Os sintomas da Síndrome de Asperger trabalharam a seu favor.
Messi é autista. Ele foi diagnosticado aos 8 anos
de idade, ainda na Argentina, com a Síndrome de Asperger, conhecida como uma
forma branda de autismo. Ainda que o diagnóstico do atleta tenha sido pouco
divulgado e questionado, como uma maneira de protegê-lo, o fato é que seu
comportamento dentro e fora de campo são reveladores.
Ter síndrome de Asperger não é nenhum demérito. São
pessoas, em geral do sexo masculino, que apresentam dificuldades de
socialização, atos motores repetitivos e interesses muito estranhos. Popularmente, a síndrome é conhecida como uma fábrica de gênios. É o caso de
Messi.
É possível identificar, pela experiência, como o
autismo revela-se no seu comportamento em campo — nas jogadas, nos dribles, na
movimentação, no chute. “Autistas estão sempre procurando adotar um padrão e
repeti-lo exaustivamente”, diz Nilton Vitulli, pai de um portador da síndrome
de Asperger e membro atuante da ong Autismo e Realidade e da rede social
Cidadão Saúde, que reúne pais e familiares de “aspergianos”.
“O Messi sempre faz os mesmos movimentos: quase
sempre cai pela direita, dribla da mesma forma e frequentemente faz aquele gol
de cavadinha, típico dele”, diz Vitulli, que jogou futebol e quase se
profissionalizou. E explica que, graças à memória descomunal que os autistas
têm, Messi provavelmente deve conhecer todos os movimentos que podem ocorrer,
por exemplo, na hora de finalizar em gol. “É como se ele previsse os movimentos
do goleiro. Ele apenas repete um padrão conhecido. Quando ele entra na área, já
sabe que vai fazer o gol. E comemora, com aquela sorriso típico de autista, de
quem cumpriu sua missão e está
aliviado”.
A qualidade do chute, extraordinária em Messi, e a
habilidade de manter a bola grudada no pé, mesmo em alta velocidade, são
provavelmente, segundo Vitulli, também padrões de repetição, aliados, claro, à
grande habilidade do jogador. Ele compara o comportamento de Messi a um célebre
surfista havaiano, Clay Marzo, também diagnosticado com a síndrome de Asperger.
“É um surfista extraordinário. E é possível perceber características de autista
quando ele está numa onda. Assim, como o Messi, ele é perfeito, como se ele
soubesse exatamente o comportamento da onda e apenas repetisse um padrão”. Mas
autistas, segundo Vitulli, não são criativos, apenas repetem o que sabem fazer.
“Cristiano Ronaldo e Neymar criam muito mais. Mas também erram mais”, diz ele.
Autistas podem ser capazes de feitos
impressionantes — e o filme Rain Man, feito em 1988, ilustra isso. Hoje já se
sabe, por exemplo, que os físicos Newton e Einstein tinham alguma forma de
autismo, assim como Bill Gates.
Também fora de campo, seu comportamento é
revelador. Quem já não reparou nas dificuldades de comunicação do jogador,
denunciadas em entrevistas coletivas e até em comerciais protagonizados por
ele? Ou no seu comportamento arredio em relação a eventos sociais? Para Giselle
Zambiazzi, presidente da AMA Brusque, (Associação de Pais, Amigos e
Profissionais dos Autistas de Brusque e Região, em Santa Catarina), e mãe de um
menino de 10 anos diagnosticado com síndrome de Asperger, foi uma revelação
observar certas atitudes de Messi.
“A começar pelas entrevistas: é visível o quanto aquele ambiente o incomoda.
Aquele ar “perdido”, louco pra fugir dali. A coçadinha na cabeça, as mãos, o olhar
que nunca olha de fato. Um autista tem dificuldade em lidar com esse bombardeio
de informações do mundo externo”, diz Giselle. Segundo ela, é possível perceber
o alto grau de concentração de Messi: “ele sabe exatamente o que quer e tem a
mesma objetividade que vejo em meu filho”.
Giselle observou algumas jogadas do argentino e
também não teve dúvidas: “o olhar que
‘não olha’ é o mesmo que vejo em todos. Em uma jogada, ele foi levando a bola
até estar frente a frente com um adversário. Era o momento de encará-lo. Ele
levantou a cabeça, mas, o olhar desviou. Ou seja, não houve comunicação. Ele
simplesmente se manteve no seu traçado, no seu objetivo, foi lá e fez o gol.
Sem mais”.
Segundo Giselle, Messi tem o reconhecido talento de
transformar em algo simples o que para todos é grandioso e não vê muito sentido
em fama, dinheiro, mulheres, badalação. “Simplesmente faz o que mais sabe e faz
bem. O resto seria uma consequência. Outra aspecto que se assemelha muito a meu
filho”.
Outra característica dos autistas, segundo ela, é
ficarem extremamente frustrados quando perdem, são muito exigentes. “Tudo tem
que sair exatamente como se propuseram a fazer, caso contrário, é crise na
certa. E normalmente dominam um assunto específico. Ou seja, se Messi é autista
e resolveu jogar futebol, a possibilidade de ser o melhor do mundo seria mesmo
muito grande”, diz ela.
A ideia de uma das maiores celebridades do mundo
ser um autista não surpreende, mas encanta. Messi nunca será uma celebridade
convencional. Segundo Giselle, ele simplesmente será sempre um profissional que
executa a sua profissão da melhor forma que consegue — mas arredio às
badalações, às entrevistas e aos eventos.
“Ele precisa e quer que sua condição seja respeitada. Nunca vai se
acostumar com o assédio. Sempre terá poucos amigos. E dificilmente saberá o que
fazer diante de um batalhão de fotógrafos e fãs gritando ao seu redor. De
qualquer modo, certamente a sua contribuição para o mundo será inesquecível”,
diz ela.
Fonte:
Roberto Amado