O mel é o néctar dos deuses. É o açúcar da
natureza. Fez pré-história predatória e depois história no Oriente Médio, no
Egito e depois mundo afora. Quando os antigos Egípcios faziam as suas
expedições, conservavam a carne em barricas cobertas de mel! A chamada
"Lua de Mel" tem a sua origem no costume romano em que a mãe da noiva
deixava em cada noite, na alcova nupcial, à disposição dos recém casados, um
pote de mel para "repor energias". Esta prática durava toda a lua...
É a delícia que se prova e oferece o sabor
magnífico e degustador. Os fazedores de mel, abelhas e formigas trabalham para
si, em sociedade, para colher resultados casulados e temperados ao sabor da
felicidade. Diariamente uma abelha
percorre 40 km e visita cerca de 7200 flores para produzir 5 gramas de mel. Mas
tais insetos não sabem que trabalham para o homem, oferecendo o néctar dos
deuses. Trabalham e trabalham. Nada pedem em troca, oferecendo aos indivíduos
um alimento de alto valor nutritivo.
É isto mesmo. Formigas na África também fabricam
esta bebida dos deuses para suas companheiras de inverno. Reproduzem o mel para
alimentar as companheiras no fundo do formigueiro. E não se queixam. E la vai a
história do mel com seus exemplos positivos de perfeição.
Provar mel é provar alegria, felicidade. Exemplo natural para todos os seres viventes.
E o que dizer dos favos do mel, da lua de mel, dos arquétipos que o mel
inspira. O mel está nas cores delicadas e nos ambientes coloridos. Está nas
jóias raras e nos banquetes mais preciosos. Toda situação delicada tem sabor de
mel. Nada mais ofuscador e magnífico. O sabor de mel está em toda gastronomia,
em todo chá inglês, em toda tradição.
Basta as abelhas consumirem o pólen das flores, encontrarem-se em reunião
e produção e pouco tempo depois se descobre o resultado: potes e potes de mel.
O mel também inspira oficina de ideias em festas, no ambientes ensolarados e a
ideia de adoçar o mundo, com músicas, receitas saborosas e o leite quentinho do
adoçado com mel.
E suas outras atribuições? Não há o que falar. O
mel é remédio, tem efeito para diversas curas, limpa os pulmões e respirações.
E lá se vai. Sempre positivo e lindo! Deliciosa de se contar e provar. A ação do mel sobre a longevidade humana
deve-se não só à sua alta ação energética, mas fundamentalmente às enzimas, às
vitaminas e à compleição de elementos químicos, extraordinários para o bom
funcionamento do organismo humano.
E assim, de deleite em deleite, lá vai o mel
história afora, transmitindo o seu benefício a todos seres humanos, sem
discórdia, adoçando a vida, amenizando atitudes
e encantando com o seu gosto.Mas por que falar tanto em mel, se gostaria
mesmo de falar e escrever sobre autismo!
O que tem a ver esta minha comparação sem sentido! Esquisita por assim dizer!
O mel está na boca de todos, na casa de todos e eu
nada tenho com isso! Potes e potes de
mel puro são comprados nos supermercados do mundo todos os dias. E eu com isso?
Poderia eu comprar potes e potes de autismo e
adoçar, nem que seja por um só instante, a boca de alguém. Não e não! A boca não teria jeito, mas o coração sim.
Gostaria de adoçar o coração de alguém. Um único coração. Que ele meditasse
sobre o que é o autismo.
Dizer para os compradores de mel, que uma criança
autista é como o mel que se coloca na mesa e na geladeira. Doce, pura e
silenciosa. Os olhos então, meu Deus! Que olhos mais encantadores! Puros e
meigos! Inocentes e imaculados! Deleites
de mel!
Dizer aos provadores de mel o seu significado
desconhecido, sua história mal-contada. Dizer que o autismo nunca teve uma
pré-história. Ensinar que o autismo tem potencialidade de desenvolvimento
psicomotor sim. É como uma fábrica de produção de mel. Na sua ingenuidade e nas
vivências corporais dos acometidos com o autismo o valor afetivo se instala e modifica
nossas vidas. Há também o papel dos estímulos ambientais no
desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança autista.Como separar a
metáfora do mel do autismo? Impossível! O mel não é tão-somente o das abelhas,
das formigas, dos industrializados. Existe o mel do coração e da alma. Querer
conhecer e amar, por assim dizer, se permitir e se envolver.
O Mel que nasce na lá na mais ínfima fibra do ser,
que se fortifica contra qualquer doença e passa a conhecer o autismo.
O que dizer sobre a família? Por experiência
própria digo que a família passa a buscar e aprender o que até então
desconhecia. Mas família que convive com autismo, não precisa tão-somente
ensinar. Ela precisa aprender também. Fico a imaginar se a uma família que tem
um filho autista consegue aprender todo o atendimento multidisciplinar que o
autista precisa! Sinceramente, eu não
consegui. E nas minhas leituras e escritas diárias tenho a reportar que ninguém
sabe. Cada dia um novo dia e um novo instante. Esta é minha opinião. Mas o
caminho continua.
A proposta da educação e suas competências entram
como os recursos mais viáveis do pensamento pedagógico. Todo empenho é válido no processo de mudança
dos canais que propiciem a evolução da nossa querida criança autista, adotando
como pedestal e como suporte a educação, audácia impreterível da mais
expressiva opulência sentimental...
A educação especial entra na listagem dos novos
expedientes e de outros que podem potencializar as “abelhas” profissionais em
termos de novas descobertas para o
autismo. No painel em que se insere o
autismo, a partir de idéias inovadoras
no campo da educação “a colméia” produzirá mais néctar do conhecimento. O
conceito de liberdade para o autista poderá ser acompanhado de disciplina, de
expressão individual e direitos naturais. E, porque não dizer? Políticas
públicas! Cobrar do Estado o papel que Ele se nega a prestar.
É preciso, no entanto, adequar a aplicação destas
idéias em evidência, de forma inteligente, a partir de uma experimentação
consciente. Que os resultados apontem com segurança os efeitos positivos de uma nova experimentação deste “mel” poderá
produzir para nossas crianças, para fortaleza da alma. Quando digo aqui a palavra “criança” não me
refiro à idade cronológica, mas somente
ao fato de existirem nos nossos lares, pequeninos, adolescentes e adultos
autistas com olhos de criança, “com sabor de mel”. Este sabor enseja ainda
novas idéias na educação. Livros e
livros já foram escritos sobre. São motivos de teses, dissertações de mestrado
e tcc’s. Mas ainda não responderam uma única pergunta! Como sustentabilizar a
ignorância do Poder Público sobre o autismo!
Certa vez, uma única vez, gostaria de demonstrar
as minhas palavras sobre a educação especial para os políticos, mas eu teria o sabor da revolta e isto não quero.
Não tenho vergonha de dizer que já sofri muito e ainda mantenho a ideia que
preciso colher “mel”, vários “potes de mel” sobre o autismo. Oportunidades
existem.
Mas a educação está aí e existem educadores
“abelhas” que arquitetam muito bem a nossa sociedade. Portanto,
consecutivamente, o autista reverencia a extensão lúdica e brincalhona da sua aprendizagem.
Possibilita-lhe o aparecimento de suas díspares linguagens, sua leitura do
mundo e sua extrapolação para se mostrar como “néctar de suas flores”, e, não precisarão de palavras. O professor, os profissionais terapeutas, os
pais como mediadores, irão proporcionar a qualidade escolar da verdadeira
inclusão, da verdadeira interação do autista com o mundo. E a continuidade da
sua imagem e da sua expressão corporal.
O material didático na educação especial e todo
aparato de desenvolvimento, previsto em currículo interdisciplinar,
proporcionarão aos autistas a iniciação
ao processo de alfabetização e a aquisição de importantes valores que servirão
de alicerce na formação de suas personalidades. O autista sabe organizar de
forma estereotipada o seu mundo a partir do seu próprio corpo, mas ele sabe. É
só investir na produção deste “mel”.
No cotidiano do espaço escolar, sob os novos
olhares docentes das “abelhas mães” que dimensionam as imutáveis persecuções do
imaginário infantil, elas não deixarão de proteger o seu “mel”, seus desejos,
interesses, elaborações próprias, fantasias, experimentações e seus tateios no
mundo. Criança autista também tateia o mundo. Ah! Como tateia!
Há em mim uma latência constante em escrever,
escrever sobre o autismo. Mas devo parar. Novamente ler e aprender! Novamente
escrever. Para dizer a verdade, estou
agora um pouquinho sem tempo.
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Hoje de manhã prometi para o meu filho que iria ao
“supermercado comprar um potinho de mel”. Não aquele mel açucarado e falso. Um
mel verdadeiro com sabor de “quero mais”
e de certeza que ele voltará a provar de tão saboroso alimento natural.
Afinal, o que seria do ”mel” se não existisse em nossas vidas, nossos filhos
autistas!
Silvania Mendonça Almeida Margarida
Mãe do André Luiz Rian - Autista
Foto Google