sexta-feira, 19 de setembro de 2014
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Autismo: Diagnóstico precoce é fundamental para estimular crianças na comunicação e socialização
Doença atinge 70 milhões de pessoas no mundo.
No
Brasil, são cerca de 2 milhões
Deiseone Matilde Verônica tem 34 anos e há sete
ganhou sua primeira e única filha, Thaiane Fernanda Verônica. Quando a
garotinha completou seis meses de vida, a mãe começou a desconfiar que havia
algo errado em seu desenvolvimento. O primeiro temor era de que o bebê fosse
surdo, já que Thaiane era muito parada e quase não se mexia. O exame de audição
não apontou problemas, mas por outro lado os pais descobriram que a moleira da
criança já estava fechada e a pediatra pediu que a mãe esperasse para monitorar
a evolução da filha. Deiseone esperou até que ela completasse nove meses e
voltou a procurar especialistas. Quase com 2 anos, Thaiane deu os primeiros
passos. Mas só aos 3 foi encaminhada ao Sistema Único de Saúde (SUS), onde um
psiquiatra deu o diagnóstico: a menina sofria do transtorno do espectro
autista.
“O diagnóstico precoce foi muito bom para minha
relação com Thaiane, pois o contato físico e visual dela melhorou e acho que
isso também ajudou na socialização”, diz Deiseone. Ela conta que tem uma boa
comunicação com a filha. Ela me pede água, pede copo e anda normalmente. Tento
proporcionar um bom ambiente para minha filha. Vou com ela à terapia
comportamental-cognitiva, fonoterapia e terapia ocupacional. Levo Thaiane na
escola e, como é longe, fico lá esperando”, conta a dona de casa, que vive em
função da filha.
Mãe mostra como é o tratamento do filho com autismo:
https://www.youtube.com/watch?v=7L-E3uL3TxQ
Mãe mostra como é o tratamento do filho com autismo:
https://www.youtube.com/watch?v=7L-E3uL3TxQ
SAIBA MAIS...
Estudo americano aponta relação entre autismo e
pesticidas
Estudo diz que causas do autismo são genéticas e
ambientais na mesma proporção
Autismo: diagnóstico precoce avançou, mas
atendimento precisa ser ampliado
Sinais do autismo aparecem no olhar de
recém-nascidos
Tema constantemente debatido por especialistas, o
diagnóstico precoce do autismo – que, segundo estimativas da Organização
Mundial de Saúde, atinge 70 milhões de pessoas no mundo e no Brasil cerca de 2
milhões –, ainda não é consenso entre os profissionais da área médica. Vem
ganhando força porém a tese de que iniciar uma intervenção o quanto antes,
quando a criança apresenta os primeiros possíveis sintomas, ajuda os pais a
ganhar um tempo precioso para estimular o cérebro de seus filhos portadores do
problema. De acordo com Fábio Barbirato, psiquiatra da infância e da
adolescência e coordenador do Serviço de Atendimento e Psiquiatria Infantil da
Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, hoje é possível detectar o autismo
numa criança entre 12 meses e 18 meses de vida. Para isso, porém, é preciso
profissionais treinados.
“Há 20 anos, quando comecei a conhecer a
psiquiatria da infância, não se falava em diagnósticos antes dos 5 anos de
vida”, lembra o psiquiatra. Segundo ele, há 10 anos, apenas uma criança de até
cinco anos era atendida por mês em seu consultório e no serviço de saúde. Hoje
são em média 20 crianças por semana no consultório e outras 20 no serviço de
saúde. Para Barbirato, isso ocorre porque os pais estão perdendo o medo de
encarar o problema e levando seus filhos mais cedo ao consultório psiquiátrico.
Deiseone Matilde está sempre com Thaiane. Diagnóstico aos 3 anos, segundo a mãe, foi fundamental para o desenvolvimento da filha (Marcos Michelin/EM/D.A Press) |
O autismo, de fato, é uma doença de diagnóstico
difícil, que apresenta sinais raramente conclusivos. Quanto antes os pais
levarem seus filhos para avaliação médica, melhor. Uma abordagem desse tipo
adotada por pesquisadores do Davis Health System, ligado à Universidade da
Califórnia (EUA), vem, aparentemente, eliminando sintomas e atrasos no
desenvolvimento de crianças autistas que receberam estímulos específicos a
partir dos seis meses.
Publicado no Journal of Autism and Developmental
Disorders, o estudo aplicou a terapia chamada infant start (início da infância)
em sete crianças diagnosticadas com o transtorno. De acordo com os
pesquisadores, o programa busca alterar seis comportamentos que podem ser
observados nos primeiros meses de vida: fixação visual em objetos, repetição
anormal de movimentos, ausência de atos intencionais de comunicação,
desinteresse na interação social, desenvolvimento da fala abaixo do esperado e
baixa resposta a interações afetivas pelo olhar e pela voz.
Para implementar a estratégia, os médicos contaram
com a participação de importantes aliados, os próprios pais dos pequenos
pacientes, que se transformaram em verdadeiros terapeutas dos bebês que tinham
entre seis e 10 meses quando começaram a ser tratados. “A mãe e o pai estão ao
lado das crianças todos os dias e é nos pequenos momentos, como a troca de
fraldas, a hora de comer, os passeios e as brincadeiras, que eles influenciam
no aprendizado dos bebês”, explica Sally Rogres, uma das autoras do artigo.
Arthur Kummer, psiquiatra de crianças e
adolescentes e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
explica que “o conceito de autismo vem sendo lapidado. A definição atual
ressalta que a principal alteração provocada pelo autismo é na habilidade
comunicativa. Essa observação vem permitindo a definição de diagnósticos com
mais frequência e de casos mais leves.”
Alteração da habilidade comunicativa é um dos principais sintomas que ajudam a definir os casos, egundo o psiquiatra Arthur Kummer |
Pesquisa do governo americano mostra que o número
de casos de autismo em 2010 (últimos dados disponíveis) aumentou quase 30% em
relação aos dados anteriores (de 2008), quando se apontava que havia um caso
para cada 88 crianças e quase 60% em comparação com 2006, quando foi registrado
um caso para 110 crianças normais. A maioria das crianças foi diagnosticada
após os 4 anos. Em 2010, essa relação subiu para uma em cada 68 crianças com 8
anos de idade. Os números são do CDC (Center of Diseases Control and
Prevention), órgão máximo do governo americano para a saúde. Segundo Barbirato,
o espectro autista tem basicamente duas características: na socialização e na
comunicação (a criança não fala, nem aponta o que quer, ou fala mas não tem
reciprocidade social; algumas podem melhorar a linguagem, mas não conseguem
manter um diálogo) e as alterações de comportamento. Entre elas, pode haver uma
inflexibilidade com mudanças na rotina, movimentos estereotipados (repetitivos
com as mãos ou mexer o corpo de forma anormal), e um interesse não usual na
intensidade ou no foco (por exemplo, ficar aficcionado por palitos de picolé).
“Quando a intervenção é realizada em crianças menores de 3 anos, a melhora é de
80%. Aos 5 anos, cai para 70%, e acima disso fica muito prejudicada”, observa.
Risperidona
Na última sexta-feira, o Ministério da Saúde
anunciou que vai disponibilizar, pela primeira vez no Sistema Único de Saúde
(SUS), o medicamento risperidona. A substância age na irritabilidade e
agressividade, sintomas comuns no autismo. O ministério estima que a medida
será capaz de beneficiar 19 mil pacientes ao ano. Saiba mais.
Mitos e verdades
» Mito – O problema é causado pela relação mãe e
filho.
» Verdade – Trata-se de um transtorno do
neurodesenvolvimento de forte base genética.
» Mito – A criança não aceita afeto ou beijos.
» Verdade – Sim, pode aceitar.
» Mito – Ou a criança é superinteligente ou tem grave
défict intelectual.
» Verdade – Pode haver uma supercapacidade de
memória, mas o autista se concentra num interesse só.
» Mito – Dietas podem controlar o autismo.
» Verdade – Não existe comprovação científica sobre
isso
Fonte: Fábio Barbirato
SAÚDE PLENA
http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2014/09/14/noticia_saudeplena,150355/autismo-diagnostico-precoce-mostra-se-fundamental-para-que-pais-possa.shtml
sábado, 13 de setembro de 2014
Medicamento para autismo será distribuído pelo SUS
O Sistema
Único de Saúde (SUS) passará a oferecer o primeiro medicamento para tratar os
sintomas do autismo. O remédio, conhecido como Risperidona, será incorporado na
rede pública e vai auxiliar na diminuição das crises de irritação,
agressividade e agitação, sintomas comuns em pacientes com a doença.
Entenda o que
é o autismo
A Risperidona
deverá estar disponível no início de 2015. De acordo com o Ministério da Saúde,
o órgão investirá R$ 669 mil para a compra do remédio. A estimativa do governo
é de que o tratamento esteja disponível para a população a partir do início de
2015 e que beneficie cerca de 19 mil pacientes por ano.
A doença
O autismo
aparece nos primeiros anos de vida. Apesar de não ter cura, técnicas, terapias
e medicamentos, como o Risperidona, podem proporcionar qualidade de vida para
os pacientes e suas famílias. Entre os sintomas comuns, o autista olha pouco
para as pessoas, não reconhece nome e tem dificuldade de comunicação e
interação com a sociedade. Com variação do grau da doença, pacientes apresentam
comportamento agressivo, agitado e isso exige cuidado e dedicação permanentes.
De acordo com
a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), 70 milhões de pessoas no
mundo tenham a doença. No Brasil, a estimativa é que este número alcance duas
milhões de pessoas.
O medicamento
O remédio é
usado para tratar as chamadas psicoses. Isto significa que ele tem um efeito
favorável sobre um certo número de transtornos relacionados ao pensamento e às
emoções. De acordo com o fabricante do remédio, a Risperidona é indicada para o
tratamento de transtornos do comportamento, para pacientes com demência nos
quais os sintomas como agressividade, transtornos psicomotores ou sintomas
psicóticos são comuns. Além do uso em pessoas com autismo, o medicamento é
usado para os tratamentos de esquizofrenia e transtorno bipolar.
FONTE:
http://www.ebc.com.br/noticias/saude/2014/09/medicamento-para-autismo-sera-distribuido-pelo-sus
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Ministério da Saúde anuncia a
inclusão de medicamento que promete melhorar a vida de pessoas com autismo
O remédio conhecido como Risperidona
ajuda a diminuir as crises de irritação, agressividade e agitação
Ainda não existe cura para o
Transtorno do Espectro Autista, mas o Ministério da Saúde acaba de anunciar a
incorporação de um medicamento que promete melhorar a vida das pessoas com o
distúrbio.
O que é autismo?
O nome do remédio é Risperidona, cuja
principal função é diminuir as crises de irritação, agressividade e agitação.
Esses são sintomas comuns do transtorno que, muitas vezes, dificulta o convívio
e diminui qualidade de vida de quem sofre com o autismo. A bula recomenda o uso
para crianças a partir de 5 anos.
A expectativa é de que a medida
beneficie cerca de 18.975 pacientes ao ano. A previsão de investimento do
Ministério da Saúde para a compra do medicamento é R$ 668.549,37 mil ao ano. No
Brasil, a taxa de prevalência da doença é de 27,2 para cada 10 mil habitantes
com idade entre 5 e 18 anos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)
estima que 70 milhões de pessoas no mundo tenham a doença. No Brasil, a
estimativa é de 2 milhões de autistas.
FONTE:
Por:http://revistacrescer.globo.com/
http://revistacrescer.globo.com/Curiosidades/noticia/2014/09/ministerio-da-saude-anuncia-inclusao-de-remedio-que-promete-melhorar-vida-de-pessoas-com-autismo.html
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Descoberta possível causa não genética do autismo
Um
investigador norte-americano associou a ocorrência de autismo a lesões
cerebrais causadas no ventre da mãe ou numa fase inicial do crescimento do
bebé. O estudo foi publicado na revista Neuron, no dia 6 de Agosto.
Segundo Samuel Wang, professor de Biologia
Molecular e Neurociência da Universidade de Princeton, os danos na região do
cerebelo podem levar ao surgimento de perturbações do espectro do autismo e de
outras perturbações neurais numa idade mais avançada.
O cerebelo localiza-se na parte posterior
inferior do cérebro humano e tem como função o processamento de informações
internas e externas - como estímulos sensoriais que influenciam o
desenvolvimento de outras regiões do cérebro.
No início da
vida, as lesões no cerebelo podem potencialmente interromper o processo de
desenvolvimento do cérebro. Com base numa extensa revisão de estudos realizados
anteriormente, a equipa de Samuel Wang verificou que os indivíduos que sofreram
lesões no cerebelo durante o parto têm 36 vezes mais probabilidade de
desenvolver autismo, sendo esta a principal causa de autismo não hereditária
(ver gráfico abaixo).
Samuel Wang
explica que "a determinada altura, aprendemos que sorrir é bom porque a
mãe sorri para nós. Fazemos estas associações no início da vida, porque não
nascemos a saber que sorrir é bom".
O investigador
refere ainda que "no autismo, dá-se algo de errado nesse processo e uma
coisa que pode ser informação sensorial não é processada corretamente pelo
cerebelo".
Esta área do cérebro está, normalmente,
associada ao movimento e à coordenação motora em adultos. Estudos recentes
sugerem que tem também influência na cognição infantil.
"É bem sabido que o cerebelo é um
processador de informação. O nosso neocórtex [a parte maior do cérebro,
responsável por um processamento superior] não recebe informação não filtrada.
Há passos críticos que têm de ocorrer entre o momento em que a informação
externa é detectada pelo nosso cérebro e o momento em que atinge o córtex
neural", explica Samuel Wang.
A equipe de investigadores planeia provar a
sua teoria através da inativação da atividade elétrica das células cerebrais, o
que identifica o estádio de desenvolvimento em que a lesão no cerebelo se
encontra. Um segundo método passará por reconstruir as conexões neurais entre o
cerebelo e as outras regiões cerebrais.
FONTE:
Por Maria da Luz
http://boasnoticias.pt/noticias_Descoberta-poss%C3%ADvel-causa-n%C3%A3o-gen%C3%A9tica-do-autismo_20817.html?page=0
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Santa Maria tem a primeira escola exclusiva para crianças autistas
Escola tem equipe multidisciplinar e, além da
aprendizagem, trabalha as relações das crianças com as demais pessoas
Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS
Hábitos básicos como lavar as mãos e fazer um
sanduiche, para uma criança com transtorno do espectro do autismo, podem ser
bem difíceis. Em Santa Maria, são mais de 3,1 mil habitantes com o transtorno,
se levarmos em consideração o cálculo mundial de um autista para cada 88
pessoas. Pensando em atender a estas crianças especiais, a educadora especial e
psicopedagoga Cristiane Kubaski reuniu um grupo de profissionais e abriu uma
escola exclusiva para autistas.
_ Uma criança com autismo, dependendo do nível, tem
condições de fazer o que qualquer outra criança faz, mas precisa ser ensinada,
desde o abraço, o contato visual, a brincar com os colegas. Ela não aprende
somente observando _ explica a educadora.
O ideal é que a educação alterne a inclusão na
escola regular e no meio social com o atendimento individualizado, que, em
geral, é prestado pelas escolas no contraturno. A diferença da proposta da
Escola Mundo Novo, que é particular, é o atendimento multidisciplinar, com
educadoras especiais, fonoaudióloga, psicóloga e aulas de música, que ensinam a
criança a realizar atividades diárias.
_ Há atividades da vida diária que são muito
importantes e que elas podem aprender, como amarrar um cadarço, saber preparar
um lanche, lavar a louça, lavar as mãos, escovar os dentes e ir ao mercado _
diz a educadora.
O pequeno Eduardo Ramos Scremin (foto), o Dudu,
tinha pouco menos de 2 anos quando foi diagnosticado com autismo. A mãe,
Elisete Ramos, 34 anos, percebeu que o menino, que hoje tem 2 anos e 10 meses,
não ficava com os colegas na escolinha, ignorava as pessoas ao redor e fazia
apenas as atividades pelas quais tinha interesse.
_ Acho que a escola vai ajudar em tudo. Desde
identificar a fase do aprendizado, até trazer ele para a etapa correta para não
ficar atrasado em relação aos colegas _ disse a mãe.
Autistas aprendem a desenvolver habilidades
Para, Carlo Schmidt, professor do Programa de
Pós-Graduação em Educação Especial da UFSM e especialista em autismo, a
convivência com outras crianças, por meio da inclusão educacional, é essencial
para o desenvolvimento de pessoas com autismo:
_ O principal da inclusão é que essas crianças
participam de um ambiente altamente estimulador que vai ajudá-las muito.
Para o professor, o atendimento especializado no
contraturno da escola ajuda na aprendizagem da classe regular, identificando e
focando nos pontos fortes e fracos.
No caso da Mundo Novo, a proposta é desenvolver a
autonomia das crianças, trabalhando questões que não são abordadas na escola
regular, as chamadas atividades de vida diária, que são habilidades que geram
independência.
O TRANSTORNO
- A característica principal é dificuldade de
interação, comunicação e socialização
- Normalmente, os pais identificam por meio de
atraso na linguagem e falta de contato visual, presença de comportamento e
interesses restritos e repetitivos
- O diagnóstico é confirmado por equipe
multidisciplinar que, em geral, inclui pediatra e neuropediatra, psicólogo
- Não há testes ou exames que comprovem o autismo
- Os exames são importantes para descartar outras
doenças com os mesmos sintomas
- Não tem característica física que identifique _ o
que é bom porque não estigmatiza, mas, ruim porque, não identificando, a
sociedade reprova e julga o comportamento
- Muitos não falam
- Uma avaliação vai determinar em que estágio de
desenvolvimento a criança está e, depois, será traçado um plano específico para
cada criança.
FONTE:
http://diariodesantamaria.clicrbs.com.br/rs/educacao/noticia/2014/09/santa-maria-tem-a-primeira-escola-exclusiva-para-criancas-autistas-4591167.html?impressao=sim
DIÁRIO DE SANTA MARIA
Lizie Antonello
lizie.antonello@diariosm.com.br
terça-feira, 2 de setembro de 2014
INCLUSIVE: Análise dos programas de governo dos candidatos a presidente em relação às pessoas com deficiência
Com as eleições se aproximando,
a Inclusive analisou os
programas de governo dos principais candidatos à presidência da República no
que diz respeito às melhorias propostas para as vida das pessoas com
deficiência.
Leia abaixo as partes dos programas que abordam o tema e nossos
comentários.
A apresentação dos programas segue a ordem crescente – dos que
citaram maior número de vezes a palavra deficiência àquele em que a palavra não
é citada.
AECIO NEVES – ANÁLISE DA
INCLUSIVE
O programa de Aécio tem 76
páginas e as pessoas com deficiência são mencionadas nos capítulos de
assistência social, direitos humanos e habitação, além de ter um capítulo
exclusivo sobre o tema, perfazendo um total de quase 2 páginas. Mais objetivo
que o da candidata Marina, o programa de Aécio abre cada capítulo com um
parágrafo conciso e elenca medidas que diz que tomará.
As medidas propostas são bem,
mas robustas e embasadas que as da candidata do PSB, embora cometa alguns
deslizes.
1. Apoio à criação de espaços
apropriados para o debate sobre as necessidades e aspirações das pessoas com
deficiência, fortalecendo a concepção de que a questão da deficiência não pode
ser confundida com doença.
COMO ASSIM? ONDE ESTÁ A INCLUSÃO? SERÁ QUE ESPAÇOS ESPECIAIS NÃO
REFORÇARIAM A NOÇÃO DE QUE AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA TÊM DOENÇAS CONTAGIOSAS?
6. Apoio à implantação de uma
Rede Nacional de Reabilitação e Readaptação, com centros e clínicas destinadas
ao cuidado de portadores de deficiências físicas, garantindo o acesso gratuito
aos profissionais e aos medicamentos e exames médicos necessários, assim como o
fortalecimento dos serviços já existentes.
PORTADORES?????????
7. Apoio a educação inclusiva,
que mantém as crianças na escola regular, intensificando a capacitação contínua
de professores e de toda a equipe escolar, além do preparo da escola, sem
prejuízo das escolas especiais, nos casos em que estas sejam necessárias.
9. Realização de parcerias entre
instituições educacionais públicas e privadas, sem fins lucrativos, no sentido
de avançar para a construção de um sistema educacional que contemple o
fortalecimento das escolas comuns e a permanência das escolas especiais, nos
casos em que estas sejam necessárias.
AS DIRETRIZES 7 E 9 ABREM ESPAÇO PARA A MANUTENÇÃO DAS ESCOLAS
ESPECIAIS, EM CONTRADIÇÃO COM A CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA E O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, QUE DIZEM QUE A ESCOLARIZAÇÃO DEVE
SER REALIZADA EM ESCOLA REGULAR. A 7 FALA DE PERMANÊNCIA DO ALUNO NA ESCOLA,
MAS NÃO NO SEU PROGRESSO.
Apesar
das contradições apontadas, o programa do candidato Aécio é o mais completo e
objetivo. Vê-se que está bem assessorado e espera-se que, caso seja eleito,
realmente leve a cabo as medidas propostas, assim como muitas outras.
Leia o programa completo aqui:
http://divulgacand2014.tse.jus.br/divulga-cand-2014/proposta/eleicao/2014/idEleicao/143/UE/BR/candidato/280000000085/idarquivo/229?x=1404680555000280000000085
MARINA SILVA – ANÁLISE DA
INCLUSIVE
A candidata Marina é a que
dedica maior espaço ao tema. No livreto de 242 páginas, há um capítulo de quase
duas páginas e mais uma menção no capítulo sobre cidadania e identidade. O
programa traça um panorama geral sobre a deficiência e a situação no Brasil e
depois propõe medidas para ampliar as condições ao exercício da cidadania. Cita
ainda trechos da Constituição Federal no tocante à questão.
Surpreende-nos a menção aos
artigos da Constituição de 1988 referente ao assunto, quando temos a Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2008, atualmente em vigor com
valor de norma constitucional, que é muito mais avançada. Inclusive, um dos
artigos da CF citados no programa, que diz que os alunos com deficiência têm
direito à escolarização preferencialmente na rede regular de ensino, foi
superado pela Convenção que determina que todos os alunos com deficiência têm
direito à estudar em escola regular.
Há erros no texto, como por
exemplo, a data de criação do Conade é 1999 e não 2002, como diz o programa.
Além disso, não soi atualizado o nome do Conade, que mudou em 2010 – caiu o
portador – nem o da secretaria que trata do tema, que passou a se chamar
Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência em 2011.
As propostas feitas parecem
elementares e simplistas. Não lembram em nada as políticas públicas que
precisamos e gostaríamos de ver implementadas pelo governo federal. Algumas não
são e atribuição do governo federal. Outras parecem deixar certos tipos de
deficiência de lado, como os três exemplos abaixo.
• Capacitar trabalhadores que
atendem ao público para lidar com pessoas com deficiência intelectual,
inclusive aquelas com dificuldades de comunicação.
POR QUE APENAS AS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E NAO AS OUTRAS DEFICIÊNCIAS?
• Realizar concursos públicos
adaptados, visando à inserção no mercado de trabalho de pessoas com deficiência
intelectual que comprovem aptidões e potencialidades.
POR QUE APENAS AS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E NAO AS OUTRAS DEFICIÊNCIAS?
• Proporcionar educação
continuada específica para os profissionais das áreas de educação e saúde sobre
deficiências intelectuais.
POR QUE APENAS AS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E NAO AS OUTRAS DEFICIÊNCIAS?
• Criar programas para capacitar
os quadros das administrações públicas das três esferas de governo para
interagir com pessoas com deficiência visual e auditiva mediante a participação
em cursos de libras e braile.
POR QUE SÓ VISUAL E AUDITIVA?
POR QUE SÓ VISUAL E AUDITIVA?
Outras propostas não contemplam
a transversalidade almejada pelo movimento de pessoas com deficiência, que
garantam a inclusão das pessoas com deficiência em todos os espaços da
sociedade.
• Incentivar a participação
efetiva de pessoas com deficiência na definição de políticas públicas para elas,
mediante conferências, fóruns e consultas.
POR QUE “PARA ELAS” E NÃO EM TODAS AS POLÍTICAS PÚBLICAS?
POR QUE “PARA ELAS” E NÃO EM TODAS AS POLÍTICAS PÚBLICAS?
• Instituir nos programas de
isenção fiscal a obrigatoriedade de que 10% do valor do patrocínio a eventos
culturais e esportivos seja destinado a ações inclusivas voltadas a pessoas com
deficiência.
AÇÕES VOLTADAS PARA NÃO SÃO INCLUSIVAS.
AÇÕES VOLTADAS PARA NÃO SÃO INCLUSIVAS.
• Reservar uma parte do Fundo
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumcad) para projetos que
beneficiem pessoas com deficiência.
NÃO É POSSÍVEL FAZER ISSO! DEVE
SER CRIADO UM FUNDO ESPECÍFICO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA.
Esperamos que, se eleita, a
candidata se cerque de especialistas e ativistas com deficiência que conheçam a
realidade brasileira e os maiores problemas do segmento. É preciso montar um
programa realmente eficaz, à luz da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, e colocá-lo em prática.
Leia o programa completo aqui:
**************
PASTOR EVERALDO – PROGRAMA
“ASSISTÊNCIA SOCIAL
PASTOR EVERALDO – PROGRAMA
“ASSISTÊNCIA SOCIAL
(III) criação de vales e
instrumentos afins para os portadores de necessidades especiais com o objetivo
de assegurar seu atendimento em clínicas privadas especializadas, garantindo
assim aos socialmente desprivilegiados com necessidades especiais o mesmo
tratamento de alto nível recebido pelos mais abastados;
(IV) criação de um amplo
programa de acessibilidade de portadores de necessidades especiais a espaços
públicos e privados.”
http://www.psc.org.br/pastor-everaldo/programa-de-governo#assistencia
*************
PASTOR EVERALDO – ANÁLISE DA
INCLUSIVE
O Pastor Everaldo aborda o tema
entra apenas como assistência social, referindo-se aos cidadãos com deficiência
como “socialmente desprivilegiados com necessidades especiais”, com proposta
assistencialista de criação de “vales” para atendimento de saúde, além de também
ter escorregado no portador de necessidade especial, terminologia ultrapassada.
*************
DILMA ROUSSEF – PROGRAMA
“A continuidade da implementação
do Viver sem Limite irá garantir igualdade de oportunidades aos brasileiros e
brasileiras com deficiência, com ações de acesso à educação, atenção à saúde,
inclusão social e acessibilidade.”
https://programadegoverno.dilma.com.br/wp-content/uploads/2014/07/Programa-de-Governo-Dilma-2014-RGB1.pdf
DILMA ROUSSEF – ANÁLISE DA
INCLUSIVE
Não há muito o que comentar
sobre o programa da candidata Dilma. Ele tem 42 páginas e apenas um parágrafo é
dedicado às pessoas com deficiência, no qual só afirma que dará continuidade ao
Plano Viver sem Limites. A candidata aceita constribuições para seu programa em
sua página, portanto, pode ser uma boa ideia colaborar para que os assuntos de
interesse das pessoas com deficiência não sejam esquecidos, caso Dilma seja
reeleita.
*************
LUCIANA GENRO – PROGRAMA
O programa de Luciana Genro fala
de Direitos Humanos en passant, mas não faz menção às pessoas com deficiência.
http://lucianagenro.com.br/programa/
**************
CONCLUSÃO FINAL DA INCLUSIVE
Apesar das propostas de todos os
programas examinados estarem muito aquém das reais necessidades dos brasileiros
com deficiência para o exercício de sua cidadania em igualdade de condições com
os demais, precisamos reconhecer que é um avanço em relação a pleitos
anteriores as pessoas com deficiência serem citadas em programas de governo, o
que denota que o segmento vem tomando espaço e se tornando visível.
Infelizmente, a impressão que
tivemos é que, com exceção do candidato Aécio Neves, todos os outros estão mal
ou muito mal assessorados a respeito da questão. Faltaram propostas básicas,
como acessibilidade nos transportes e garantia da inclusão escolar, com ênfase
na permanência e progresso dos estudantes. Não houve menção a assuntos
importantes como as residências inclusivas e a acessibilidade na comunicação
para as pessoas com deficiência intelectual. Para aqueles que precisam de
orientações, fica a dica – basta seguir os artigos da Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência um por um e tirá-los do papel. Não tem
mistério, nem erro. É isso que esperamos ver a eleita ou o eleito implementar.
Até porque, não custa lembrar, esses são direitos constitucionais.
Por Inclusive – Inclusão e Cidadania
http://www.inclusive.org.br/?p=26864
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
SÍNDROME DO X FRÁGIL - Doença esbarra no diagnóstico
Até os 8 anos de idade, Jorge era tratado pela mãe,
a empresária Sabrina Pizzato Muggiatti, como uma criança portadora de autismo.
Um diagnóstico novo, no entanto, revelou que o menino era, na verdade, portador
da chamada Síndrome do X Frágil (SXF). Também chamada Síndrome de Martie &
Bell, é uma doença genética e hereditária causada pela mutação de um gene no
cromossomo X e uma das síndromes cromossômicas mais comuns.
Sabrina conta que comparava o desenvolvimento de
Jorge com o da outra filha, mais velha, e via diferenças desde que o menino
tinha 10 meses de idade. “Levamos ele a um neurologista e apenas sabíamos que
ele tinha um atraso no aprendizado. Se tivéssemos mais informações sobre a
doença, poderíamos tê-la identificado mais cedo”, lamenta Sabrina.
Eu digo X
Mãe cria ONG para divulgar síndrome que é pouco conhecida
A empresária Sabrina Muggiatti, com a ajuda da irmã, montou o projeto
Eu Digo X, que se dispõe a divulgar a síndrome e dar apoio a familiares de
portadores. A ONG ganhou a simpatia do cantor sertanejo Daniel, que ajuda na
divulgação. “Como muitos brasileiros eu também não sabia da existência dessa
síndrome que pode ser confundida com outras deficiências, quando na verdade é
uma questão genética e uma deficiência especial. A aceitação e a procura por
ajuda são muito importantes no processo de tratamento e inclusão dos portadores
do X Frágil”, diz o cantor, que empresta sua imagem para campanhas de internet
e tevê. Daniel, que tem um irmão com paralisia cerebral, também é embaixador
das Apaes do Brasil.
Uma das principais lutas do projeto é pelo diagnóstico, que é
confirmado por dois exames laboratoriais: o PCR para X-Frágil, que identifica a
presença do gene em funcionamento no organismo, e o Southern Blot, que vê quem
é afetado pela doença. O primeiro teste é considerado barato e simples; já o
segundo é caro e feito em apenas dois lugares no Brasil. “Nos Estados Unidos, o
diagnóstico é feito já no Teste do Pezinho, quando a criança nasce. Queremos
que se faça uma lei para que aqui também seja feito assim, porque quanto mais
cedo é o diagnóstico, melhor a criança responde ao tratamento”, diz Sabrina.
A ONG Eu Digo X também capta recursos junto a empresas e dá suporte a
familiares com exames médicos e remédios, entre outras ações.
SAIBA MAIS
A Síndrome
do X Frágil é confundida com o autismo, mas ela apresenta sintomas específicos
em cada fase do desenvolvimento do portador. Conheça os sintomas principais:
- Deficiência Intelectual
- Dificuldade motora
- Orelhas, queixo e testa proeminentes
- Face alongada
- Palato alto
- Hiperextensabilidade de joelhos, mãos, punhos e
dedos
- Convulsões
- Comportamento similar ao autismo
- Repete informações ao falar e se confunde
facilmente
- Dificuldade de contato físico
Gene
A bióloga geneticista Ingrid Barbato, da Associação
Catarinense do X Frágil, fundada em 2001 para estudar e mapear a incidência da
síndrome no país, explica que a condição é causada pelo gene Fragile Mental
Retardation 1 (FMR1), que produz uma proteína que atua no sistema nervoso em
áreas como a coordenação motora, a habilidade para a matemática, a memória, o
comportamental e a cognição. “Existem casos da doença em que a pessoa é pouco
afetada intelectualmente, e os sintomas podem variar muito de caso para caso,
mas em geral, as pessoas com o X Frágil apresentam orelhas, queixo e testa
proeminentes e face alongada, além de uma elasticidade nos dedos das mãos”,
detalha.
Outros sintomas incluem convulsões e comportamento
similar ao do autismo, mas com algumas diferenças. “O portador faz contato visual
e é mais falante, no que difere do autismo. Mas também é tímido e passa por
momentos de irritação e tem problemas no aprendizado”, completa Sabrina. Depois
de diagnosticado, Jorge, hoje com 10 anos, faz tratamentos fonoaudiológicos e
psicomotores. Os medicamentos, por sua vez, o ajudam a lidar com a ansiedade, a
insônia e o nervosismo.
Síndrome não se manifesta para todos
Não há dados sobre a incidência da Síndrome de
Martie & Bell no Brasil. Estima-se que no mundo ela atinja uma em cada
quatro mil mulheres e um em cada oito mil homens, tornando-a uma das mais
recorrentes depois da Síndrome de Down, que afeta um em cada mil nascimentos.
Entretanto, a deficiência do gene pode ou não se
manifestar, e no caso de portadores não-manifestos da síndrome, os chamados
pré-mutados, a incidência pode ser ainda maior: uma em cada 280 mulheres
carregam o gene e não sabem. No caso dos homens, um a cada 800 pode ser
portador, de acordo com a geneticista Ingrid Barbato. “A doença pode se
manifestar geração sim, geração não, mas não há uma regra para isso.”
A manifestação da doença se dá pela quantidade de
repetições de CGG (citosina, guanina, guanina), uma sequência de bases
nitrogenadas no DNA. “As pessoas normais têm até 54 repetições de CGG e então a
sequência é interrompida por uma sequência AGG [com atimina no lugar da
citosina]. Quem tiver mais do que isso, até 200 repetições, é pré-mutado. E em
pessoas que têm mais do que isso, a síndrome se manifesta”, detalha Ingrid.
Mesmo assim, existem diagnósticos ligados à
síndrome em sua forma pré-mutada. A Insuficiência Ovariana Primária associada à
SXF (FXPOI) acomete 22% das mulheres que apresentam o gene pré-mutado e se
caracteriza por uma redução da fertilidade, menopausa precoce, disfunção
ovariana e irregularidade menstrual. Já nos homens, a Síndrome de Ataxia/tremor
associada à SXF (FXTAS) pode ocorrer em até 40% dos portadores do gene.
Trata-se de uma condição neurológica comumente confundida com Alzheimer ou mal
de Parkinson, que tem como principais sintomas uma perda gradual da cognição e
da memória, variação brusca de humor e problemas de equilíbrio, explica a
geneticista.
FONTE:
YURI AL’HANATI
http://www.gazetadopovo.com.br/saude/conteudo.phtml?tl=1&id=1495457&tit=Doenca-esbarra-no-diagnostico
Garoto doma autismo a cavalo e inicia carreira inédita nos Três Tambores
João Aoqui, de 11 anos, é o primeiro autista a
participar de competições no Brasil; garoto tem transtorno afetivo bipolar e
síndromes de Tourette e Asperger
DIAGNÓSTICO - EQUOTERAPIA - COMPETIÇÕES - MELHORAS - PRECONCEITOS
João Aoqui é o primeiro competidor com autismo a
disputar a prova dos Três Tambores no Brasil. Mas antes de entrar para a
história do esporte, o garoto de 11 anos teve de enfrentar barreiras
desagradáveis de transtornos e sofrimentos - pessoal e familiar -, superado
pelo trabalho, estudo e dedicação de uma equipe de equoterapia, que serão
contados nas linhas a seguir.
Equoterapia: o melhor dos remédios para amenizar o
sofrimento de João Aoqui
(Foto: Cleber Akamine)
DIAGNÓSTICO
O grito no amanhecer sinalizava o despertar de uma
criança transtornada. Um autismo provocado pelas síndromes de Tourette e
Asperger, mais um transtorno afetivo bipolar, causava reações físicas e
principalmente psíquicas desesperadoras na família Aoqui. Ele tinha apenas
cinco anos quando Adriana e Carlos Eduardo, mãe e pai de João, tiveram
conhecimento sobre o distúrbio.
Ele acordava pela manhã e gritava, chorava, dizia
que nós não o amávamos e que fugiria de casa. Tivemos que esconder as chaves em
alguns momentos. Tive que andar por duas horas com ele, "até o fim desta
rua", por causa da sua inquietação. Passamos por situações desesperadoras
- explicou a mãe que, desde então, passou a buscar soluções em diferentes
clínicas e consultórios. E foram inúmeras respostas.
Um médico recomendou uma espécie de "prisão
domiciliar" para evitar conflitos com outras pessoas. Outro chegou a
indicar uma internação em hospital psiquiátrico, mesmo este sendo apenas para
adultos. E todos receitavam remédios. À medida que eles eram aplicados, o
organismo de João, ainda em desenvolvimento e em fase de crescimento, começava
a responder negativamente. O fígado, órgão mais afetado, estava com os dias
contados.
- Ele não tinha outra saída. Era preciso parar com
a medicação pois o fígado estava sendo atacado - disse Adriana. Surgiu, então,
a indicação da equoterapia.
EQUOTERAPIA
Quando chegou ao haras pela primeira vez, em
novembro de 2013, João não tinha forças para subir no cavalo. As dificuldades,
do caminhar à concentração, eram enormes e dificultavam as primeiras
cavalgadas.
- Ele chegou muito debilitado, com dificuldades no
andar, sem forças na perna - contou a treinadora Francine Baldo, competidora
dos Três Tambores e equoterapeuta.
Francine Baldo, Adriana e Carlos Eduardo Aoqui acompanharam a aventura de
João na arena do Parque do Peão de Barretos
|
Após nove meses de treinos, João Aoqui cavalga
sozinho nas arenas
Aos poucos, aberto à nova experiência, João se
familiarizou com o cavalo, com as pistas, com esporte. A ansiedade baixou, o
comportamento melhorou e, em três meses de atividades, os resultados eram
perceptíveis aos olhos de quem pouco entendia do assunto.
- Ele
estava ficando em cima do cavalo sozinho. Mais do que isso, ele mudou
completamente a forma de se relacionar com as pessoas. O comportamento era
outro - comentou a mãe.
Além de cavalgar, Francine Baldo explicou que João
participa diretamente no trato do animal. Ele pega o cavalo na cocheira,
escova, dá banho e até ajuda na alimentação.
- Esse contato é ótimo porque as pessoas com
necessidades especiais costumam apresentar movimentos bruscos. Como o animal
exige essa calma, movimentos mais suaves, eles acabam trabalhando essa noção de
tempo e espaço. Isso melhora muito o comportamento - disse Francine, que citou
outros benefícios como equilíbrio e fortalecimento muscular.
COMPETIÇÕES
Nesta sexta-feira, João entrou pela primeira vez na
arena do Parque do Peão de Boiadeiro de Barretos, durante a 59ª edição do
rodeio mais tradicional do Brasil. Embora não existam registros oficiais em
outros países, João é considerado o primeiro autista a participar de uma
competição oficial.
- Nós pesquisamos em diversos países e não
encontramos resultados. O ingresso do João em competições é um sonho para mim.
Quero criar uma categoria dentro dos Três Tambores para pessoas com
necessidades especiais. Fico feliz com essa oportunidade dada a ele - comentou
Francine Baldo, que já havia acompanhado uma apresentação do João no Rodeio de
Americana.
MELHORAS
"A equoterapia nos devolveu uma vida". A
frase resume a sensação de alívio e o sentimento de uma mãe desesperada,
cansada de conviver com o sofrimento do filho. Ela jamais imaginara que um
tratamento como este traria um resultado positivo num curto espaço de tempo.
- Ele sofre bastante porque tem um sensibilidade
sensorial acima do normal. Ele tem dificuldades de interpretar um som, um
cheiro, um gosto. Tudo é exagerado e isso causa um transtorno muito grande. Só
que aos poucos ele foi melhorando. O principal sinal foi quando ele levou um
tapa de uma outra criança no parquinho de um restaurante e veio até a nossa
mesa, dizendo que apanhou. Em outra época, ele teria revidado. Isso é
gratificante - lembrou Adriana.
PRECONCEITOS
João ficou três anos sem frequentar uma escola.
Segundo a mãe, foram várias tentativas de colocá-lo em uma sala de aula - e
inúmeras negativas.
- As escolas não estão preparadas para receber
crianças com necessidades especiais e preferem pagar multas a receber uma.
Falei com pelo menos cinco e nenhuma delas o aceitou. O tratamento ajudou nesse
aspecto porque ele apresentou uma melhora de comportamento, facilitando esse
convívio, a aprendizagem, o relacionamento - explicou Adriana, que não esconde
o orgulho de vê-lo matriculado em uma escola.
João Aoqui treina duas vezes por semana em um haras
de Santa Bárbara D'Oeste (Foto: Cleber Akamine)
FONTE:
Fotos
Por Cleber Akamine
Barretos, SP
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
A culpa da mãe
Luana, de 21 anos, durante a gestação de SofiaEstar
grávida hoje em dia é um desafio e nunca foi tão estressante. A lista de coisas
que pode e não pode é enorme. A relação de fatores de risco pré-natal tem
invadido a mídia: gripe, antidepressivos, açúcar, gordura, café, sushi, gatos,
tipo de música, muito (ou pouco) exercício físico e até a idade das mães são
assuntos do momento. E se a futura mamãe ficar ansiosa ou estressada, ainda
terá que conviver com olhares de reprovação social.
Na história da medicina, não faltam exemplos
mostrando como experiências uterinas afetam os descendentes. Existe uma
verdadeira fixação e fascinação dos pesquisadores sobre o assunto. Faz sentido,
afinal durantes os 9 meses iniciais de nossa vida esse foi nosso único ambiente
e onde ocorrem etapas cruciais do desenvolvimento humano. Não existe nada de
errado nesse tipo de estudo, mas o foco demasiado em cima das mães chamou até a
atenção dos pesquisadores nessa área que decidiram dar um “toque” aos
jornalistas de ciência. Um editorial recém publicado na Nature, de autoria da
pesquisadora Sarah Richardson, chama a atenção para o problema. Abaixo eu
ressalto alguns dos exemplos citados e incluo outros, aproveitando para opinar
como cientista nesse assunto.
Ultimamente, diversos assuntos relacionados ao tema
têm destacado as alterações epigenéticas (análise de modificações hereditárias
no DNA que influenciam a atividade dos genes sem alterar a sequencia genética).
Essas alterações implicam riscos de obesidade, diabetes e resposta a estresse
durante o desenvolvimento das crianças.
Como o assunto é altamente complexo sob a
perspectiva molecular, e também multifatorial, a mídia tende a simplificar o
assunto, focando apenas no impacto materno. Manchetes como “Dieta materna
altera o DNA do feto” ou “Grávidas sobreviventes de desastres transmitem o
trauma para os filhos” são relativamente comuns de se achar em jornais e
revistas de grande circulação. Fatores como a contribuição paterna, a vida em
família e o ambiente social recebem muito menos atenção. Como consequência,
existe um sentimento de culpa e vigilância desnecessários em mulheres grávidas
e mães em geral.
Existem diversos exemplos de como a sociedade culpa
as mães por doenças dos filhos. Evidencias científicas de que o álcool em
excesso pode causar complicações e má formações durante a gestação levou à
recomendação de que mulheres grávidas evitassem a bebida. O consumo alcóolico
durante a gravidez foi estigmatizado e até criminalizado. Bares e restaurantes
são obrigados avisar que a bebida causa defeitos congênitos nos EUA, mesmo que
não existam evidências sugerindo qualquer problema com o consumo moderado.
Aliás, mulheres que bebiam moderadamente passaram a evitar o consumo durante a
gravidez, mas o número de crianças vítimas do abuso de álcool não diminuiu.
Como consequência, a visão da mulher grávida tomando um drink é hoje em dia
altamente condenável para a maioria das pessoas e faz com que agonizem a
gestação toda por um golinho ocasional.
Nos anos 80 e 90, o uso de crack criou uma histeria
midiática com os famigerados “filhos do crack” – crianças nascidas de mulheres
viciadas e que foram expostas à droga ainda no útero. Grávidas dependentes de
drogas perderam benefícios sociais, a guarda dos filhos e muitas acabaram na
prisão, a grande maioria negras e pobres, condenadas por expor fetos indefesos
à droga. Os filhos também sofreram, estigmatizados e condenados ao fracasso
social desde o nascimento. Hoje sabemos que a exposição do feto ao crack ou
cocaína é considerado tão nocivo quanto ao cigarro ou álcool em excesso. Mesmo
assim, apenas usuárias de drogas são condenadas criminalmente nos EUA.
Outro exemplo clássico de “culpa materna” é o
conceito de mãe-geladeira (uma metáfora que sugere o desapego e frieza
emocional), dando origem a crianças autistas nos anos 50-70. E não faz muito
tempo atrás que diversos livros médicos ainda atribuíam alterações mentais e
tendências criminais a uma postura materna, inclusive as amizades durante a
gestação, ignorando completamente as origens biológicas dessas condições e
diversos outros fatores ambientais. Suporte inadequado a mulheres grávidas e
afirmações pouco contextualizadas ainda hoje são encontradas em materiais
educacionais com boas intenções. Duvida? Veja no website montado pelo Imperial
College London que mostra um adolescente saindo da prisão e sugere que cuidados
pré-natais poderiam auxiliar no combate ao crime. Inacreditável, não?
Por isso que o foco materno das pesquisas
epigenéticas ainda lembra esse tipo de atitude do passado, colocando todo o
contexto social e diversos outros fatores em segundo plano. Outro erro comum
que ainda persiste é o de estabelecer causa e efeito. Novamente, estudos com
autismo são notórios por isso. Ao relacionar a incidência de autismo com
fatores externos (vacinas, morar perto de avenidas ou de antenas de celulares),
muitas reportagens não deixam claro que a conclusão é apenas correlacional e
evitam mencionar dados inconsistentes (por exemplo, a correlação estatística
desaparece se consideramos idades diferentes ou outra variável).
Para evitar que esse tipo de atitude continue,
tanto a mídia quanto os leitores teriam que ser mais críticos cientificamente.
Primeiro, evitando extrapolar estudos com camundongos para humanos. Segundo,
balanceando o papel tanto do pai quanto da mãe. Terceiro, demonstrando
complexidade no assunto ao mostrar que diversos fatores variáveis acontecem ao
mesmo tempo, sendo muitos desconhecidos. E por final, reconhecendo o papel da
sociedade, principalmente ao apontar soluções para o problema.
Os métodos e a tecnologia científica têm aumentado
consideravelmente em complexidade nos últimos dez anos. A tendência é que isso
seja exponencial, ou seja, cada vez mais difícil de se traduzir para uma
linguagem leiga e simples. Por isso mesmo, a sociedade tem que ser mais
crítica, exigindo melhores formas de comunicação científica da mídia e dos
próprios cientistas. Acho que isso vai auxiliar no entendimento das pesquisas,
sem apontar culpados ou restringir a liberdade das futuras mães.
* Foto: Luana Siqueira/Arquivo Pessoal
FONTE:
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/espiral/post/culpa-da-mae.html
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Cérebro de crianças autistas possuem sinapses demais, sugere estudo.
Lançando nova luz sobre o funcionamento do cérebro
no autismo, um novo estudo sugere que há um excesso de sinapses em pelo menos
algumas partes dos cérebros de crianças com autismo, e que a capacidade do
cérebro de reduzir o número dessas sinapses é comprometida.
O estudo, publicado na quinta-feira (21) na revista
“Neuron”, envolveu tecido dos cérebros de crianças e adolescentes que morreram
com idades entre 2 a 20 anos. Cerca da metade das crianças tinha autismo, as
outras não.
Os pesquisadores, do Centro Médico da Universidade
de Columbia, olharam atentamente para uma área do lobo temporal do cérebro
envolvido no comportamento social e na comunicação. Analisando o tecido de 20
dos cérebros, eles contaram os espinhos dendríticos nos neurônios e encontraram
mais espinhos nas crianças com autismo. Os espinhos se ramificam de um neurônio
e recebem sinais de outros neurônios por meio de conexões chamadas sinapses, de
modo que mais espinhos indicam mais sinapses.
No desenvolvimento saudável do cérebro, há uma
explosão de sinapses muito cedo e depois tem início um processo de “poda”
(diminuição das sinapses). Esse processo é necessário para assegurar que
diferentes áreas do cérebro possam desenvolver funções específicas e não fiquem
sobrecarregadas de estímulos.
A equipe de Columbia descobriu que nas idades mais
jovens, o número de espinhos não difere muito entre os dois grupos de crianças,
mas os adolescentes com autismo possuem significativamente mais espinhos que
aqueles sem autismo. Jovens saudáveis de 19 anos tinham 41% menos sinapses do que
crianças pequenas saudáveis, mas os autistas no final da adolescência
apresentavam apenas 16% menos do que as crianças pequenas com autismo.
Uma criança com autismo que tinha 3 anos quando
morreu tinha muito mais sinapses do que qualquer criança saudável de qualquer
idade, disse David Sulzer, um neurobiólogo e principal investigador do estudo.
Os especialistas disseram que o fato de as crianças
pequenas de ambos os grupos apresentarem aproximadamente o mesmo número de
sinapses sugere um problema de poda no autismo, não um problema de produção
excessiva.
“Mais não significa melhor quando se trata de
sinapses, e a poda é absolutamente essencial”, disse Lisa Boulanger, uma
bióloga molecular de Princeton, que não esteve envolvida na pesquisa. “Se fosse
um crescimento excessivo, a expectativa é de que elas seriam diferentes desde o
começo, mas como a diferença de sinapses ocorre posteriormente, trata-se
provavelmente da poda.”
A equipe de Sulzer também encontrou biomarcadores e
proteínas nos cérebros com autismo, refletindo mau funcionamento nos sistemas
de remoção de células velhas e degradadas, um processo chamado autofagia.
“Eles mostram que esses marcadores de autofagia
diminuem” nos cérebros afetados pelo autismo, disse Eric Klann, um professor de
ciência neural da Universidade de Nova York. “Sem a autofagia, essa poda não
pode ocorrer.”
As descobertas são as mais recentes em uma área da
pesquisa do autismo que está atraindo crescente interesse. Há anos os
cientistas debatem se o autismo é um problema de cérebros com conectividade
insuficiente ou excessiva, ou alguma combinação.
Ralph-Axel Müller, um neurocientista da Universidade
Estadual de San Diego, disse que há crescente evidência de conectividade
excessiva, inclusive a partir dos estudos de imagens do cérebro que ele
conduziu.
“As deficiências que vemos no autismo parecem
ocorrer em diferentes partes do cérebro, conversando demais umas com as
outras”, disse. “É preciso perder parte dessas conexões para um desenvolvimento
ajustado do sistema das redes cerebrais, porque se todas as partes do cérebro
conversarem com todas as partes do cérebro, só se obtém ruído, não
comunicação.”
Mais sinapses também criam oportunidade para ataques
epilépticos, porque há sinais elétricos em excesso sendo transmitidos no cérebro,
prosseguiu Klann. Mais de um terço das pessoas com autismo tem epilepsia,
segundo ele.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Fonte: UOL.com.br
Foto - Google.
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