br