“FOI DE RASGAR O CORAÇÃO”
Mara Gabrilli Programa Jô Soares – 19.11.2014
Nesta semana, o autismo, foi um assunto que
agitou as postagens nos facebooks e similares da vida, e eu que não falei nada,
embora tivesse compartilhado a repercussão, recebi algumas mensagens dizendo
que se nada falasse a respeito era por que ainda não tinha saído das eleições presidenciais.
Pelo contrário, saí e decidi que: o Brasil que perdeu, ganhou.
Embora a imprensa brasileira nos últimos
tempos, noticie um pouco mais sobre o autismo, não o faz com ênfase, até por estar
dando mais atenção aos complexos temas que envolvem o Brasil nas páginas
policiais que são mais espetaculares, sem se flagrar com a importância de
assunto como políticas de saúde que não funcionam, com base no viés aparente de
que cada povo tem o governo que merece.
O foco era a entrevista que a Mara
Gabrilli, deputada federal reeleita, um ícone das pessoas com deficiência neste
país, e relatora da Lei 12.764/12 (Lei Berenice Piana) que instituiu a política
de proteção aos autistas concedeu ao Jô Soares, sobre a qual, observei para
alguns que horas antes pela agitação e com o interesse na discussão, a
audiência teve grande repercussão deixando, felizmente, vários temas para discussão.
O ponto principal da repercussão foi o
de que o Jô “abriu uma oportunidade” para discutir o autismo no seu programa,
tema ao qual ele resistia expor, por questões de ordem pessoal e isso é
indiscutível, tendo em vista a irreparável perda do seu filho Rafinha, pessoa
na condição de autista, até 51 anos de idade, dias antes, quando voltou para a
Pátria Espiritual, legítimo lugar a que pertencia.
A presença extraordinária da Mara
Gabrilli, falando com segurança sobre autismo, trouxe novo alento para que milhões
de pais de autistas suscitem nova reação contra a falha no zelo das suas reais
finalidades, do Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência - CONADE, que deixou
inserir no texto de regulamentação da Lei 12.764/12, uma anomalia subliminar que
destina os autistas para serem tratados nos CAPS – Centro de Atenção Psico
Social onde lhes falta capacidade e capacitação, no mesmo nível de pessoas com
esquizofrenia e dependentes químicos.
A única razão que autoriza o CONADE usar do
artifício subliminar como a cilada disposta no artº 3º, Alínea “C” do texto da
regulamentação da Lei 12.764/12, é a de ratificar o favorecimento comercial da
iniciativa privada no âmbito das políticas publicas de saúde, colidindo frontalmente
com a Constituição Federal.
As respostas pontuais dadas por Mara
Gabrilli ao ser questionada por Jô Soares, que com sua experiência em autismo discutiu
a seu tempo o apoio as necessidades da disciplina ser implantada nas faculdades
de Medicina, tendo em vista a falta de capacitação existente, a exemplo dos tempos
em que os médicos nada sabiam a respeito, bem como desconheciam os males da
síndrome.
Os CAPS, que procedem a tratamento a dependentes
químicos, alcoolismo, e outros transtornos, são apenas fornecedores de remédios
reducionistas controlados, enquanto deveriam ser também uma instituição para
atendimento, onde estaria incluído o tratamento terapêutico específico para
autistas, mas não o é, resguardadas as especialidades e comorbidades inerentes
à síndrome.
Autista se não é tratado adequadamente
fica infeliz, e faz a família infeliz, disse Mara Gabrilli. Jô emendou
exemplificando que quando seu filho Rafinha tinha dois anos, um médico disse à
mãe dele: “esse menino aí, o melhor que você tem a fazer é fazer outro, porque
esse não vai falar andar e escrever”. A expressão foi para comprovar a falta de
conhecimento do médico que não tinha ideia do que fazer.
Existe uma “mania global” de dizer que o autismo é
bonito, em face caracterização hollywoodiana de responsabilidade da indústria
da mídia, a partir do filme Rain Man. O mais importante sobre a disfunção da
imprensa com o autismo, é o aspecto qualitativo que ela pode apresentar, a
partir do ponto essencial que é analisar e criticar sem agressividade, como costumeiramente
acontece pelo mau uso da palavra.
Pais e interessados no autismo quando sabem das suas
complexidades não se deixam iludir por ele. A capacidade mesmo limitada de cada um permite
saber que o autismo não pode ser considerado um erro moral e deve ser tratado
como causa e não como um sintoma fantasioso, o que permite o aprendizado de
todos.
Já temos o nome da deputada federal Mara
Gabrilli, do senador Paulo Paim, Berenice Piana de Piana a idealizadora da Lei
12.764/12, Ulisses Costa e Fernando Cotta destacadamente, gravados
indelevelmente na história em favor das pessoas com deficiência, pela influência
e na ajuda de inestimável valor na vida dos nossos filhos autistas. Quis agora
a Providência Divina trazer Jô Soares para juntar-se a nós e outros certamente
virão pelo que podem fazer por eles, interferindo com seus saberes pela
exclusão da alínea “C” do decreto, como um primeiro passo.
O Ministério da Saúde tem conhecimento
das sugestões para criação de centros de excelência para estudos do autismo
custeados pelo Estado, e pela iniciativa privada para inclusão e independência
dos autistas, sem a postura tradicional do assistencialismo, mas sim científica,
por ser a Ciência a única forma para atingir os resultados necessários e
promissores ao tratamento do espectro, porém só atendem sugestões de quem está
ligado a interesses preexistentes discutíveis.
Os autistas tem capacidade de aprender. Temos
que ter capacidade de ensiná-los.
Que a lei saia do papel, disse Mara.
Cabe-nos fazer com que nossos filhos não
sofram mais do que o inevitável.
Nilton Salvador