quinta-feira, 11 de setembro de 2014
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Descoberta possível causa não genética do autismo
Um
investigador norte-americano associou a ocorrência de autismo a lesões
cerebrais causadas no ventre da mãe ou numa fase inicial do crescimento do
bebé. O estudo foi publicado na revista Neuron, no dia 6 de Agosto.
Segundo Samuel Wang, professor de Biologia
Molecular e Neurociência da Universidade de Princeton, os danos na região do
cerebelo podem levar ao surgimento de perturbações do espectro do autismo e de
outras perturbações neurais numa idade mais avançada.
O cerebelo localiza-se na parte posterior
inferior do cérebro humano e tem como função o processamento de informações
internas e externas - como estímulos sensoriais que influenciam o
desenvolvimento de outras regiões do cérebro.
No início da
vida, as lesões no cerebelo podem potencialmente interromper o processo de
desenvolvimento do cérebro. Com base numa extensa revisão de estudos realizados
anteriormente, a equipa de Samuel Wang verificou que os indivíduos que sofreram
lesões no cerebelo durante o parto têm 36 vezes mais probabilidade de
desenvolver autismo, sendo esta a principal causa de autismo não hereditária
(ver gráfico abaixo).
Samuel Wang
explica que "a determinada altura, aprendemos que sorrir é bom porque a
mãe sorri para nós. Fazemos estas associações no início da vida, porque não
nascemos a saber que sorrir é bom".
O investigador
refere ainda que "no autismo, dá-se algo de errado nesse processo e uma
coisa que pode ser informação sensorial não é processada corretamente pelo
cerebelo".
Esta área do cérebro está, normalmente,
associada ao movimento e à coordenação motora em adultos. Estudos recentes
sugerem que tem também influência na cognição infantil.
"É bem sabido que o cerebelo é um
processador de informação. O nosso neocórtex [a parte maior do cérebro,
responsável por um processamento superior] não recebe informação não filtrada.
Há passos críticos que têm de ocorrer entre o momento em que a informação
externa é detectada pelo nosso cérebro e o momento em que atinge o córtex
neural", explica Samuel Wang.
A equipe de investigadores planeia provar a
sua teoria através da inativação da atividade elétrica das células cerebrais, o
que identifica o estádio de desenvolvimento em que a lesão no cerebelo se
encontra. Um segundo método passará por reconstruir as conexões neurais entre o
cerebelo e as outras regiões cerebrais.
FONTE:
Por Maria da Luz
http://boasnoticias.pt/noticias_Descoberta-poss%C3%ADvel-causa-n%C3%A3o-gen%C3%A9tica-do-autismo_20817.html?page=0
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Santa Maria tem a primeira escola exclusiva para crianças autistas
Escola tem equipe multidisciplinar e, além da
aprendizagem, trabalha as relações das crianças com as demais pessoas
Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS
Hábitos básicos como lavar as mãos e fazer um
sanduiche, para uma criança com transtorno do espectro do autismo, podem ser
bem difíceis. Em Santa Maria, são mais de 3,1 mil habitantes com o transtorno,
se levarmos em consideração o cálculo mundial de um autista para cada 88
pessoas. Pensando em atender a estas crianças especiais, a educadora especial e
psicopedagoga Cristiane Kubaski reuniu um grupo de profissionais e abriu uma
escola exclusiva para autistas.
_ Uma criança com autismo, dependendo do nível, tem
condições de fazer o que qualquer outra criança faz, mas precisa ser ensinada,
desde o abraço, o contato visual, a brincar com os colegas. Ela não aprende
somente observando _ explica a educadora.
O ideal é que a educação alterne a inclusão na
escola regular e no meio social com o atendimento individualizado, que, em
geral, é prestado pelas escolas no contraturno. A diferença da proposta da
Escola Mundo Novo, que é particular, é o atendimento multidisciplinar, com
educadoras especiais, fonoaudióloga, psicóloga e aulas de música, que ensinam a
criança a realizar atividades diárias.
_ Há atividades da vida diária que são muito
importantes e que elas podem aprender, como amarrar um cadarço, saber preparar
um lanche, lavar a louça, lavar as mãos, escovar os dentes e ir ao mercado _
diz a educadora.
O pequeno Eduardo Ramos Scremin (foto), o Dudu,
tinha pouco menos de 2 anos quando foi diagnosticado com autismo. A mãe,
Elisete Ramos, 34 anos, percebeu que o menino, que hoje tem 2 anos e 10 meses,
não ficava com os colegas na escolinha, ignorava as pessoas ao redor e fazia
apenas as atividades pelas quais tinha interesse.
_ Acho que a escola vai ajudar em tudo. Desde
identificar a fase do aprendizado, até trazer ele para a etapa correta para não
ficar atrasado em relação aos colegas _ disse a mãe.
Autistas aprendem a desenvolver habilidades
Para, Carlo Schmidt, professor do Programa de
Pós-Graduação em Educação Especial da UFSM e especialista em autismo, a
convivência com outras crianças, por meio da inclusão educacional, é essencial
para o desenvolvimento de pessoas com autismo:
_ O principal da inclusão é que essas crianças
participam de um ambiente altamente estimulador que vai ajudá-las muito.
Para o professor, o atendimento especializado no
contraturno da escola ajuda na aprendizagem da classe regular, identificando e
focando nos pontos fortes e fracos.
No caso da Mundo Novo, a proposta é desenvolver a
autonomia das crianças, trabalhando questões que não são abordadas na escola
regular, as chamadas atividades de vida diária, que são habilidades que geram
independência.
O TRANSTORNO
- A característica principal é dificuldade de
interação, comunicação e socialização
- Normalmente, os pais identificam por meio de
atraso na linguagem e falta de contato visual, presença de comportamento e
interesses restritos e repetitivos
- O diagnóstico é confirmado por equipe
multidisciplinar que, em geral, inclui pediatra e neuropediatra, psicólogo
- Não há testes ou exames que comprovem o autismo
- Os exames são importantes para descartar outras
doenças com os mesmos sintomas
- Não tem característica física que identifique _ o
que é bom porque não estigmatiza, mas, ruim porque, não identificando, a
sociedade reprova e julga o comportamento
- Muitos não falam
- Uma avaliação vai determinar em que estágio de
desenvolvimento a criança está e, depois, será traçado um plano específico para
cada criança.
FONTE:
http://diariodesantamaria.clicrbs.com.br/rs/educacao/noticia/2014/09/santa-maria-tem-a-primeira-escola-exclusiva-para-criancas-autistas-4591167.html?impressao=sim
DIÁRIO DE SANTA MARIA
Lizie Antonello
lizie.antonello@diariosm.com.br
terça-feira, 2 de setembro de 2014
INCLUSIVE: Análise dos programas de governo dos candidatos a presidente em relação às pessoas com deficiência
Com as eleições se aproximando,
a Inclusive analisou os
programas de governo dos principais candidatos à presidência da República no
que diz respeito às melhorias propostas para as vida das pessoas com
deficiência.
Leia abaixo as partes dos programas que abordam o tema e nossos
comentários.
A apresentação dos programas segue a ordem crescente – dos que
citaram maior número de vezes a palavra deficiência àquele em que a palavra não
é citada.
AECIO NEVES – ANÁLISE DA
INCLUSIVE
O programa de Aécio tem 76
páginas e as pessoas com deficiência são mencionadas nos capítulos de
assistência social, direitos humanos e habitação, além de ter um capítulo
exclusivo sobre o tema, perfazendo um total de quase 2 páginas. Mais objetivo
que o da candidata Marina, o programa de Aécio abre cada capítulo com um
parágrafo conciso e elenca medidas que diz que tomará.
As medidas propostas são bem,
mas robustas e embasadas que as da candidata do PSB, embora cometa alguns
deslizes.
1. Apoio à criação de espaços
apropriados para o debate sobre as necessidades e aspirações das pessoas com
deficiência, fortalecendo a concepção de que a questão da deficiência não pode
ser confundida com doença.
COMO ASSIM? ONDE ESTÁ A INCLUSÃO? SERÁ QUE ESPAÇOS ESPECIAIS NÃO
REFORÇARIAM A NOÇÃO DE QUE AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA TÊM DOENÇAS CONTAGIOSAS?
6. Apoio à implantação de uma
Rede Nacional de Reabilitação e Readaptação, com centros e clínicas destinadas
ao cuidado de portadores de deficiências físicas, garantindo o acesso gratuito
aos profissionais e aos medicamentos e exames médicos necessários, assim como o
fortalecimento dos serviços já existentes.
PORTADORES?????????
7. Apoio a educação inclusiva,
que mantém as crianças na escola regular, intensificando a capacitação contínua
de professores e de toda a equipe escolar, além do preparo da escola, sem
prejuízo das escolas especiais, nos casos em que estas sejam necessárias.
9. Realização de parcerias entre
instituições educacionais públicas e privadas, sem fins lucrativos, no sentido
de avançar para a construção de um sistema educacional que contemple o
fortalecimento das escolas comuns e a permanência das escolas especiais, nos
casos em que estas sejam necessárias.
AS DIRETRIZES 7 E 9 ABREM ESPAÇO PARA A MANUTENÇÃO DAS ESCOLAS
ESPECIAIS, EM CONTRADIÇÃO COM A CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA E O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, QUE DIZEM QUE A ESCOLARIZAÇÃO DEVE
SER REALIZADA EM ESCOLA REGULAR. A 7 FALA DE PERMANÊNCIA DO ALUNO NA ESCOLA,
MAS NÃO NO SEU PROGRESSO.
Apesar
das contradições apontadas, o programa do candidato Aécio é o mais completo e
objetivo. Vê-se que está bem assessorado e espera-se que, caso seja eleito,
realmente leve a cabo as medidas propostas, assim como muitas outras.
Leia o programa completo aqui:
http://divulgacand2014.tse.jus.br/divulga-cand-2014/proposta/eleicao/2014/idEleicao/143/UE/BR/candidato/280000000085/idarquivo/229?x=1404680555000280000000085
MARINA SILVA – ANÁLISE DA
INCLUSIVE
A candidata Marina é a que
dedica maior espaço ao tema. No livreto de 242 páginas, há um capítulo de quase
duas páginas e mais uma menção no capítulo sobre cidadania e identidade. O
programa traça um panorama geral sobre a deficiência e a situação no Brasil e
depois propõe medidas para ampliar as condições ao exercício da cidadania. Cita
ainda trechos da Constituição Federal no tocante à questão.
Surpreende-nos a menção aos
artigos da Constituição de 1988 referente ao assunto, quando temos a Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2008, atualmente em vigor com
valor de norma constitucional, que é muito mais avançada. Inclusive, um dos
artigos da CF citados no programa, que diz que os alunos com deficiência têm
direito à escolarização preferencialmente na rede regular de ensino, foi
superado pela Convenção que determina que todos os alunos com deficiência têm
direito à estudar em escola regular.
Há erros no texto, como por
exemplo, a data de criação do Conade é 1999 e não 2002, como diz o programa.
Além disso, não soi atualizado o nome do Conade, que mudou em 2010 – caiu o
portador – nem o da secretaria que trata do tema, que passou a se chamar
Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência em 2011.
As propostas feitas parecem
elementares e simplistas. Não lembram em nada as políticas públicas que
precisamos e gostaríamos de ver implementadas pelo governo federal. Algumas não
são e atribuição do governo federal. Outras parecem deixar certos tipos de
deficiência de lado, como os três exemplos abaixo.
• Capacitar trabalhadores que
atendem ao público para lidar com pessoas com deficiência intelectual,
inclusive aquelas com dificuldades de comunicação.
POR QUE APENAS AS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E NAO AS OUTRAS DEFICIÊNCIAS?
• Realizar concursos públicos
adaptados, visando à inserção no mercado de trabalho de pessoas com deficiência
intelectual que comprovem aptidões e potencialidades.
POR QUE APENAS AS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E NAO AS OUTRAS DEFICIÊNCIAS?
• Proporcionar educação
continuada específica para os profissionais das áreas de educação e saúde sobre
deficiências intelectuais.
POR QUE APENAS AS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E NAO AS OUTRAS DEFICIÊNCIAS?
• Criar programas para capacitar
os quadros das administrações públicas das três esferas de governo para
interagir com pessoas com deficiência visual e auditiva mediante a participação
em cursos de libras e braile.
POR QUE SÓ VISUAL E AUDITIVA?
POR QUE SÓ VISUAL E AUDITIVA?
Outras propostas não contemplam
a transversalidade almejada pelo movimento de pessoas com deficiência, que
garantam a inclusão das pessoas com deficiência em todos os espaços da
sociedade.
• Incentivar a participação
efetiva de pessoas com deficiência na definição de políticas públicas para elas,
mediante conferências, fóruns e consultas.
POR QUE “PARA ELAS” E NÃO EM TODAS AS POLÍTICAS PÚBLICAS?
POR QUE “PARA ELAS” E NÃO EM TODAS AS POLÍTICAS PÚBLICAS?
• Instituir nos programas de
isenção fiscal a obrigatoriedade de que 10% do valor do patrocínio a eventos
culturais e esportivos seja destinado a ações inclusivas voltadas a pessoas com
deficiência.
AÇÕES VOLTADAS PARA NÃO SÃO INCLUSIVAS.
AÇÕES VOLTADAS PARA NÃO SÃO INCLUSIVAS.
• Reservar uma parte do Fundo
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumcad) para projetos que
beneficiem pessoas com deficiência.
NÃO É POSSÍVEL FAZER ISSO! DEVE
SER CRIADO UM FUNDO ESPECÍFICO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA.
Esperamos que, se eleita, a
candidata se cerque de especialistas e ativistas com deficiência que conheçam a
realidade brasileira e os maiores problemas do segmento. É preciso montar um
programa realmente eficaz, à luz da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, e colocá-lo em prática.
Leia o programa completo aqui:
**************
PASTOR EVERALDO – PROGRAMA
“ASSISTÊNCIA SOCIAL
PASTOR EVERALDO – PROGRAMA
“ASSISTÊNCIA SOCIAL
(III) criação de vales e
instrumentos afins para os portadores de necessidades especiais com o objetivo
de assegurar seu atendimento em clínicas privadas especializadas, garantindo
assim aos socialmente desprivilegiados com necessidades especiais o mesmo
tratamento de alto nível recebido pelos mais abastados;
(IV) criação de um amplo
programa de acessibilidade de portadores de necessidades especiais a espaços
públicos e privados.”
http://www.psc.org.br/pastor-everaldo/programa-de-governo#assistencia
*************
PASTOR EVERALDO – ANÁLISE DA
INCLUSIVE
O Pastor Everaldo aborda o tema
entra apenas como assistência social, referindo-se aos cidadãos com deficiência
como “socialmente desprivilegiados com necessidades especiais”, com proposta
assistencialista de criação de “vales” para atendimento de saúde, além de também
ter escorregado no portador de necessidade especial, terminologia ultrapassada.
*************
DILMA ROUSSEF – PROGRAMA
“A continuidade da implementação
do Viver sem Limite irá garantir igualdade de oportunidades aos brasileiros e
brasileiras com deficiência, com ações de acesso à educação, atenção à saúde,
inclusão social e acessibilidade.”
https://programadegoverno.dilma.com.br/wp-content/uploads/2014/07/Programa-de-Governo-Dilma-2014-RGB1.pdf
DILMA ROUSSEF – ANÁLISE DA
INCLUSIVE
Não há muito o que comentar
sobre o programa da candidata Dilma. Ele tem 42 páginas e apenas um parágrafo é
dedicado às pessoas com deficiência, no qual só afirma que dará continuidade ao
Plano Viver sem Limites. A candidata aceita constribuições para seu programa em
sua página, portanto, pode ser uma boa ideia colaborar para que os assuntos de
interesse das pessoas com deficiência não sejam esquecidos, caso Dilma seja
reeleita.
*************
LUCIANA GENRO – PROGRAMA
O programa de Luciana Genro fala
de Direitos Humanos en passant, mas não faz menção às pessoas com deficiência.
http://lucianagenro.com.br/programa/
**************
CONCLUSÃO FINAL DA INCLUSIVE
Apesar das propostas de todos os
programas examinados estarem muito aquém das reais necessidades dos brasileiros
com deficiência para o exercício de sua cidadania em igualdade de condições com
os demais, precisamos reconhecer que é um avanço em relação a pleitos
anteriores as pessoas com deficiência serem citadas em programas de governo, o
que denota que o segmento vem tomando espaço e se tornando visível.
Infelizmente, a impressão que
tivemos é que, com exceção do candidato Aécio Neves, todos os outros estão mal
ou muito mal assessorados a respeito da questão. Faltaram propostas básicas,
como acessibilidade nos transportes e garantia da inclusão escolar, com ênfase
na permanência e progresso dos estudantes. Não houve menção a assuntos
importantes como as residências inclusivas e a acessibilidade na comunicação
para as pessoas com deficiência intelectual. Para aqueles que precisam de
orientações, fica a dica – basta seguir os artigos da Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência um por um e tirá-los do papel. Não tem
mistério, nem erro. É isso que esperamos ver a eleita ou o eleito implementar.
Até porque, não custa lembrar, esses são direitos constitucionais.
Por Inclusive – Inclusão e Cidadania
http://www.inclusive.org.br/?p=26864
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
SÍNDROME DO X FRÁGIL - Doença esbarra no diagnóstico
Até os 8 anos de idade, Jorge era tratado pela mãe,
a empresária Sabrina Pizzato Muggiatti, como uma criança portadora de autismo.
Um diagnóstico novo, no entanto, revelou que o menino era, na verdade, portador
da chamada Síndrome do X Frágil (SXF). Também chamada Síndrome de Martie &
Bell, é uma doença genética e hereditária causada pela mutação de um gene no
cromossomo X e uma das síndromes cromossômicas mais comuns.
Sabrina conta que comparava o desenvolvimento de
Jorge com o da outra filha, mais velha, e via diferenças desde que o menino
tinha 10 meses de idade. “Levamos ele a um neurologista e apenas sabíamos que
ele tinha um atraso no aprendizado. Se tivéssemos mais informações sobre a
doença, poderíamos tê-la identificado mais cedo”, lamenta Sabrina.
Eu digo X
Mãe cria ONG para divulgar síndrome que é pouco conhecida
A empresária Sabrina Muggiatti, com a ajuda da irmã, montou o projeto
Eu Digo X, que se dispõe a divulgar a síndrome e dar apoio a familiares de
portadores. A ONG ganhou a simpatia do cantor sertanejo Daniel, que ajuda na
divulgação. “Como muitos brasileiros eu também não sabia da existência dessa
síndrome que pode ser confundida com outras deficiências, quando na verdade é
uma questão genética e uma deficiência especial. A aceitação e a procura por
ajuda são muito importantes no processo de tratamento e inclusão dos portadores
do X Frágil”, diz o cantor, que empresta sua imagem para campanhas de internet
e tevê. Daniel, que tem um irmão com paralisia cerebral, também é embaixador
das Apaes do Brasil.
Uma das principais lutas do projeto é pelo diagnóstico, que é
confirmado por dois exames laboratoriais: o PCR para X-Frágil, que identifica a
presença do gene em funcionamento no organismo, e o Southern Blot, que vê quem
é afetado pela doença. O primeiro teste é considerado barato e simples; já o
segundo é caro e feito em apenas dois lugares no Brasil. “Nos Estados Unidos, o
diagnóstico é feito já no Teste do Pezinho, quando a criança nasce. Queremos
que se faça uma lei para que aqui também seja feito assim, porque quanto mais
cedo é o diagnóstico, melhor a criança responde ao tratamento”, diz Sabrina.
A ONG Eu Digo X também capta recursos junto a empresas e dá suporte a
familiares com exames médicos e remédios, entre outras ações.
SAIBA MAIS
A Síndrome
do X Frágil é confundida com o autismo, mas ela apresenta sintomas específicos
em cada fase do desenvolvimento do portador. Conheça os sintomas principais:
- Deficiência Intelectual
- Dificuldade motora
- Orelhas, queixo e testa proeminentes
- Face alongada
- Palato alto
- Hiperextensabilidade de joelhos, mãos, punhos e
dedos
- Convulsões
- Comportamento similar ao autismo
- Repete informações ao falar e se confunde
facilmente
- Dificuldade de contato físico
Gene
A bióloga geneticista Ingrid Barbato, da Associação
Catarinense do X Frágil, fundada em 2001 para estudar e mapear a incidência da
síndrome no país, explica que a condição é causada pelo gene Fragile Mental
Retardation 1 (FMR1), que produz uma proteína que atua no sistema nervoso em
áreas como a coordenação motora, a habilidade para a matemática, a memória, o
comportamental e a cognição. “Existem casos da doença em que a pessoa é pouco
afetada intelectualmente, e os sintomas podem variar muito de caso para caso,
mas em geral, as pessoas com o X Frágil apresentam orelhas, queixo e testa
proeminentes e face alongada, além de uma elasticidade nos dedos das mãos”,
detalha.
Outros sintomas incluem convulsões e comportamento
similar ao do autismo, mas com algumas diferenças. “O portador faz contato visual
e é mais falante, no que difere do autismo. Mas também é tímido e passa por
momentos de irritação e tem problemas no aprendizado”, completa Sabrina. Depois
de diagnosticado, Jorge, hoje com 10 anos, faz tratamentos fonoaudiológicos e
psicomotores. Os medicamentos, por sua vez, o ajudam a lidar com a ansiedade, a
insônia e o nervosismo.
Síndrome não se manifesta para todos
Não há dados sobre a incidência da Síndrome de
Martie & Bell no Brasil. Estima-se que no mundo ela atinja uma em cada
quatro mil mulheres e um em cada oito mil homens, tornando-a uma das mais
recorrentes depois da Síndrome de Down, que afeta um em cada mil nascimentos.
Entretanto, a deficiência do gene pode ou não se
manifestar, e no caso de portadores não-manifestos da síndrome, os chamados
pré-mutados, a incidência pode ser ainda maior: uma em cada 280 mulheres
carregam o gene e não sabem. No caso dos homens, um a cada 800 pode ser
portador, de acordo com a geneticista Ingrid Barbato. “A doença pode se
manifestar geração sim, geração não, mas não há uma regra para isso.”
A manifestação da doença se dá pela quantidade de
repetições de CGG (citosina, guanina, guanina), uma sequência de bases
nitrogenadas no DNA. “As pessoas normais têm até 54 repetições de CGG e então a
sequência é interrompida por uma sequência AGG [com atimina no lugar da
citosina]. Quem tiver mais do que isso, até 200 repetições, é pré-mutado. E em
pessoas que têm mais do que isso, a síndrome se manifesta”, detalha Ingrid.
Mesmo assim, existem diagnósticos ligados à
síndrome em sua forma pré-mutada. A Insuficiência Ovariana Primária associada à
SXF (FXPOI) acomete 22% das mulheres que apresentam o gene pré-mutado e se
caracteriza por uma redução da fertilidade, menopausa precoce, disfunção
ovariana e irregularidade menstrual. Já nos homens, a Síndrome de Ataxia/tremor
associada à SXF (FXTAS) pode ocorrer em até 40% dos portadores do gene.
Trata-se de uma condição neurológica comumente confundida com Alzheimer ou mal
de Parkinson, que tem como principais sintomas uma perda gradual da cognição e
da memória, variação brusca de humor e problemas de equilíbrio, explica a
geneticista.
FONTE:
YURI AL’HANATI
http://www.gazetadopovo.com.br/saude/conteudo.phtml?tl=1&id=1495457&tit=Doenca-esbarra-no-diagnostico
Garoto doma autismo a cavalo e inicia carreira inédita nos Três Tambores
João Aoqui, de 11 anos, é o primeiro autista a
participar de competições no Brasil; garoto tem transtorno afetivo bipolar e
síndromes de Tourette e Asperger
DIAGNÓSTICO - EQUOTERAPIA - COMPETIÇÕES - MELHORAS - PRECONCEITOS
João Aoqui é o primeiro competidor com autismo a
disputar a prova dos Três Tambores no Brasil. Mas antes de entrar para a
história do esporte, o garoto de 11 anos teve de enfrentar barreiras
desagradáveis de transtornos e sofrimentos - pessoal e familiar -, superado
pelo trabalho, estudo e dedicação de uma equipe de equoterapia, que serão
contados nas linhas a seguir.
Equoterapia: o melhor dos remédios para amenizar o
sofrimento de João Aoqui
(Foto: Cleber Akamine)
DIAGNÓSTICO
O grito no amanhecer sinalizava o despertar de uma
criança transtornada. Um autismo provocado pelas síndromes de Tourette e
Asperger, mais um transtorno afetivo bipolar, causava reações físicas e
principalmente psíquicas desesperadoras na família Aoqui. Ele tinha apenas
cinco anos quando Adriana e Carlos Eduardo, mãe e pai de João, tiveram
conhecimento sobre o distúrbio.
Ele acordava pela manhã e gritava, chorava, dizia
que nós não o amávamos e que fugiria de casa. Tivemos que esconder as chaves em
alguns momentos. Tive que andar por duas horas com ele, "até o fim desta
rua", por causa da sua inquietação. Passamos por situações desesperadoras
- explicou a mãe que, desde então, passou a buscar soluções em diferentes
clínicas e consultórios. E foram inúmeras respostas.
Um médico recomendou uma espécie de "prisão
domiciliar" para evitar conflitos com outras pessoas. Outro chegou a
indicar uma internação em hospital psiquiátrico, mesmo este sendo apenas para
adultos. E todos receitavam remédios. À medida que eles eram aplicados, o
organismo de João, ainda em desenvolvimento e em fase de crescimento, começava
a responder negativamente. O fígado, órgão mais afetado, estava com os dias
contados.
- Ele não tinha outra saída. Era preciso parar com
a medicação pois o fígado estava sendo atacado - disse Adriana. Surgiu, então,
a indicação da equoterapia.
EQUOTERAPIA
Quando chegou ao haras pela primeira vez, em
novembro de 2013, João não tinha forças para subir no cavalo. As dificuldades,
do caminhar à concentração, eram enormes e dificultavam as primeiras
cavalgadas.
- Ele chegou muito debilitado, com dificuldades no
andar, sem forças na perna - contou a treinadora Francine Baldo, competidora
dos Três Tambores e equoterapeuta.
Francine Baldo, Adriana e Carlos Eduardo Aoqui acompanharam a aventura de
João na arena do Parque do Peão de Barretos
|
Após nove meses de treinos, João Aoqui cavalga
sozinho nas arenas
Aos poucos, aberto à nova experiência, João se
familiarizou com o cavalo, com as pistas, com esporte. A ansiedade baixou, o
comportamento melhorou e, em três meses de atividades, os resultados eram
perceptíveis aos olhos de quem pouco entendia do assunto.
- Ele
estava ficando em cima do cavalo sozinho. Mais do que isso, ele mudou
completamente a forma de se relacionar com as pessoas. O comportamento era
outro - comentou a mãe.
Além de cavalgar, Francine Baldo explicou que João
participa diretamente no trato do animal. Ele pega o cavalo na cocheira,
escova, dá banho e até ajuda na alimentação.
- Esse contato é ótimo porque as pessoas com
necessidades especiais costumam apresentar movimentos bruscos. Como o animal
exige essa calma, movimentos mais suaves, eles acabam trabalhando essa noção de
tempo e espaço. Isso melhora muito o comportamento - disse Francine, que citou
outros benefícios como equilíbrio e fortalecimento muscular.
COMPETIÇÕES
Nesta sexta-feira, João entrou pela primeira vez na
arena do Parque do Peão de Boiadeiro de Barretos, durante a 59ª edição do
rodeio mais tradicional do Brasil. Embora não existam registros oficiais em
outros países, João é considerado o primeiro autista a participar de uma
competição oficial.
- Nós pesquisamos em diversos países e não
encontramos resultados. O ingresso do João em competições é um sonho para mim.
Quero criar uma categoria dentro dos Três Tambores para pessoas com
necessidades especiais. Fico feliz com essa oportunidade dada a ele - comentou
Francine Baldo, que já havia acompanhado uma apresentação do João no Rodeio de
Americana.
MELHORAS
"A equoterapia nos devolveu uma vida". A
frase resume a sensação de alívio e o sentimento de uma mãe desesperada,
cansada de conviver com o sofrimento do filho. Ela jamais imaginara que um
tratamento como este traria um resultado positivo num curto espaço de tempo.
- Ele sofre bastante porque tem um sensibilidade
sensorial acima do normal. Ele tem dificuldades de interpretar um som, um
cheiro, um gosto. Tudo é exagerado e isso causa um transtorno muito grande. Só
que aos poucos ele foi melhorando. O principal sinal foi quando ele levou um
tapa de uma outra criança no parquinho de um restaurante e veio até a nossa
mesa, dizendo que apanhou. Em outra época, ele teria revidado. Isso é
gratificante - lembrou Adriana.
PRECONCEITOS
João ficou três anos sem frequentar uma escola.
Segundo a mãe, foram várias tentativas de colocá-lo em uma sala de aula - e
inúmeras negativas.
- As escolas não estão preparadas para receber
crianças com necessidades especiais e preferem pagar multas a receber uma.
Falei com pelo menos cinco e nenhuma delas o aceitou. O tratamento ajudou nesse
aspecto porque ele apresentou uma melhora de comportamento, facilitando esse
convívio, a aprendizagem, o relacionamento - explicou Adriana, que não esconde
o orgulho de vê-lo matriculado em uma escola.
João Aoqui treina duas vezes por semana em um haras
de Santa Bárbara D'Oeste (Foto: Cleber Akamine)
FONTE:
Fotos
Por Cleber Akamine
Barretos, SP
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
A culpa da mãe
Luana, de 21 anos, durante a gestação de SofiaEstar
grávida hoje em dia é um desafio e nunca foi tão estressante. A lista de coisas
que pode e não pode é enorme. A relação de fatores de risco pré-natal tem
invadido a mídia: gripe, antidepressivos, açúcar, gordura, café, sushi, gatos,
tipo de música, muito (ou pouco) exercício físico e até a idade das mães são
assuntos do momento. E se a futura mamãe ficar ansiosa ou estressada, ainda
terá que conviver com olhares de reprovação social.
Na história da medicina, não faltam exemplos
mostrando como experiências uterinas afetam os descendentes. Existe uma
verdadeira fixação e fascinação dos pesquisadores sobre o assunto. Faz sentido,
afinal durantes os 9 meses iniciais de nossa vida esse foi nosso único ambiente
e onde ocorrem etapas cruciais do desenvolvimento humano. Não existe nada de
errado nesse tipo de estudo, mas o foco demasiado em cima das mães chamou até a
atenção dos pesquisadores nessa área que decidiram dar um “toque” aos
jornalistas de ciência. Um editorial recém publicado na Nature, de autoria da
pesquisadora Sarah Richardson, chama a atenção para o problema. Abaixo eu
ressalto alguns dos exemplos citados e incluo outros, aproveitando para opinar
como cientista nesse assunto.
Ultimamente, diversos assuntos relacionados ao tema
têm destacado as alterações epigenéticas (análise de modificações hereditárias
no DNA que influenciam a atividade dos genes sem alterar a sequencia genética).
Essas alterações implicam riscos de obesidade, diabetes e resposta a estresse
durante o desenvolvimento das crianças.
Como o assunto é altamente complexo sob a
perspectiva molecular, e também multifatorial, a mídia tende a simplificar o
assunto, focando apenas no impacto materno. Manchetes como “Dieta materna
altera o DNA do feto” ou “Grávidas sobreviventes de desastres transmitem o
trauma para os filhos” são relativamente comuns de se achar em jornais e
revistas de grande circulação. Fatores como a contribuição paterna, a vida em
família e o ambiente social recebem muito menos atenção. Como consequência,
existe um sentimento de culpa e vigilância desnecessários em mulheres grávidas
e mães em geral.
Existem diversos exemplos de como a sociedade culpa
as mães por doenças dos filhos. Evidencias científicas de que o álcool em
excesso pode causar complicações e má formações durante a gestação levou à
recomendação de que mulheres grávidas evitassem a bebida. O consumo alcóolico
durante a gravidez foi estigmatizado e até criminalizado. Bares e restaurantes
são obrigados avisar que a bebida causa defeitos congênitos nos EUA, mesmo que
não existam evidências sugerindo qualquer problema com o consumo moderado.
Aliás, mulheres que bebiam moderadamente passaram a evitar o consumo durante a
gravidez, mas o número de crianças vítimas do abuso de álcool não diminuiu.
Como consequência, a visão da mulher grávida tomando um drink é hoje em dia
altamente condenável para a maioria das pessoas e faz com que agonizem a
gestação toda por um golinho ocasional.
Nos anos 80 e 90, o uso de crack criou uma histeria
midiática com os famigerados “filhos do crack” – crianças nascidas de mulheres
viciadas e que foram expostas à droga ainda no útero. Grávidas dependentes de
drogas perderam benefícios sociais, a guarda dos filhos e muitas acabaram na
prisão, a grande maioria negras e pobres, condenadas por expor fetos indefesos
à droga. Os filhos também sofreram, estigmatizados e condenados ao fracasso
social desde o nascimento. Hoje sabemos que a exposição do feto ao crack ou
cocaína é considerado tão nocivo quanto ao cigarro ou álcool em excesso. Mesmo
assim, apenas usuárias de drogas são condenadas criminalmente nos EUA.
Outro exemplo clássico de “culpa materna” é o
conceito de mãe-geladeira (uma metáfora que sugere o desapego e frieza
emocional), dando origem a crianças autistas nos anos 50-70. E não faz muito
tempo atrás que diversos livros médicos ainda atribuíam alterações mentais e
tendências criminais a uma postura materna, inclusive as amizades durante a
gestação, ignorando completamente as origens biológicas dessas condições e
diversos outros fatores ambientais. Suporte inadequado a mulheres grávidas e
afirmações pouco contextualizadas ainda hoje são encontradas em materiais
educacionais com boas intenções. Duvida? Veja no website montado pelo Imperial
College London que mostra um adolescente saindo da prisão e sugere que cuidados
pré-natais poderiam auxiliar no combate ao crime. Inacreditável, não?
Por isso que o foco materno das pesquisas
epigenéticas ainda lembra esse tipo de atitude do passado, colocando todo o
contexto social e diversos outros fatores em segundo plano. Outro erro comum
que ainda persiste é o de estabelecer causa e efeito. Novamente, estudos com
autismo são notórios por isso. Ao relacionar a incidência de autismo com
fatores externos (vacinas, morar perto de avenidas ou de antenas de celulares),
muitas reportagens não deixam claro que a conclusão é apenas correlacional e
evitam mencionar dados inconsistentes (por exemplo, a correlação estatística
desaparece se consideramos idades diferentes ou outra variável).
Para evitar que esse tipo de atitude continue,
tanto a mídia quanto os leitores teriam que ser mais críticos cientificamente.
Primeiro, evitando extrapolar estudos com camundongos para humanos. Segundo,
balanceando o papel tanto do pai quanto da mãe. Terceiro, demonstrando
complexidade no assunto ao mostrar que diversos fatores variáveis acontecem ao
mesmo tempo, sendo muitos desconhecidos. E por final, reconhecendo o papel da
sociedade, principalmente ao apontar soluções para o problema.
Os métodos e a tecnologia científica têm aumentado
consideravelmente em complexidade nos últimos dez anos. A tendência é que isso
seja exponencial, ou seja, cada vez mais difícil de se traduzir para uma
linguagem leiga e simples. Por isso mesmo, a sociedade tem que ser mais
crítica, exigindo melhores formas de comunicação científica da mídia e dos
próprios cientistas. Acho que isso vai auxiliar no entendimento das pesquisas,
sem apontar culpados ou restringir a liberdade das futuras mães.
* Foto: Luana Siqueira/Arquivo Pessoal
FONTE:
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/espiral/post/culpa-da-mae.html
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Cérebro de crianças autistas possuem sinapses demais, sugere estudo.
Lançando nova luz sobre o funcionamento do cérebro
no autismo, um novo estudo sugere que há um excesso de sinapses em pelo menos
algumas partes dos cérebros de crianças com autismo, e que a capacidade do
cérebro de reduzir o número dessas sinapses é comprometida.
O estudo, publicado na quinta-feira (21) na revista
“Neuron”, envolveu tecido dos cérebros de crianças e adolescentes que morreram
com idades entre 2 a 20 anos. Cerca da metade das crianças tinha autismo, as
outras não.
Os pesquisadores, do Centro Médico da Universidade
de Columbia, olharam atentamente para uma área do lobo temporal do cérebro
envolvido no comportamento social e na comunicação. Analisando o tecido de 20
dos cérebros, eles contaram os espinhos dendríticos nos neurônios e encontraram
mais espinhos nas crianças com autismo. Os espinhos se ramificam de um neurônio
e recebem sinais de outros neurônios por meio de conexões chamadas sinapses, de
modo que mais espinhos indicam mais sinapses.
No desenvolvimento saudável do cérebro, há uma
explosão de sinapses muito cedo e depois tem início um processo de “poda”
(diminuição das sinapses). Esse processo é necessário para assegurar que
diferentes áreas do cérebro possam desenvolver funções específicas e não fiquem
sobrecarregadas de estímulos.
A equipe de Columbia descobriu que nas idades mais
jovens, o número de espinhos não difere muito entre os dois grupos de crianças,
mas os adolescentes com autismo possuem significativamente mais espinhos que
aqueles sem autismo. Jovens saudáveis de 19 anos tinham 41% menos sinapses do que
crianças pequenas saudáveis, mas os autistas no final da adolescência
apresentavam apenas 16% menos do que as crianças pequenas com autismo.
Uma criança com autismo que tinha 3 anos quando
morreu tinha muito mais sinapses do que qualquer criança saudável de qualquer
idade, disse David Sulzer, um neurobiólogo e principal investigador do estudo.
Os especialistas disseram que o fato de as crianças
pequenas de ambos os grupos apresentarem aproximadamente o mesmo número de
sinapses sugere um problema de poda no autismo, não um problema de produção
excessiva.
“Mais não significa melhor quando se trata de
sinapses, e a poda é absolutamente essencial”, disse Lisa Boulanger, uma
bióloga molecular de Princeton, que não esteve envolvida na pesquisa. “Se fosse
um crescimento excessivo, a expectativa é de que elas seriam diferentes desde o
começo, mas como a diferença de sinapses ocorre posteriormente, trata-se
provavelmente da poda.”
A equipe de Sulzer também encontrou biomarcadores e
proteínas nos cérebros com autismo, refletindo mau funcionamento nos sistemas
de remoção de células velhas e degradadas, um processo chamado autofagia.
“Eles mostram que esses marcadores de autofagia
diminuem” nos cérebros afetados pelo autismo, disse Eric Klann, um professor de
ciência neural da Universidade de Nova York. “Sem a autofagia, essa poda não
pode ocorrer.”
As descobertas são as mais recentes em uma área da
pesquisa do autismo que está atraindo crescente interesse. Há anos os
cientistas debatem se o autismo é um problema de cérebros com conectividade
insuficiente ou excessiva, ou alguma combinação.
Ralph-Axel Müller, um neurocientista da Universidade
Estadual de San Diego, disse que há crescente evidência de conectividade
excessiva, inclusive a partir dos estudos de imagens do cérebro que ele
conduziu.
“As deficiências que vemos no autismo parecem
ocorrer em diferentes partes do cérebro, conversando demais umas com as
outras”, disse. “É preciso perder parte dessas conexões para um desenvolvimento
ajustado do sistema das redes cerebrais, porque se todas as partes do cérebro
conversarem com todas as partes do cérebro, só se obtém ruído, não
comunicação.”
Mais sinapses também criam oportunidade para ataques
epilépticos, porque há sinais elétricos em excesso sendo transmitidos no cérebro,
prosseguiu Klann. Mais de um terço das pessoas com autismo tem epilepsia,
segundo ele.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Fonte: UOL.com.br
Foto - Google.
sábado, 9 de agosto de 2014
AUTISMO: Na contramão: Nacional adota preços populares e se destaca por doações
Clube paraguaio dará renda de setor Norte do
Defensores a ONG de apoio a pessoas com autismo: "Somos pequenos. O êxito
econômico não nos interessa", diz dirigente.
Doação Nacional-PAR (Foto: Daniel Mundim)
Folder da final da Liberadores avisava que parte da renda seria doada à EPA
Foto: Divulgação)
|
Termine a equação: final histórica mais paixão da
torcida é igual a... ingressos caros. Ao menos é o que se espera da maioria dos
clubes brasileiros. Diante de suas limitações financeiras, o Nacional-PAR
poderia seguir o exemplo. O modesto clube paraguaio teve uma ótima oportunidade
para tentar arrecadar muito dinheiro. Mas não o fez. Não bastasse cobrar cerca
de R$ 42 pelos ingressos mais caros para o duelo com o San Lorenzo, o clube
doou parte da renda para uma ONG de apoio a pessoas com autismo.
Toda a arrecadação obtida com a venda de bilhetes
para a Galeria Norte, setor popular do Defensores del Chaco, foi destinada ao
grupo “Esperança para o Autismo”. Quem acompanhou a final contra o San Lorenzo
pôde ver uma grande bandeira com o agradecimento da ONG: “Gracias Nacional!!!
Esperanza Para el Autismo”. Mas não foi a primeira vez que o Nacional Querido
se destacou pela solidariedade. Desde o duelo contra o Independiente Santa Fé,
na última rodada da primeira fase, quando começou a atuar no Defensores del
Chaco, o Trico agracia instituições de caridade.
ONG de apoio a pessoas com autismo estende faixa
uma no estádio Defensores del Chaco em agradecimento à doação feita pelo
Nacional-PAR após a primeira partida da final da Taça Libertadores contra o San
Lorenzo (Foto: Daniel Mundim)
Doação Nacional-PAR (Foto: Daniel Mundim) |
Contra o time colombiano, a entrada na mesma
Galeria Norte foi realizada com alimentos não perecíveis, que foram destinados
a um albergue para 400 crianças. Nas oitavas de final, diante do Vélez
Sarsfield, a renda arrecadada no mesmo setor foi para a Fundação Asoleu, que
atende crianças com câncer. Nas quartas de final, a Fundação Pequeno Cottolengo
“Don Orione”, que cuida de pessoas com necessidades especiais, recebeu as
doações provenientes do duelo contra o Arsenal de Sarandí. Quando recebeu o
Defensor, já na semifinal, a instituição escolhida foi um asilo. Em cada jogo
da Libertadores, a quantidade doada foi de cerca de R$ 10 mil.
Doação Nacional-PAR (Foto: Daniel Mundim) |
Ingrid Mezgolits ficou surpresa com a atitude do
Nacional-PAR na decisão (Foto: Daniel Mundim)
Ingrid Mezgolits, coordenadora do grupo Esperança
para o Autismo (EPA), e torcedora do Cerro Porteño, recebeu com surpresa o
contato do Nacional. Espera uma doação de cerca de R$ 45 mil, referentes ao
setor Norte, que tiveram ingressos a R$ 10. Mas o resultado da atitude do clube
paraguaio não foi apenas o dinheiro. A exibição da faixa ampliou as fronteiras
da entidade, que atende cerca de mil pessoas com autismo e vive de doações,
eventos e venda de produtos próprios.
- Nos surpreendeu muito. Na semana passada, o
senhor Harrison, presidente do Nacional, avisou a um dos membros da EPA que as
doações seriam para nossa instituição. Sei que o Nacional faz isso sempre.
Nunca esperava, estou muita agradecida ao Nacional. Recebemos uma carta de
Buenos Aires, de um argentino pai de um filho que tem autismo nos dizendo que
se emocionou muito ao ver a bandeira na televisão. Disse que não compreendia
bem o que via, mas que se emocionou ao ver que a luta contra o autismo está
aqui. Depois recebemos uma mensagem do Peru, que também viu a bandeira no
estádio.
“No momento, o êxito econômico não nos
interessa”
Em tempos de profissionalismo, a postura do clube
paraguaio chama a atenção. O Nacional-PAR arrecadou cerca de R$ 500 mil – 1,078
bilhão de guaranis –, muito menos dos mais de R$ 14 milhões ganhados pelo
Atlético-MG na final da Libertadores do ano passado. Entretanto, a presença
inédita na decisão não mudou a política do Querido, que, ao menos por enquanto,
não pensa em fazer lucro, mas sim, ver o estádio cheio para se fortalecer como
mandante.
- Somos um time pequeno. No momento, o êxito
econômico não nos interessa. Tem que ter êxito esportivo, não se pode fazer as
duas coisas na nossa situação. Ou tentamos lucrar, ou temos estádio cheio. Para
nós, ser forte localmente é o ideal. Se ganhar fora, é bom, mas em casa é
melhor. Por isso os ingressos baratos. A partir daí veio a ideia das doações,
que partiu do presidente Robert Harrisson. O futebol está ligado à sociedade,
sobretudo com os que menos têm, os mais humildes. O Nacional quer esse caminho
do futebol, um esporte que move muito dinheiro e pode ajudar as pessoas que
necessitam – declarou Enrique Sánchez, dirigente titular do clube.
ONG "Esperança para o autismo" foi a escolhida para receber a
doação da final da Libertadores (Foto: Divulgação)
|
Os preços cobrados pelo Nacional para a final
variavam de R$ 10 a R$ 42. Bem menor do que os valores praticados pelo rival
Olimpia na decisão do ano passado, que foram de R$ 64 a R$ 215. Se comparado
com o Atlético-MG, a diferença é ainda mais gritante. O Galo cobrou de R$ 100 a
R$ 500 na final da Libertadores do ano passado. Cobrar alto nunca esteve nos
planos da Academia paraguaia, que contava com o estádio cheio.
- Somos de um bairro populoso que tem uma gente sem
muitos meios, de classe média baixa. Obviamente, se cobrássemos preços altos,
não iria ninguém. Nós queríamos o estádio repleto. É uma loucura uma final de
Libertadores com ingressos a U$ 5, a U$ 15. Mas estamos na história com essa
final. Depois de fazer história, o Nacional vai buscar o lucro. Seria triste
chegar aqui e ver o estádio vazio – completa Enrique.
A entrega de parte da renda para a EPA deve ocorrer
na próxima semana. A ideia do Nacional-PAR é continuar com a prática,
especialmente quando atuar no Defensores del Chaco. O grande lucro com o apelo
de uma partida decisiva ainda não veio. Mas a popularidade e o respeito dos
torcedores, até mesmo dos rivais, sim.
FONTE:
Por Daniel Mundim
http://globoesporte.globo.com/futebol/libertadores/noticia/2014/08/na-contramao-nacional-adota-precos-populares-e-se-destaca-por-doacoes.html
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
LIVRO: A batalha do autismo – Da clínica à política
ABAIXO DA CRÍTICA
Resenha do livro ‘A batalha do autismo’, publicada na CH (Ciência Hoje),
aponta interesses explícitos do texto, pouco conteúdo de base científica e
desatualização de dados sobre o transtorno.
Por: Francisco Assumpção
Escrito pelo psicanalista francês Éric Laurent, este
livro se propõe a oferecer um painel dos debates referentes ao autismo, bem
como a desmistificar a burocracia sanitária, possibilitando perspectivas ao
tratamento das pessoas autistas. Sua leitura é, a princípio, extremamente
interessante, como o é a leitura de qualquer panfleto, considerado pelo
dicionário Aurélio como um escrito satírico ou violento, geralmente político.
Assim, já como ponto de partida, não se pode considerá-lo um livro científico.
Apesar disso, podemos dividi-lo em duas partes bastante distintas.
O livro se
propõe a oferecer um painel dos debates referentes ao autismo
Uma delas, composta pelo prólogo, pelos três
capítulos da parte dois, pela conclusão e pela própria introdução ao leitor
brasileiro, consiste em um libelo que, no país, tem um endereço específico: a
determinação da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, exigindo o
diagnóstico a partir de avaliação neurológica e/ou psiquiátrica, e atendimento
multiprofissional, a partir de abordagens em linguagem pragmática e em técnicas
cognitivo-comportamentais, fatos tidos como inadmissíveis por toda uma gama de
profissionais, embora tenham aceitação internacional.
Trata-se assim de mera discussão e defesa sobre
mercado de trabalho, ainda que tente se justificar sob a égide de uma visão
democrática e (como era de se esperar nesta pós-modernidade) politicamente
correta.
Para tal justificativa, alguns argumentos, que devem
ser pensados, são utilizados. Citando o livro Imposturas intelectuais, de Alan
Sokal e Jean Bricmont (Record, 1991), podemos observar uma confusão entre o
sentido corriqueiro e o técnico das palavras, bem como em ambiguidades que são
frequentes em todo o texto.
Capa do livro Autismo
Um bom exemplo encontra-se logo
ao se iniciar a segunda parte, quando se destaca que a medicina baseada em
evidências “recusa as coortes de caso com seu acompanhamento”, esquecendo-se
que estudos de coorte, muito utilizados em epidemiologia, correspondem a “se partir
de um fator de exposição (causa) para se descrever a incidência e analisar
associações entre causas e doenças. Fornece assim excelentes informações sobre
as causas de uma doença, embora apresente alto custo e demande longo período de
tempo, podendo ser confundido com estudos de caso-controle”.
O que realmente não se diz é que estudos de coorte
não correspondem a meros estudos de caso, realizados de maneira descritiva e
anedótica, como muitos são descritos no decorrer da obra. Da mesma maneira,
inúmeras outras afirmações são feitas desconsiderando o significado técnico, o
que ocasiona erros de interpretação e, principalmente, afeta a credibilidade da
obra.
A segunda parte, um pouco mais séria, trata a
questão do autismo sob uma ótica extremamente específica, lacaniana, que, no
dizer de Catherine Meyer, em O livro negro da psicanálise (Civilização
Brasileira, 2011), reflete a décalage [descompasso] entre a hegemonia da
psicanálise na França e seu declínio no restante do mundo, frisando que somente
Brasil e Argentina acompanham esse movimento conservador.
Teorias especulativas
Considerando essa parte teórica, as mesmas críticas
me parecem procedentes, uma vez que teorias especulativas são apresentadas como
ciência estabelecida – mesmo se não considerarmos as que Sokal e Bricmont
apontam exaustivamente quando se referem à utilização que Jacques Lacan faz de
palavras como ‘topologia’ ou ‘toro’, procurando dar uma aparência matemática
(enquanto “ciência pesada”) para analogias arbitrárias.
Assim, considerando-se o tema, autismo, antes de
lançarmos generalizações teóricas (e, neste caso, a partir de pouquíssimos
casos relatados), seria interessante que nos debruçássemos sobre dados
empíricos (bastante desvalorizados pelos intelectuais pós-modernos) para checar
a procedência de determinadas afirmações.
Mulher autista
Os métodos terapêuticos do autismo devem se basear em testes empíricos e
na análise dos resultados obtidos em diferentes locais e ambientes.
(foto: guenter m. kirchweger/ Freeimages)
|
Talvez isso esteja presente porque, sob determinadas
condições (e a defesa de mercado é uma delas), o mundo real dificilmente
importa (e, neste caso, os indivíduos autistas), embora o objetivo básico a ser
buscado deva ser o desenvolvimento de estratégias eficientes para a verificação
dos fatos, usando-se para isso bases de dados universalizadas, que permitam a
escolha dos melhores e mais eficazes projetos terapêuticos. Principalmente se pensamos
em saúde pública, a qual deve maximizar os benefícios para a maior parcela da
população atendida, considerando-se os exíguos recursos a ela destinados.
O objetivo básico a ser buscado deve ser o
desenvolvimento de estratégias eficientes para a verificação dos fatos,
usando-se para isso bases de dados universalizadas,
que permitam a escolha dos
melhores e mais eficazes projetos terapêuticos.
Deve-se, portanto, ‘checar’ a eficácia dos métodos
terapêuticos propostos não a partir de modelos teóricos, embasados na
autoridade de quem fala, mas sim a partir de testes empíricos e da análise dos
resultados obtidos em diferentes locais e ambientes.
A nada disso o presente livro se propõe. Resta-nos
então lê-lo por aquilo que de fato é: um texto com interesses explícitos, pouco
conteúdo de base científica e totalmente desatualizado em relação ao que se
pensa sobre autismo, no mundo, hoje.
Para quem ainda não acredita, sugiro a leitura do
número de janeiro de 2014 da Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North
America, que traz artigos recentes e documentados sobre o manuseio agudo dos
‘transtornos do espectro do autismo’. Independentemente da crença ou das falhas
(indubitáveis) presentes no DSM 5 (Dicionário de Saúde Mental, da Associação
Americana de Psiquiatria), utilizado pela publicação, é, ao menos, uma
informação atual e razoavelmente embasada.
FONTE:
Francisco Assumpção
Instituto de Psicologia
Universidade de São Paulo
Publicado em 07/08/2014 | Atualizado em 07/08/2014
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2014/316/abaixo-da-critica
Assinar:
Postagens (Atom)