sexta-feira, 17 de abril de 2015
Como cuidar de um filho autista
Esqueça tudo o que você ouviu e leu sobre autismo
até agora. Esta mãe de um filho autista lhe ensina como cuidar desses anjos em
sua vida.
Comece por você, se reeduque, pois daqui para
frente seu mundo será totalmente diferente de tudo o que conheceu até agora.
Se reeducar quer dizer: fale pouco, frases curtas e
claras; aprenda a gostar de músicas que antes não ouviria; aprenda a ceder, sem
se entregar; esqueça os preconceitos, seus ou dos outros, transcenda a coisas
tão pequenas. Aprenda a ouvir sem que seja necessário palavras; aprenda a dar
carinho sem esperar reciprocidade; aprenda a enxergar beleza onde ninguém vê
coisa alguma; aprenda a valorizar os mínimos gestos.
Aprenda a ser tradutora desse mundo tão caótico
para ele, e você também terá de aprender a traduzir sentimentos. Um exemplo
disso: "Nossa, meu filho tá tão agressivo". Tradução: ele se sente
frustrado e não sabe lidar com isso, ou está triste, ou apenas não sabe lhe
dizer que ele não quer mais vê-la chorando por ele.
Você irá educar bem seu filho se aprender a
conhecer o autismo "dele", pois cada um tem o seu próprio, mesmo que inserido
em uma síndrome comum.
Deverá aprender a respeitar o seu tempo, o seu
espaço, e reconhecer mesmo com dificuldades que ele tem habilidades, e verá que
no fundo elas são tão espetaculares!
Você irá aprender a se derreter por um sorriso, a
pular com uma palavra dita, e a desafiar um mundo inteiro quando este lhe diz
algum não. Você começará a ver que com o tempo está adquirindo superpoderes, e
que a Mulher-Maravilha ou o Super-Homem, não dariam conta de 10% do que você
faz.
Você tem o superpoder de estar em vários lugares ao
mesmo tempo, afinal escola, contraturno, natação, integração sensorial,
consultas, fono, pedagoga, ufa... Dar conta de tudo isso só se multiplicando e
ainda se teletransportando!
Você é a primeira que acorda e a última que vai
dormir, isto é, quando ele a deixa dormir, e no outro dia está sempre com um
sorriso no rosto ao despertar.
Você faz malabarismos e consegue encaixar o salário
da família em tantas contas e coisas que precisa fazer, que só mesmo com
superpoderes. Você nota que seu cérebro é privilegiado, embora nunca tivesse
imaginado que dentro de você haveria um pequeno Einstein, pois desde o
diagnóstico de seu filho, você já estudou: neurologia, psiquiatria, pediatria,
fonoaudiologia, pedagogia, nutrição, farmácia, homeopatia, terapias
alternativas, e tantas outras matérias.
Você dá aula de autismo, ouve muitas bobagens em
consultórios de bacanas, e ainda ensina muitos deles o que devem fazer ou qual
melhor caminho a seguir para que seu filho possa se dar bem. Ah... E a
informática que anteriormente poderia lhe parecer um bicho-de-sete-cabeças, a
partir deste filho, você encarou e domina o ciberespaço como ninguém!
São tantas listas de autismos, blogs, Facebook,
Twitter ... Ih ... pesquisa no Google então, já virou craque, ninguém encontra
nada mais rápido que você! Uma hora você verá o que essa "reeducação"
proporcionou a você, pois hoje você é uma pessoa totalmente diferente do que
era antes de ser mãe de um autista.
Nossa como você mudou, hein? E topará com a
pergunta que não quer calar: "Como devo educar meu filho autista?"
Olhará ao redor, olhará para seu filho e perceberá que ele também está
diferente, que ele cresceu, que já não é tão arredio, que as birras já não se
repetem tanto, que ele até já lhe joga beijos! Que aquela criança que chegou
solitária na escola, hoje já busca interagir, e já até fez algum amiguinho. Que
ele já está aprendendo "jeitinhos" de se virar, e nem a requisita
tanto mais.
Então, chegará a conclusão que mesmo sem saber
responder a tal pergunta, você tá fazendo um bom trabalho, e que ninguém no
mundo poderia ser melhor mãe que você para esse filho!
Claudia Moraes
Claudia Moraes é mãe de um autista adulto,
Pedagoga, Coordenadora no Estado do Rio de Janeiro do Movimento Orgulho Autista
Brasil e Coordenadora do Instituto Ninho.
Fonte: Website: http://orgulhoautistadf.blogspot.com.br/
segunda-feira, 6 de abril de 2015
quinta-feira, 2 de abril de 2015
segunda-feira, 30 de março de 2015
terça-feira, 24 de março de 2015
Lei 12.764/12 está só no papel, reclamam participantes de audiência sobre autismo
Especialistas reclamam da falta de tratamento
adequado para autistas
Uma em cada 88 crianças nascidas é autista
Centros de tratamento especializados, profissionais
capacitados e clínicas integradas com escolas foram algumas das reivindicações
dos que participaram da audiência pública, nesta segunda-feira (23), sobre as
políticas públicas para pessoas autistas. Promovida pela Comissão de Direitos
Humanos e Legislação Participativa (CDH), a audiência começou com um jovem autista
cantando o Hino Nacional em homenagem ao Dia Mundial do Autismo, celebrado em 2
de abril.
O principal problema apontado pelos participantes da
audiência foi que Lei Berenice Piana, como é conhecida a Lei da Política
Nacional de Proteção dos Direitos do Autista (Lei 12.764/2012), não é aplicada
na íntegra. Ela foi regulamentada pelo Decreto 8.368/2014, que colocou os
Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), do Sistema Único de Saúde, como os
responsáveis para o tratamento de autistas. Mas esses centros tratam de pessoas
com todos os tipos de transtornos mentais, incluindo os que enfrentam problemas
com o consumo abusivo de álcool ou drogas.
Para a enfermeira, mãe de autista e diretora do
Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab), Tatiana Roque, e para Lívia Magalhães,
diretora jurídica do Moab, deveria haver centros especializados para tratamento
de pessoas autistas no Brasil. Elas explicaram que o autismo é uma síndrome que
apresenta vários espectros e varia de pessoa para pessoa.
— Precisa se cumprir a lei como ela foi escrita. O
autista precisa do centro especializado, uma clínica-escola, com equipe
multidisciplinar. O CAPs atende vários outros tipos de patologias e síndromes,
o que não seria específico para se tratar o autista. E hoje nós sabemos que o
CAPs não têm condições de atender. A fila de espera é enorme e autista não pode
esperar — disse Tatiana.
A enfermeira mostrou uma imagem de jovens autistas
amarrados em camas em uma clínica em Alagoas.
— A família não tem condições de oferecer um tratamento
adequado, o governo não ofereceu um tratamento para a família. Não tiveram o
diagnóstico precoce, não têm atendimento individualizado, não têm terapias. São
medicados diariamente e amarrados. Essa cena, pra mim, é frustrante, e me causa
raiva — lamentou ela.
A Representante da Diretoria de Saúde Mental da
Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Simone Maria Guimarães, expôs o
trabalho desenvolvido pelo governo para melhorar o atendimento de pacientes
autistas. Mas Cibele Vieira, mãe de um autista, apontou uma série de problemas
como a limitada oferta de vagas para estudantes com autismo, a falta de
qualificação dos profissionais e a demora no atendimento na rede pública de
saúde.
— Eu me senti completamente ofendida como cidadã,
como mãe. Senti-me uma alienígena. Não tem dentro do poder público alguém que
ofereça tudo aquilo que foi dito aqui — desabafou.
Acompanhamento especializado
A diretora de Políticas de Educação Especial do
Ministério de Educação, Martinha Clarete Dutra, afirmou que a nova legislação
ajudar a fortalecer a inclusão das pessoas com Transtorno do Espectro Autista,
mas ponderou que a aplicação da mesma depende da União, dos estados e
municípios.
— Não podemos deixar que nenhuma matrícula seja
recusada, só que não basta ter matrícula, tem que ter atendimento de qualidade.
Hoje, o nosso grande desafio é esse pacto de atuarmos juntos, lá na ponta, para
que de fato todas as pessoas que estejam no sistema tenham atendimento e quem
não esteja, venha para o sistema — disse Martinha.
Mas o decreto que regulamentou a lei é omisso ao não
especificar a formação necessária para os profissionais contratados para
acompanhar os autistas nas escolas. A queixa foi apresentada pela diretora
jurídica do Moab.
— Hoje algumas escolas acabam contratando
estagiários, sem qualificação sem preparo para lidar com o autista, na sala de
aula. É muito importante que seja especificada a qualificação, seja professor
de ensino fundamental, com treinamento específico para lidar com o autista —
acrescentou Lívia.
Integração clínica-escola
Um modelo de espaço que reúne saúde e educação com
atenção qualificada para os autistas é uma a clínica-escola pública criada no
ano passado em Itaboraí, município da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros
profissionais compõem a equipe multidisciplinar do local, resultado da
persistência de Berenice Piana, que dá nome à Lei 12.764/2012.
— Na clínica-escola as mães são estimuladas. Elas
participam de grupos, recebem orientação, recebem capacitação da melhor forma
de cuidar dos seus filhos — assinalou Lívia ao elogiar a iniciativa da
Prefeitura de Itaboraí.
A médica psiquiatra da Clínica de Atendimento
Psicológico a Crianças Especiais (Cliama), Gianna Guiotti Testa acredita que o
modelo ideal é a integração clínica-escola-família.
— Não adianta a gente ter a clínica de referência se
ela não está integrada à escola. Gente, os professores precisam de ajuda! Eles
precisam de um grupo de apoio — afirmou a médica.
Diagnóstico Precoce
Outro grande problema para Tatiana Roque é a falta
de uma estatística oficial sobre o número de autistas no Brasil. Estima-se,
segundo ela, que haja 2 milhões de autistas no Brasil atualmente, número que
cresceu muito nas últimas décadas. Para Gianna, o aumento do número de casos de
autismo no país se deve também ao aumento da detecção da doença, que, há 20
anos era praticamente nula.
— O autismo é uma síndrome que a gente consegue
detectar até os 3 anos de idade. Se o diagnóstico é precoce, a assistência tem
que ser precoce. A gente pode intervir para que a criança tenha ganhos
importantes para o seu desenvolvimento — afirmou Gianna.
Acesso à medicação
Gianna alertou para a importância do acesso à
medicação. Ela explicou que não há medicação para autismo, mas há alguns
medicamentos que são importantes para alguns sintomas. A médica relatou ainda
que no último sábado uma mãe de um jovem autista ligou para ela dizendo que a
Secretaria só liberaria o medicamento para esquizofrenia.
— Isso também é muito importante: o acesso à
medicação — afirmou.
Horário especial
Tatiana Roque reclamou ainda do veto da presidente
Dilma a um artigo da Lei Berenice Piana que concedia horário especial sem
compensação para servidores públicos com filhos autistas. Ela explicou que os
pais de autistas são sobrecarregados devido à atenção e ao tratamento que devem
dar aos filhos.
— Tramita aqui no Senado um projeto de lei de
autoria do senador Romário, que prevê horário especial sem compensação para
servidor público com filho ou cônjuge com deficiência. E eu gostaria de pedir a
sensibilidade dos senadores para que essa proposta seja aprovada o quanto antes
porque ela vai ajudar muitas famílias que têm pessoas especiais — afirmou.
Reportagem:
Marilia Coêlho e Rodrigo Baptista
Foto:
Geraldo Magela/Agência Senado
Agência Senado (Reprodução autorizada
mediante citação da Agência Senado)
quarta-feira, 11 de março de 2015
Estresse entre mães de pessoas com autismo
Um estudo com 30 mães de pessoas com autismo
mostrou que 70% delas apresentavam altos níveis de estresse. As mães, que
tinham entre 30 e 56 anos de idade, quando consultadas sobre os comportamentos
dos filhos com os quais se julgavam mais eficazes para lidar, apontaram os
movimentos estereotipados dos filhos, o grande tempo gasto em uma atividade
particular e a insistência para que as coisas sejam feitas de uma determinada
maneira. “O estresse psicológico constitui-se em um processo no qual o
indivíduo percebe e reage a situações consideradas por ele como desafiadoras,
que excedem seus limites e ameaçam o seu bem-estar”, descrevem os pesquisadores
Carlo Schmidt e Cleonice Bosa, autores do estudo “Estresse e autoeficácia em
mães de pessoas com autismo”.
A autoeficácia é descrita no estudo como o
julgamento do sujeito sobre sua habilidade para desempenhar com sucesso um
padrão específico de comportamento. “A natureza crônica do autismo tende a
acarretar dificuldades importantes no que tange à realização de tarefas comuns,
próprias da fase de desenvolvimento dessas pessoas”, explicam os autores.
Carlo Schmidt e Cleonice Bosa ressaltam ainda que a
compreensão da relação entre autismo e estresse familiar não pode ser baseada
em relações lineares entre possíveis causas e efeitos. As explicações sobre
como esses dois fatores estão relacionados, defendem os pesquisadores, devem
levar em conta diversos outros fatores envolvidos no processo de adaptação da
família a uma condição crônica, como o autismo.
Texto escrito por Silvana Schultze, do blog
http://www.meunomenai.com
Para conhecer o estudo completo, acesse o link:
http://seer.psicologia.ufrj.br/index.php/abp/article/view/88/101
terça-feira, 3 de março de 2015
Benefício da Assistência Social para pessoas com deficiência - BPC LOAS e Bolsa Família
Atenção!
O Benefício do Bolsa Família para você e o Benefício LOAS para seu filho com deficiência são compatíveis.
Se você tem
renda familiar inferior a 1/4 do salário mínimo e desejar o Bolsa Família, pode
se cadastrar no CADÚNICO e requerer o Bolsa família em um CRAS (Centro de
Referencia da Assistência Social) perto de sua casa. Não precisa levar seu
filho com deficiência para fazer este cadastro.
Como a renda
do Bolsa família não interfere no BPC LOAS, você pode requerer o BPC LOAS pro
seu filho com deficiência na Agência do INSS
Atenção !
Para solicitar o Benefício Assistencial - BPC/LOAS você tem que agendar o seu
atendimento em uma Agência do INSS.
Esse serviço também está disponível na Central de
Atendimento, pelo telefone 135, de segunda à sábado, das 07:00 às 22:00,
horário de Brasília.
Na
impossibilidade de comparecimento no dia e horário, você deve remarcar o seu
atendimento por meio da Central de Atendimento 135.
É importante esclarecer que a remarcação pode ser
realizada uma única vez e que deve ocorrer antes do horário agendado, pois do
contrário será agendado um novo atendimento. Em caso de antecipação da data do
atendimento, será mantida a Data de Entrada do Requerimento - DER. Já no caso
de prorrogação, a Data de Entrada do Requerimento será a nova data agendada.
Esses são os documentos que deverão ser apresentados
no dia do seu atendimento.
Fique
Atento!
O Benefício Assistencial ao Idoso - BPC/LOAS
corresponde à garantia de um salário mínimo, na forma de benefício assistencial
de prestação continuada mensal, devido à pessoa idosa com 65 anos ou mais, que
comprove não possuir meios de prover a própria manutenção e também não possa
ser provida por sua família.
Tem direito o brasileiro nato ou naturalizado,
idoso, residente e domiciliado no Brasil, que não receba qualquer outro
benefício no âmbito da seguridade social ou de outro regime, inclusive o
seguro-desemprego, salvo o de assistência médica e a pensão especial de
natureza indenizatória.
Também tem direito o indígena idoso, que não receba
qualquer outro benefício no âmbito da seguridade social ou de outro regime,
salvo o da assistência médica.
Somente possuem direito ao benefício aqueles cuja
renda familiar ou grupo familiar mensal per capita seja inferior a ¼ do salário
mínimo.
O Benefício
Assistencial ao Idoso - BPC/LOAS não pode ser acumulado com:
qualquer Benefício Previdenciário, exceto com
pensões especiais mensais devidas às vítimas da Hemodiálise de Caruaru,
hanseníase, talidomida, Pensão Indenizatória a Cargo da União, Benefício
Indenizatório a cargo da União;
Pensão Mensal Vitalícia de Seringueiro;
Benefício de qualquer outro regime previdenciário;
Seguro-Desemprego.
Observações:
a) o Benefício Assistencial ao Idoso - BPC/LOAS já
concedido a um membro da família (mesmo aqueles concedidos antes da Lei 10.741
Estatuto do Idoso) não será levado em consideração no cálculo da renda familiar
per capita em caso de solicitação de um novo benefício de Amparo Assistencial
ao Idoso por outro membro da família.
b) a condição de acolhimento em instituições de
longa permanência, assim entendido como hospital, abrigo ou instituição
congênere não prejudica o direito do idoso ao recebimento do BPC/LOAS.
c) o beneficiário recluso, devidamente comprovado,
não fará jus ao Benefício de Prestação Continuada da Assistência
Social-BPC/LOAS, uma vez que a sua manutenção está sendo provida pelo Estado.
d) O beneficio assistencial é intransferível e,
portanto não gera pensão aos dependentes, além de não receber o abono anual (13º
salário) e não estar sujeito a descontos de qualquer natureza.
Para efetuar
o requerimento, pode ser nomeado um procurador. Consulte também informações
sobre representação legal.
O atendimento da Previdência Social é simples,
gratuito e dispensa intermediários.
Se você deseja requerer o BPC LOAS . Esta renda não
é considerada para requerer o BPC LOAS no INSS.
Para solicitar o Benefício Assistencial ao Idoso -
BPC/LOAS você tem que agendar o seu atendimento. Esse serviço também está
disponível na Central de Atendimento, pelo telefone 135, de segunda à sábado,
das 07:00 às 22:00, horário de Brasília.
Na
impossibilidade de comparecimento no dia e horário, você deve remarcar o seu
atendimento por meio da Central de Atendimento 135.
É importante esclarecer que a remarcação pode ser
realizada uma única vez e que deve ocorrer antes do horário agendado, pois do
contrário será agendado um novo atendimento. Em caso de antecipação da data do
atendimento, será mantida a Data de Entrada do Requerimento - DER. Já no caso
de prorrogação, a Data de Entrada do Requerimento será a nova data agendada.
Esses são os documentos que deverão ser apresentados
no dia do seu atendimento.
Fique
Atento!
O Benefício Assistencial ao Idoso - BPC/LOAS
corresponde à garantia de um salário mínimo, na forma de benefício assistencial
de prestação continuada mensal, devido à pessoa idosa com 65 anos ou mais, que
comprove não possuir meios de prover a própria manutenção e também não possa
ser provida por sua família.
Tem direito o brasileiro nato ou naturalizado,
idoso, residente e domiciliado no Brasil, que não receba qualquer outro
benefício no âmbito da seguridade social ou de outro regime, inclusive o
seguro-desemprego, salvo o de assistência médica e a pensão especial de
natureza indenizatória.
Também tem direito o indígena idoso, que não receba
qualquer outro benefício no âmbito da seguridade social ou de outro regime,
salvo o da assistência médica.
Somente possuem direito ao benefício aqueles cuja
renda familiar ou grupo familiar mensal per capita seja inferior a ¼ do salário
mínimo.
O Benefício Assistencial ao Idoso - BPC/LOAS não
pode ser acumulado com:
qualquer Benefício Previdenciário, exceto com pensões especiais
mensais devidas às vítimas da Hemodiálise de Caruaru, hanseníase, talidomida,
Pensão Indenizatória a Cargo da União, Benefício Indenizatório a cargo da
União; Pensão Mensal Vitalícia de Seringueiro; Benefício de qualquer outro
regime previdenciário; Seguro-Desemprego.
Observações:
a) o Benefício Assistencial ao Idoso - BPC/LOAS já
concedido a um membro da família (mesmo aqueles concedidos antes da Lei 10.741
Estatuto do Idoso) não será levado em consideração no cálculo da renda familiar
per capita em caso de solicitação de um novo benefício de Amparo Assistencial ao
Idoso por outro membro da família.
b) a condição de acolhimento em instituições de
longa permanência, assim entendido como hospital, abrigo ou instituição
congênere não prejudica o direito do idoso ao recebimento do BPC/LOAS.
c) o beneficiário recluso, devidamente comprovado,
não fará jus ao Benefício de Prestação Continuada da Assistência
Social-BPC/LOAS, uma vez que a sua manutenção está sendo provida pelo Estado.
d) O beneficio assistencial é intransferível e,
portanto não gera pensão aos dependentes, além de não receber o abono anual
(13º salário) e não estar sujeito a descontos de qualquer natureza.
Para efetuar
o requerimento, pode ser nomeado um procurador. Consulte também informações
sobre representação legal.
O atendimento da Previdência Social é simples,
gratuito e dispensa intermediários.
ATENÇÃO !
A renda do BPC LOAS já recebido por alguém da
família conta como renda familiar por pessoa e aí pode fugir do critério de
renda para acessar o Bolsa família, por tanto, primeiro requeira o Bolsa Família no CRAS e depois o BPC LOAS no
INSS (quando for o caso).
domingo, 1 de março de 2015
Ética e Clínica no Autismo Infantil
“A queda dos ideais fez com que cada vez mais os
resultados científicos passassem a ser usados como argumento de autoridade.
Contudo, nem tudo pode ser mensurável, nem tudo pode ser convertido em
evidência.”
Marcelo Veras
-=--=-=-=---=-=-=-=---=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
Após o nascimento o sistema neurológico do bebê
ainda está em formação. A percepção e
reação aos estímulos externos ocorrem sem que tenha consciência de si próprio,
ou seja, ainda não se reconhece como o sujeito de suas ações e sensações. No
entanto, antes de nascer o filho já apresenta uma existência, quando é nomeado
no desejo dos pais, ocupando um lugar no discurso familiar.
O nascimento em si é uma crise primordial que se
apresenta ao psiquismo, onde se instala a marca de uma relação biológica
interrompida.
A placenta como uma parte
de si que perde ao nascer, assim como o seio materno em sua função de corte,
simbolizam o objeto perdido, instauram um vazio, um buraco a ser preenchido de
um objeto jamais reencontrado e sempre substituído. Jacques Lacan fala de um
reencontro com o signo de uma repetição impossível, como a busca incessante no
Outro do que falta em nós mesmos.
De acordo com Sigmund Freud, ocorre uma perda da
libido que induz o sujeito a buscar fora de si mesmo uma completude. Podemos
pensar no mal estar da civilização quando diz que o prazer que se busca nunca
será completo, pois sempre faltará algo. Isto nos remete ao nosso mundo
contemporâneo com a ilusão do corpo/imagem perfeita ou da tal “felicidade”,
ofertada pelo mercado, mas nunca alcançada.
A metáfora do espelho é vital na constituição do
sujeito, num circuito pulsional onde a imagem do corpo vai sendo construída nas
trocas corporais, gestos e na voz que o adulto vai recobrindo de sentido. O
desamparo de um recém-nascido para além do orgânico é fundamentalmente um
desamparo simbólico, quando começa a habitar marcas, traços e caminhos
oferecidos pelo adulto em busca de satisfação e reconhecimento. Assim vai se
introduzindo no mundo, constituindo sua subjetividade inicialmente através do
Outro primordial materno e, posteriormente,
na interdição paterna com sua entrada no campo simbólico e na linguagem.
Ocorre que no autismo infantil este processo de
constituição do psiquismo, nos primeiros anos de vida, se encontra bloqueado
numa blindagem que não torna possível a conexão e relação com o desejo do
Outro, defendendo-se da linguagem e do mundo.
É como se não houvesse objeto perdido, encontra-se restrito ao organismo
biológico, com seu corpo constituído apenas como uma superfície refratária a
trocas, sem percepção de si e impossibilitado de constituir um corpo pulsional.
Além do corpo físico há uma corporeidade pulsional,
um circuito de força que possibilita a construção da imagem corporal que a
criança autista não consegue alcançar. Há uma força que não se deixa apreender
entre o corpo e o psiquismo e que precisa representar-se encontrando uma
expressão simbólica, caso contrário vai se repetir, sem espaços perdidos ou
bordas a serem inscritas.
Há uma recusa do Outro, que é sentido como invasivo
e ameaçador. Recusa do olhar, do alimento, do corpo e principalmente da voz
como uma trava em todos os circuitos pulsionais, numa defesa incessante. Seus
atos sem sentido diminuem sua agitação e angústia. Em sua relação com os
objetos não aparece o brincar, mas um manejo de encher e esvaziar que se repete
de forma compulsiva. O mutismo não se relaciona a uma incapacidade fisiológica ou a um
déficit, mas a uma impossibilidade de enunciação. A criança apresenta-se como
objeto de cuidados, fracassando em sua enunciação e não surgindo como sujeito
do inconsciente.
A causa é desconhecida e o aumento de sua
incidência na atualidade talvez possa relacionar-se às mudanças na
subjetividade contemporânea. Os aspectos neurológicos apontados pela
neurociência permanecem apenas como uma possibilidade não demonstrada, a
indústria farmacêutica aparece como solução imediata e as políticas públicas
reabilitadoras como única intervenção, restringindo a abordagem
interdisciplinar.
Com o DSM-5 (2013), o espectro autista se
transforma em um transtorno do neuro-desenvolvimento, que prioriza a adaptação
cognitiva em detrimento da complexidade psíquica e apaga o sujeito a ser
trabalhado subjetivamente, visando à adequação do comportamento. O efeito é a
patologização e a medicalização crescente da infância e tratamentos adaptativos
que apontam déficits, com uma abordagem externa à criança, onde suas produções
subjetivas e singularidade não teriam espaço para mostrar-se e desenvolver-se.
Penso que o tratamento com crianças autistas deva
partir mesmo destas produções enigmáticas, sem sentido, repetitivas, e a partir
daí oferecer um espaço e tempo possíveis para que se dê a possibilidade de uma
construção psíquica infantil, que por alguma razão não se constituiu.
É uma aposta ética na possibilidade do surgimento
do sujeito, em uma prática clínica que dê condições à criança de poder
encontrar saídas para este estado e gerir sua vida, com sua forma particular de
inserção e relação no mundo. Há um sujeito a ser escutado e reconhecido em seu
modo singular de funcionamento, alguém a ser trabalhado psiquicamente.
J. C. Maleval cita em Étonnantes mystifications de
la psychothérapie autoritaire: “(...) Se insistem nas coisas que vocês
consideram normais, encontrarão frustração, decepção, ressentimento, inclusive
raiva e ódio. Se se aproximam respeitosamente, sem preconceitos e abertos a
aprender coisas novas, encontrarão um mundo que jamais imaginaram”.
Ana Lucia
Esteves
Psicóloga/Psicanalista
São Paulo,
São Paulo, Brasil
Pós-Graduação/Especialização
pela Universidade de Nac. de Córdoba - Argentina.
Formação
continuada pelo Clin-A (Centro Lacaniano de Investigação da Ansiedade), com
participação em Seminário clínico.
Elaboração
do projeto: "Saúde Mental do trabalhador com deficiência mental".
Psicóloga Clínica do Centro de Desenvolvimento Humano - CDH/AME .
analuesteves@hotmail.com
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Mãe cria panfleto para ajudar filho autista e arte repercute na internet
Mariana Caminha disponibiliza o
arquivo editável
para que pais possam fazer a mesma homenagem aos pequenos.
Página no Facebook auxilia com mais informações
sobre o transtorno
Doutores do TEA
Já que estamos de volta às
aulas, que tal produzir um infográfico para os novos coleguinhas do seu filho,
falando um pouco sobre o amiguinho autista? É só editar, imprimir o documento e
mandar dentro de um envelope para os pais. Uma maneira divertida e criativa de
quebrar o preconceito, derrubar mitos, fazer novos amigos. Bom também para os
novos professores e diretores... Quem quiser o arquivo editável em photoshop, é
só escrever o email aqui embaixo!
Quem quiser o arquivo editável em photoshop, é só escrever o email aqui embaixo!
#Autismo #AutismoBrasil #TranstornodoEspectroAutista #Infográfico#Maternidade #CriançasEspeciais #RoteiroBaby
Mariana conta que tomou a atitude
apenas para mostrar as qualidades do menino e ajudá-lo a se integrar à nova
escola e a interagir melhor. Depois de deixar uma unidade particular, Fabrício
vai estudar na Escola Classe 303 Sul, onde terá uma educação direcionada, ao
lado de outras crianças com necessidades semelhantes às dele. “A gente sempre
teve muita sorte de encontrar professores motivados e amiguinhos que sempre
ajudaram o Fabrício, que foram muito carinhosos com ele, no ensino regular. Daí
resolvi criar esse panfleto para tentar incentivar ainda mais o esclarecimento,
o diálogo e trazer as crianças e os pais delas para perto dos autistas”,
explica.
Ser mãe de uma criança autista
foi um desafio. “O mais difícil foi fechar o diagnóstico. Começamos a perceber,
quando ele tinha um ano e dez meses, a dificuldade em falar. Pensamos que era
um problema de audição e procuramos ajuda médica em várias especialidades. Só
conseguimos fechar o diagnóstico com um médico em São Paulo. Depois disso, as
coisas começaram a se encaixar mais. Não é algo fácil, principalmente porque o
autismo não é uma condição muito conhecida entre médicos, mas não é algo
impossível”, explica.
Depois de criar o panfleto, a
mãe de Fabrício resolveu postá-lo no Facebook, na página “Doutores do TEA”,
criada por ela para a troca de informações com outros pais. “Eu nem imaginava
que ia repercutir tanto, mas, depois que coloquei [a arte] no Facebook, dezenas
de pessoas em todo o país começaram a me chamar para fazer um igual para os
filhos”. Hoje, o perfil disponibiliza um link onde é possível abrir o arquivo
editável para que as pessoas façam a mesma homenagem aos pequenos.
Funcionária da Embaixada do
Reino Unido, Mariana morou por sete anos na Inglaterra, onde deu à luz o
menino. O conhecimento na língua inglesa também virou ferramenta de ajuda. “A
maioria das informações sobre o transtorno estão em língua inglesa, o que acaba
virando mais uma barreira. No ‘Doutores do TEA’, a gente busca simplificar
ainda mais a informação”, diz. Ela ressalta que ainda há muitas barreiras a
serem vencidas e que o apoio da família às pessoas que têm o espectro autista é
fundamental. “Você sabe que ele [o autista] vai sofrer, você vai sofrer. É um
desafio. Tem dias que você está otimista, tem dias que fica mal e mesmo assim
tem que se entregar, mas de uma forma divertida, sem tratar o assunto com
estereótipos. A gente não precisa de pena, nem eles”.
'Você sabe que ele [o autista]
vai sofrer, você vai sofrer. É um desafio. Tem dias que você está otimista, tem
dias que fica mal e mesmo assim tem que se entregar, mas de uma forma
divertida. A gente não precisa de pena, nem eles', diz Mariana (Arquivo Pessoal
)
"Você sabe que ele [o
autista] vai sofrer, você vai sofrer. É um desafio. Tem dias que você está
otimista, tem dias que fica mal e mesmo assim tem que se entregar, mas de uma
forma divertida. A gente não precisa de pena, nem eles", diz Mariana
Sem estatísticas
Segundo a Associação Brasileira
de Autismo (Abra), o Brasil ainda não dispõe de estatísticas oficiais sobre o
autismo no país, tampouco no Distrito Federal. A SES também não tem dados sobre
quantos atendimentos são realizados na rede pública para essas pessoas. Estudos
em outros países têm mostrado um aumento nos casos diagnosticados. Em março do
ano passado, uma pesquisa do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC,
sigla em inglês), demonstrou que uma em cada 68 crianças norte-americanas de 8
anos de idade tem autismo. A prevalência do transtorno no país teve um aumento
de 30% em relação aos números divulgados em 2012, que apontavam que uma em cada
88 crianças dos Estados Unidos era autista. O relatório revelou também que a
maioria recebe o diagnóstico após os 4 anos de idade, embora a síndrome possa
ser detectada a partir dos 2 anos.
O autismo é definido por um
conjunto de comportamentos que variam em grau e gravidade. De acordo com a
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à
Saúde, a síndrome pertence aos Transtornos Globais de Desenvolvimento e pode se
manifestar de diversas formas. As mais comuns são: Autismo Infantil; Autismo
Atípico ou Transtorno Global de desenvolvimento (TGD); Síndrome de Asperger; e
Síndrome de Rett.
O tratamento é feito de acordo
com as necessidades de cada paciente e depende da complexidade do caso. Os
neuropediatras aconselham aos pais que estejam atentos ao comportamento da
criança desde os primeiros meses. Quanto mais rápido é diagnosticado, melhores
são as chances de garantir qualidade de vida ao autista. Há dificuldades que
precisam ser trabalhadas e desenvolvidas durante toda a vida e, além da equipe
médica, a família também precisa entender as necessidades da pessoa.
FONTE:
Jacqueline
Saraiva - Correio Braziliense
SAÚDE PLENA
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Oliver Sacks, neurologista e escritor, anuncia câncer terminal
...e afirma:
“Não há tempo para nada que não seja essencial”.
Em trechos de sua “carta”, Sacks afirma: “Não há
tempo para nada que não seja essencial”. “Não posso fingir que não estou com
medo. Mas meu sentimento predominante é de gratidão. Amei e fui amado; recebi
muito e dei algo em troca; li, viajei, pensei e escrevi. Tive uma relação com o
mundo, a relação especial do escritor e leitor.”
Oliver Sacks (81 anos), neurologista e escritor
britânico ficou conhecido, dentre outras realizações, pelos livros “Tempo de
despertar” e “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”. A primeira obra,
datada de 1973 é um relato baseado em suas próprias experiências como médico e
foi posteriormente adaptada e protagonizada por Robert Williams e Robert DeNiro
no cinema, obtendo três indicações ao Oscar. Seus livros foram traduzidos para
mais de vinte línguas e são sucesso de vendas, conquistando diversos prêmios
pelo mundo. O neurologista também é membro honorário da Academia Americana de
Artes e Letras, da Academia Americana de Artes e Ciências e da Academia das
Ciências de Nova Iorque.
Nesta semana, Sacks anunciou a descoberta de um
câncer em estágio terminal no fígado. O anúncio se deu por meio de um artigo
intitulado “Minha própria vida”, originalmente publicado pelo New York Times no
dia 19 de fevereiro.
Ele inicia o texto contando como foi a descoberta
da doença:
“Há um mês, eu sentia que estava em boas condições
de saúde, robusto. Aos 81 anos, ainda nado uma milha por dia. Mas a minha sorte
acabou – há algumas semanas, descobri que tenho diversas metástases no fígado.
Há nove anos, encontraram um tumor raro no meu olho, um melanoma ocular. Apesar
da radiação e os lasers que removeram o tumor terem me deixado cego deste olho,
apenas em casos raríssimos esse tipo de câncer entra em metástase. Faço parte
dos 2% azarados.
Sinto-me grato por ter recebido nove anos de boa
saúde e produtividade desde o diagnóstico original, mas agora estou cara a cara
com a morte. O câncer ocupa um terço do meu fígado e, apesar de ser possível
desacelerar seu avanço, esse tipo específico não pode ser destruído.”
Sacks ainda fala de como pretende viver de agora em
diante:
“Depende de mim agora escolher como levar os meses
que me restam. Tenho de viver da maneira mais rica, profunda e produtiva que
conseguir. Nisso, sou encorajado pelas palavras de um dos meus filósofos
favoritos, David Hume, que, ao saber que estava também com uma doença terminal
aos 65 anos, escreveu uma curta autobiografia em um único dia de abril de 1776.
Ele chamou-a de “Minha Própria Vida”.
Ainda inspirado em Hume: “Tive sorte de passar dos
oitenta anos. E os 15 anos que me foram dados além da idade de Hume foram
igualmente ricos em trabalho e amor. Nesse tempo, publiquei cinco livros e
completei uma autobiografia (um pouco mais longa do que as poucas páginas de
Hume) que será publicada nesta primavera; tenho diversos outros livros quase
terminados.”
Sacks conta que Hume, no texto citado acima escreve
que era “um homem de disposição moderada, de temperamento controlado, de um
humor alegre, social e aberto, afeito a relacionamentos, mas muito pouco
propenso a inimizades, e de grande moderação em todas as paixões.” Relata a
seguir que aí se distancia do filósofo: “apesar de desfrutar de relações
amorosas e amizades e não ter verdadeiros inimigos, eu não posso dizer (e
ninguém que me conhece diria) que sou um homem de disposições moderadas. Pelo
contrário, sou um homem de disposições veementes, com entusiasmos violentos e
extrema imoderação em minhas paixões.”
O médico conta ainda:
“Nos últimos dias, consegui ver a minha vida como a
partir de uma grande altura, como um tipo de paisagem, e com uma sensação cada
vez mais profunda de conexão entre todas suas partes. Isso não quer dizer que
terminei de viver.
Pelo contrário, eu me sinto intesamente vivo, e
quero e espero, nesse tempo que me resta, aprofundar minhas amizades, dizer
adeus àqueles que amo, escrever mais, viajar se eu tiver a força, e alcançar
novos níveis de entendimento e discernimento.
Isso vai envolver audácia, claridade e, dizendo
sinceramente: tentar passar as coisas a limpo com o mundo. Mas vai haver tempo,
também, para um pouco de diversão (e até um pouco de tolice).”
E continua: “Sinto um repentino foco e perspectiva
nova. Não há tempo para nada que não seja essencial. Preciso focar em mim
mesmo, no meu trabalho e nos meus amigos. Não devo mais assistir ao telejornal
toda noite. Não posso mais prestar atenção à política ou discussões sobre o
aquecimento global.
Isso não é indiferença, mas desprendimento – eu
ainda me importo profundamente com o Oriente Médio, com o aquecimento global,
com a crescente desigualdade social, mas isso não é mais assunto meu; pertence
ao futuro. Alegro-me quando encontro jovens talentosos – até mesmo aquele que
me fez a biópsia e chegou ao diagnóstico de minha metástase. Sinto que o futuro
está em boas mãos.
Nos últimos dez anos mais ou menos, tenho ficado
cada vez mais consciente das mortes dos meus contemporâneos. Minha geração está
de saída, e sinto cada morte como uma ruptura, como se dilacerasse um pedaço de
mim mesmo. Não vai haver ninguém igual a nós quando partirmos, assim como não
há ninguém igual a nenhuma outra pessoa. Quando as pessoas morrem, não podem
ser substituídas. Elas deixam buracos que não podem ser preenchidos, porque é o
destino – o destino genético e neural – de cada ser humano ser um indivíduo
único, achar seu próprio caminho, viver sua própria vida, morrer sua própria
morte.”
E Oliver Sacks conclui seu texto:
“Não posso fingir que não estou com medo. Mas meu
sentimento predominante é de gratidão. Amei e fui amado; recebi muito e dei
algo em troca; li, viajei, pensei e escrevi. Tive uma relação com o mundo, a
relação especial do escritor e leitor.
Acima de tudo, fui um ser sensível, um animal
pensante nesse planeta maravilhoso e isso, por si só, tem sido um enorme
privilégio e aventura.”
Texto originalmente publicado em: New York Times, em 19
de Fevereiro.
OBS.: Todo o conteúdo desta e de outras publicações deste
site tem função informativa e não terapêutica.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Politicamente correto e o direito ao desconforto
Na última semana, por meio das redes sociais, tomei
conhecimento de um apanhado de ideias sobre o “politicamente correto” e a
“liberdade de expressão” obtido de um blog mantido pelo O Globo.
A autora do
blog, Silvia Pilz, que se apresenta como jornalista, cronista e alguém que “diz
o que pensa”, teceu comentários a respeito de vários grupos de pessoas
(minorias, para ser mais preciso) e do já bem conhecido “politicamente correto”
que, segundo ela, tem obstado seu direito de “dizer o que pensa”, resumo
improvável do significado total do direito à liberdade de expressão, instituto
jurídico preconizado na Constituição Federal de 1988 e desde lá em vigor.
Silvia conseguiu reunir, em um texto apenas,
diversas situações envolvendo minorias, como pessoas com síndrome de Down,
anões e negros. Ela também falou sobre crianças em processo de adoção, no que
deveria ser um post, talvez, de humor. O texto pode ser lido aqui.
Anteriormente ela já havia escrito sobre crianças com síndrome de Down e
relatava ter encontrado um “enxame” de crianças em viagem à Barcelona, o que
teria lhe parecido uma espécie de “pesadelo”. Em O Globo, o texto foi editado e
o termo “enxame” substituído por “time”, mas em seu blog pessoal permanece
conforme o original, pelo menos até o momento em que estou digitando isto.
Na internet e na imprensa, algum desconforto
inicial deu vazão a uma onda de revolta em relação às opiniões da autora. O
Dep. Romário Faria, do PSB do RJ, pai de uma menina com síndrome de Down, foi
contundente ao publicar em seu perfil no Facebook que “suas palavras são apenas
tolices de uma pessoa com uma visão de mundo bastante limitada” e que a autora
estaria “fora do tempo”.
Obviamente ninguém conseguiria cercear o direito ao
desconforto individual diante do que quer que seja, pois trata-se de um
sentimento íntimo, cultivado sob condições sempre muito específicas. Cada
indivíduo está absolutamente livre para chocar-se com o que imagina ser
insuportável. E, dentro do estado de direito, está livre também para
manifestar-se quanto a isso, sujeitando-se às contrariedades.
Na jurisprudência recente brasileira, não são
poucos os casos de jornalistas interpelados judicialmente sob vários tipos de
argumentos, como incitação ao preconceito, racismo e apologia à discriminação.
O poder judiciário, via de regra, tem preferido recusar os “delitos de opinião”
e garantido o princípio do contraditório, através do direito de resposta. E o
direito à liberdade de expressão sempre esteve mais relacionado às liberdades
conquistadas após o final da ditadura militar. Apenas mais recentemente tem
sido invocado nesses casos, para o qual a legislação é pétrea, tanto no Brasil
quanto na maioria dos países ocidentais.
O desejo de que o estado puna formalmente a autora
do texto, entretanto, foi aventado por muitas pessoas, mais ou menos
informalmente. O jornalista Luis Nassif, por exemplo, defende a ideia de que o
Ministério Público Federal proponha ação civil pública contra a autora e sua
editora, a Globo, por dano moral coletivo.
É provável que, visitando os perfis pessoais de
pessoas emocionalmente envolvidas com o assunto, medidas ainda mais graves
sejam consideradas respostas razoáveis. É democrático. Não há cerceamento
possível ao desconforto. Li em alguns perfis nas redes sociais que a autora
mereceria morrer, no que pode ser apenas um laivo de ira momentânea quanto
também a expressão de uma intolerância ainda mais grave e violenta. Talvez,
como em muito já se faz, judicializar a questão do preconceito possa resolver
alguma coisa sobre o gesto preconceituoso, mas talvez não mova ele de seu nicho
um milímetro sequer e apenas alimente ainda mais intolerância, em um círculo vicioso
perigoso e indesejável.
É preciso mais reflexão, mesmo que isso seja
custoso, para que não se crie um monstro em substituição ao outro.
Evidentemente, eliminar a expressão de uma ideia não é suficiente para eliminar
a própria ideia e, talvez a ocultando, ela fique ela ainda mais mascarada e
inacessível. Na história da humanidade, sobre outros assuntos, isso já ocorreu
muitas vezes e não se obteve grandes avanços em relação aos direitos humanos,
mesmo que em nome de uma outra ideia mais plausível, defensável ou digna.
Talvez o maior crime de Silvia Pilz seja um que não
possa ser dimensionado juridicamente, porque enraizado no discurso e
manifeste-se na psicologia humana. Ao classificar o coletivo de pessoas com
síndrome de Down como “enxame”, o que ela obtém é a imediata desumanização das
pessoas. Seu estatuto civil e moral estaria reduzido ao universo animal, de
onde não poderiam ser abordadas natural e socialmente. É um pensamento estranho
e igualmente desconfortável, porque a síndrome de Down é uma fatalidade
genética inerente à condição humana, assim como o nanismo ou a cor da pele.
Desde o ataque à redação do Charlie Hebdo, muito se
tem debatido sobre violência e liberdade de expressão. Ora, não é preciso
raciocinar muito para concluir que uma condição inata não pode ser comparada a
uma opção racional adulta, como no caso da religiosidade. Mas não falta quem
tente forçar uma relação sobre a liberdade de expressão, a possível expressão
de um humor intelectualizado e a popularização de ideais preconceituosas,
contra as quais o “politicamente correto” pretende, talvez, ser uma espécie de
remédio. O humorista Rafinha Bastos, na Folha de São Paulo, foi celeremente
buscar guarida nesse guarda chuva destroçado, mas parece ter convencido a
poucos.
Seja como for, fatos assim levam-me a crer cada vez
mais de que realmente quase ninguém mais examina as próprias ideias antes de
exercer o direito a “dizer o que pensa”. Se não examinam sequer as ideias dos
outros e perpetuam farsas com a instantaneidade de um clique, que dirá dar-se
ao trabalho de conferir fontes, refutar hipóteses absurdas, ideias ultrapassadas
e informações sem sentido?
O trágico, neste caso, não reside nos efeitos
finais da livre expressão, porque felizmente a sociedade e as pessoas vêm
livrando-se de estereótipos e estigmas, mas no trânsito abundante de ideias
pobres e ridículas de toda a espécie, incapazes de um mínimo ato de reflexão,
interpretadas fora de qualquer rigor intelectual e sem senso de humor algum
para além de um calcado na ridicularização do ser humano, na distinção social e
no preconceito.
Haverá momento em que pensar-se no que é dito será
mais frequente, felizmente, do que dizer-se o que pensa, embora tudo conspire
pelo contrário. Se a liberdade de expressão é, sem dúvida, condição prévia para
qualquer debate honesto na esfera pública e o humor uma forma peculiar de
elaboração mental, a propagação de ideias sem elaboração nenhuma apenas repete,
como em um eco infinito, a própria pobreza de espírito, que é a tragédia máxima
para o ser humano pensante.
Lúcio Carvalho
* Coordenador-Geral
da Inclusive – Inclusão e Cidadania.
BPC - Sobre o Benefício de Prestação Continuada
BPC Trabalho -
Benefício de Prestação continuada da Assistência Social
É um direito garantido pela Constituição Federal de
1988 e consiste no pagamento de 01 (um) salário mínimo mensal à pessoas com 65
anos ou mais de idade e à pessoas com deficiência incapacitante para a vida
independente e para o trabalho, onde em ambos os casos a renda mensal bruta
familiar per capita seja inferior a um quarto do salário mínimo vigente.
O BPC também encontra amparo legal na Lei Federal
10.741, de 1º de outubro de 2003, que institui o Estatuto do Idoso.
O Benefício
é gerido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) a
quem compete sua gestão, acompanhamento e avaliação e, ao Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS) a sua operacionalização. Os recursos para custeio do BPC
provem do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS).
Mudanças na Lei do Benefício de Prestação
Continuada – BPC
Recentemente foram aprovadas normas que mudaram as
regras do Benefício De Prestação Continuada – BPC – (Lei 12.470, de 31.08.2011
e Decreto 7.617, de 17.11.2011).
As mudanças tiveram por propósito favorecer o
ingresso da pessoa com deficiência que recebe o BPC no mercado de trabalho
formal e estimular sua qualificação profissional.
Agora o BPC é suspenso (não mais cancelado) quando
a pessoa com deficiência passa a trabalhar. Ao deixar o trabalho, o Beneficio
voltará a ser pago. A pessoa deve apenas requerer ao INSS a retomada do
pagamento do Benefício. Para voltar a receber o BPC não precisa mais fazer
perícia, basta fazer o requerimento. Durante todo tempo no qual a pessoa
estiver trabalhando o prazo para reavaliação bienal do benefício também será
suspenso. Esse prazo só voltará a contar a partir do restabelecimento do
pagamento do BPC. Com essas modificações a pessoa com deficiência e a sua
família não precisam mais ter medo do trabalho com carteira assinada. Hoje a
pessoa tem tranquilidade e segurança de trabalhar, pois se não der certo essa
experiência ela terá condições de voltar a receber o pagamento do BPC
imediatamente.
Contrato de Aprendizagem
Outra novidade importante é que agora a pessoa com
deficiência que recebe o Benefício pode fazer um curso de aprendizagem
profissional ganhando em torno de meio salário mínimo por mês e continuar
recebendo o valor do BPC (1 salário mínimo) por um período de no máximo 2 anos.
O aprendiz é contratado por uma empresa que assina sua a carteira de trabalho e
tem direito a férias, 13º salário, previdência social, vale-transporte, FGTS,
etc. Os cursos de aprendizagem profissional são
gratuitos e dividem-se em duas etapas: a primeira
dentro de uma Escola Profissional como SENAC, SENAI, SESCOOP etc. A segunda
fase é um aprendizado prático dentro da empresa que propicia um ingresso
gradual no mundo do trabalho. Para entrar ser contrato como aprendiz a idade
mínima é de 14 anos e não há idade máxima. Além disso, a pessoa com deficiência
não precisa ler e escrever para entrar no curso de aprendizagem. As habilidades
e as competências relacionadas com a profissionalização devem ser consideradas
e não a escolaridade.
O BPC não é uma aposentadoria e, portanto, em caso
de morte de seu titular o beneficio não é transferido para seus dependentes. O
contrário acontece quando a pessoa tem carteira assinada e passa a contribuir
com o sistema previdenciário. Além disso, o BPC não dá direito ao recebimento
do 13º salário, férias e a outros benefícios eventualmente concedidos pelas
empresas como auxílio alimentação, plano de saúde, etc. Aproveite essas
mudanças. Você verá que a sua vida e a de seu filho mudará quando o ingressar
no mercado de trabalho. O trabalho organiza a rotina do dia a dia, traz
responsabilidade, cria um circulo de amizades e dá reconhecimento a pessoa.
Por Ana Maria Machado da Costa *
* Auditora Fiscal do Trabalho- Ministério do
Trabalho e Emprego- SRTE/RS
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
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